sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

# férias


À sombra da mangueira imortal, despedimo-nos para entrar em férias, na expectativa particular de que 2009 seja tão bom e tão feliz como foi este ano que já finda, e, o mais importante, na imortal esperança de que seja finalmente a oportunidade de nossa sociedade pensar-se, conscientizar-se e reformular-se, no sentido dela se distanciar do individualismo, do materialismo, do egocentrismo e da acumulação personalíssima -- puros reflexos do que essa zorra pós-moderna diz ser válido e que a (quase) todos contamina --, para então fazer valer os melhores e mais justos preceitos invocados pelos maiores dogmas e ensinamentos cristãos, assentes no coletivismo, numa vida igual e digna para todos, sem lixo e sem luxo, com a maximização da justiça econômica e social.

Feliz Natal!
viva Cristo!

# o farol faoro

fddAlguns cidadãos de plantão insistem em propagar (e generalizar) que o debate a envolver "esquerda" e "direita" mostra-se inútil e descartável. Trata-se de contagiante estupidez bovina, daquelas que verte baba.
fddFiquemos, brevemente, com Raymundo Faoro, um dos maiores intelectuais brasileiros da história e autor de uma das nossas capitais obras -- "Os Donos do Poder" (1958) --, que, no recém-lançado "A Democracia Traída" (v. aqui), disse ser tal contraposição -- e, já, uma necessária tomada de posição... -- inevitável e imprescindível no Brasil, diferente do que se passa na Europa, onde, no centro, talvez se possa dispensar a sua validade e pertinência. Por quê?
fddd- “Porque democracia significa igualdade e distribuição de renda. O papel na Europa é proporcionar emprego, o resto está praticamente resolvido. Para nós, no entanto, o problema ainda é outro. O debate sobre esquerda e direita aqui é pertinente”.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

# oligopólios golpistas e grotescos


fds Como lição que deve ser disseminada pelo resto do país -- e, especificamente, em cada uma das "regionais" que monopolizam informações, manipulam os fatos e pervertem o interesse público --, o Ministério Público Federal (MPF) de Santa Catarina ingressou, no último dia 10 de dezembro, com uma ação civil pública contra o oligopólio da empresa "Rede Brasil Sul" (RBS), formado no dois Estados mais ao sul do Brasil.
fd sEntre outras providências, o MPF requer (i) a diminuição do número de emissoras da empresa em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, a fim de se adequar ao que exige a lei, e (ii) a anulação da compra do jornal "A Notícia", de Joinville, que resultou no virtual monopólio da empresa em jornais de relevância no Estado de Santa Catarina, e que foi mal admitida e analisada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), do Governo Federal.
fds Assim, finalmente se discutirá essa questão do oligopólio -- embora no caso da RBS seja uma posição praticamente monopolista -- à luz da lei que regula a ordem econômica.
fds Esses grupos midiáticos -- e, repita-se, em suas várias facetas regionais --, comandados por famílias e com base em conceitos e operações quase mafiosas -- lembre-se que, conforme a lei, a emissora de rádio ou TV deve estar em nome de "pessoa física", não de "pessoa jurídica", e cada pessoa só pode ter duas por Estado... --, são verdadeiros escândalos em matéria de desregulação e desregramento (e desfaçatez, despudor, desinteresse público etc.), num laissez-faire da pior espécie que os permitem (quase) controlar diretamente as respectivas populações -- em suas vontades, idéias e dogmas -- e, indiretamente, o próprio Estado, tão claro é o temor estatal em enfrentá-los e puni-los.
fds A concessão dos serviços de radiodifusão precisa ser energicamente fiscalizada e deixar de ser um mero mimo político, que tão-somente beneficia as nossas elites burguesa e política. Se não traz utilidade pública, pune, suspende e caça, como faz anualmente os EUA -- que, em média, cancela a concessão de 50 canais de rádio ou televisão por ano -- ou como fez a Venezuela, não renovando a concessão dada ao maior grupo de comunicações do país, o qual, logo após a vitória de Hugo Chávez nas eleições presidenciais, promoveu a tentativa, quase exitosa, de golpe de Estado, em conjunto com a burguesia nacional e os EUA.
fds Enfim, trata-se de uma ação imprescindivel e urgente, à medida que o Brasil precisa definitivamente acabar com essas espúrias concentrações de mercado e, principalmente, de poder -- o já notório quarto poder --, instaladas há aproximadamente quinhentos anos, que emburrece, chantageia e não deixa o nosso povo ser verdadeiramente livre.

 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

# aspas (v)


Da (séria e ridiculamente) hilária cena dos sapatos ocorrida no Iraque, José Saramago traz em seu caderno virtual (v. aqui) uma conclusiva lição sobre o fato e seus protagonistas:
 
"O riso é imediato. Ver o presidente dos Estados Unidos a encolher-se atrás do microfone enquanto um sapato voa sobre a sua cabeça é um excelente exercício para os músculos da cara que comandam a gargalhada. Este homem, famoso pela sua abissal ignorância e pelos seus contínuos dislates linguísticos, fez-nos rir muitas vezes durante os últimos oito anos. Este homem, também famoso por outras razões menos atractivas, paranoico contumaz, deu-nos mil motivos para que o detestássemos, a ele e aos seus acólitos, cúmplices na falsidade e na intriga, mentes pervertidas que fizeram da política internacional uma farsa trágica e da simples dignidade o melhor alvo da irrisão absoluta. Em verdade, o mundo, apesar do desolador espectáculo que nos oferece todos os dias, não merecia um Bush. Tivemo-lo, sofrêmo-lo, a um ponto tal que a vitória de Barack Obama terá sido considerada por muita gente como uma espécie de justiça divina. Tardia como em geral a justiça o é, mas definitiva. Afinal, não era assim, faltava-nos o golpe final, faltavam-nos ainda aqueles sapatos que um jornalista da televisão iraquiana lançou à mentirosa e descarada fachada que tinha na sua frente e que podem ser entendidos de duas formas: ou que esses sapatos deveriam ter uns pés dentro e o alvo do golpe ser aquela parte arredondada do corpo onde as costas mudam de nome, ou então que Mutazem al Kaidi (fique o seu nome para a posteridade) terá encontrado a maneira mais contundente e eficaz de expressar o seu desprezo. Pelo ridículo. Um par de pontapés também não estaria mal, mas o ridículo é para sempre. Voto no ridículo."

 



terça-feira, 16 de dezembro de 2008

# sem agá

fdsE um amigo sugere-me para alterar a maneira pela qual coloco uma das palavras do título da seção "e assim caminha a humanidade", para assim representar com mais fidelidade o que essa cancerígena parte da humanidade representa, faz, diz e (?) "pensa".

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

# e assim caminha a humanidade (viii)


dfdsEnquanto isso, na sede do Conselho Federal da OAB, nasce e germina a última exuberante (e espúria) idéia da máfia que defende os crimes de colarinho branco -- os crimes das elites burguesa e política nacionais e transnacionais -- e que se traveste (e se associa, e se desbunda) nos advogados de plantão: uma Proposta de Súmula Vinculante (PSV 1), ajuizada no STF e que já estará em julgamento, no Plenário da Corte, na sessão ordinária desta quarta-feira. Eis o texto da súmula que, se aprovada, passa a ter força normativa (ou seja, vira "lei"...):
dds - “O advogado constituído pelo investigado, ressalvadas as diligências em andamento, tem o direito de examinar os autos do inquérito policial, ainda que estes tramitem sob sigilo”.
fddsEm suma, essa "lei" significará, na prática, que as Polícias e os Ministérios Públicos não mais conseguirão investigar, eficientemente, ningúem -- salvo, claro, pobres, pretos e prostitutas, que não podem ter advogados previamente contratados e constituídos... --, para delírio da parte vendida e corrompida da branca elite tupiniquim e tudo com falsos e mendazes ares de se tutelar os "direitos humanos" (sic) e a "democracia" (sic).
fddsSem maiores delongas, imagino-me indo à proa do Titanic, com suspensórios e cabelos ao vento, a subir no seu ponto mais alto e a libertar a plenos pulmões, no deslumbramento, para o mundo todo ouvir: "É o fim da feiraaaaaa!!!!".


 

domingo, 14 de dezembro de 2008

# o golpe no chile: uma trilogia única


Simplesmente espetacular, emocionante e arrepiante.

Neste final de semana concentrei-me em ficar mais de 7 horas à frente da tv para, enfim, assistir ao documentário tido por muitos -- e, doravante, por mim também -- como um dos melhores documentários políticos já realizados: "A Batalha do Chile", de Patrício Guzmán, concluído em 1979 após quase 10 anos de meticuloso trabalho.

Trata-se de um registro impecável, com uma análise absurdamente próxima e completa do que foram os quase 3 anos do governo de Salvador Allende como presidente do Chile, eleito pelo povo após a união de toda a esquerda chilena -- era a "Unidade Popular", com os partidos socialista e comunista, entre outros -- e que se traduziu no primeiro país do mundo a caminhar ao socialismo pela via democrática, já aqui entendida em sua mais ampla acepção -- e não apenas no "sufrágio universal" --, vez que atende aos verdadeiros interesses público e do povo, a exemplo do que hoje já acontece na Venezuela, na Bolívia, no Equador e, no prélio, no Paraguai.

Allende, com lealdade à Constituição e, maiormente, inteligência, amor, coragem e vontade, levou o Chile a transformações jamais vista em um país sul-americano, a cuidar de temas e problemas difíceis e complexos pelos quais todo o povo -- salvo as elites burguesa e política, claro... -- esperava já há 500 anos, adotando medidas inéditas para o lado de cá abaixo do Equador, em especial ligadas às nacionalizações dos recursos naturais (em especial o cobre), ao apoio irrestrito (mas, claro, condicional) ao processo de construção do "poder popular", com as ocupações de fábricas e latifúndios, e à construção da participação direta através de assembléias locais e regionais.

Porém, a insurreição da burguesia nacional e do capitalismo estadunidense -- raivosos desde a vitória de Allende nas urnas, em 1970 -- com múltiplas e cruéis ações de sabotagem, lideradas financeiramente pela CIA, politicamente pela mídia e postas em prática por um Congresso Nacional que tinha maioria conservadora e da direita, conseguiu, não obstante o esforço das classes populares, literalmente paralisar o Estado, levando ao Golpe Militar e à morte de Salvador Allende (v. aqui, como lembrança aos 35 anos da sua morte). Em suma, tudo muito parecido com o que aconteceu por aqui, no Golpe Militar de 64, com exceção ao fato de que João Goulart, ao contrário do que Allende fez e do que Leonel Brizola queria fazer, não resistiu e se acovardou.

Sobre o filme, especificamente, o cineasta foi além dos temas espetaculares, filmando desde assembléias de fábricas, passando por trabalhadores do campo, moradores de bairros construindo um abastecimento alternativo, até militantes de direita, as manifestações da burguesia nacional e os projetos de intervenção articulados pelos EUA. Mostra, enfim, a luta de um homem e de um povo para se livrar das amarras históricas e selvagens que, com toda a injustiça, relegavam à pobreza e à miséria toda uma explorada população, em espúrio privilégio de uma elite burguesa burra, arrogante e reacionária.

São 3 partes: o "Poder Popular", a "Insurreição da Burguesia" e o "Golpe de Estado", além de uma quarta parte, repleta de especiais, inclusive com um mini-documentário, de 1 hora, sobre as últimas horas de Salvador Allende dentro do Palácio de La Moneda (aqui um trailer).

E, como prévia, ouça, aqui, o último e arrepiante discurso de Allende, feito à "Rádio Magallanes", de Santiago do Chile, concomitante aos bombardeios e minutos antes da invasão promovidos pelos militares em nome da burguesia nacional e do capitalismo estadunidense. Outrossim, transcrevo-o aqui, para uma leitura reflexiva e contagiante que muito vale:fd

“Seguramente ésta es la última oportunidad en que me pueda dirigir a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de radio Portales y radio Corporación.
Mis palabras no tienen amargura, sino decepción, y serán ellas el castigo moral para los que han traicionado el juramento que hicieron... soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino que se ha auto designado, más el señor Mendoza, general rastrero... que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al gobierno, también se ha nominado director general de Carabineros.
Ante estos hechos, sólo me cabe decirle a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar!
Colocado en un trance histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que entregáramos a la conciencia digna de miles y miles de chilenos no podrá ser segada definitivamente.
Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen... ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.
Trabajadores de mi patria: Quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley y así lo hizo.
En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes, quiero que aprovechen la lección.
El capital foráneo, el imperialismo, unido a la reacción, creó el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara Schneider y que reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas, esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir
defendiendo sus granjerías y sus privilegios.
Me dirijo, sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros; a la obrera que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños.
Me dirijo a los profesionales de la patria, a los profesionales patriotas, a los que hace días estuvieron trabajando contra la sedición auspiciada por los colegios profesionales, colegios de clase para defender también las ventajas que una sociedad capitalista da a unos pocos.
Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron, entregaron su alegría y su espíritu de lucha.
Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos... porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente en los atentados terroristas,
volando los puentes, cortando la línea férrea, destruyendo los oleoductos y los gasoductos, frente al silencio de los que tenían la obligación de proceder: estaban comprometidos. La historia los juzgará.
Seguramente radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz no llegará a ustedes. No importa, lo seguirán oyendo.
Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos, mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal a la lealtad de los trabajadores. El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.
Trabajadores de mi patria: tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo, donde la traición, pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.
¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!

Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, habrá una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición”.

# nota remissiva

fdsNovamente, haja vista os inúmeros textos que escrevemos sobre "a crise", em (quase) todos os tempos verbais possíveis, alguns amigos pedem para eu remeter às nossas breves e modestíssimas considerações inaugurais sobre essa presente crise do capitalismo financeiro -- co-nódoa do modelo neoliberal de sociedade e de (?) Estado --, as quais procuraram nortear toda essa a zorra de conceitos, redes e sistemas que por aí aparecem para explicar o que ocorreu.
fdsPortanto, v. aqui, as nossas notas iniciais sobre esse monstro, esposadas ainda nos primeiros dias de outubro deste já findo ano, abordagem que, todavia, certamente não foi tão didática quanto essa criativa explicação que correu o mundo:
ds
"O Seu Zé tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça 'na caderneta' aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados.
Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do Seu Zé, um ousado administrador formado em curso de 'emibiêi', decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços como garantia.
Alguns 'executivos' de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do Seu Zé).
Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países. Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do Seu Zé vai à falência.
E toda a cadeia desmorona.''

# diariamente imortal

Duas noites nada mais são do que, simplesmente, duas noites. Não sempre.
Para mim, como sempre preferi essa eternidade genuinamente relacionada com a imortalidade, estas duas longas noites de sexta e sábado, distante da mulher amada e a sós, parecem ser triste e absolutamente eternas. Por isso, quis que o infinito não terminasse amanhã, mas num impossível ontem, ainda que sem a idílica expectativa da eterna imortalidade.
Sim, já me vejo dependente da mortalidade do presente diário.

sábado, 13 de dezembro de 2008

# infernos fiscais


fdsO (quase) caos provocado pela internacionalização e pela liberdade sem limites do capital financeiro aponta outra incongruência destes tempos pós-modernos.
fdsÉ a existência incólume (e, fingem, despercebida) dos "infernos fiscais" -- hipocritamente chamados de paraísos... --, ou seja, ridículos países-colônias que, além de obscenas vantagens tributárias, existem com o maior objetivo de oferecer um padrão de sigilo e de desregulamentação que facilita, favorece e fomenta práticas de ocultação de patrimônio e que permite limpar o dinheiro para outros centros, sob a tutela (e a conveniência) das suas quase "metrópoles".
fdsEssa movimentação "deslavada" -- com o perdão do trocadilho... --, que existe para que os mais ricos possam escapar às suas obrigações fiscais (e sociais) e para que as grandes empresas possam realizar tantas e ilegais operações que escondam os seus lucros, exige novas regras, pois se mostra gravíssima a presente realidade que, medusicamente, atrai e estimula o fluxo de capitais por tais espaços de impunidade, grandes agentes de fraudes e verdadeiros "buracos negros" do capitalismo pós-moderno.
fdsEnfim, já chega a inadiável hora das organizações internacionais -- como a OCDE, a UNCTAD, a ECOSOC e mesmo a OMC -- intervirem nesses "Estados-lavanderias" e proibirem as vigentes regras de absoluto sigilo fiscal-financeiro que ilegítima e imoralmente beneficiam bandidos físicos e jurídicos, a fim de, doravante, extirpar estes antros do pecado e da maldade -- atributos infernais, e não paradisíacos -- e permitir a mínima segurança institucional ao nosso planeta.


 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

# o futuro do presente da crise (ou, "rumos e verdades - III")

fdsPregava Margaret Tatcher -- a primeira-ministra britânica dos anos 80/90 que simbolizou a efetivação prática do neoliberalismo, depois seguida por tantos outros comandantes nacionais, inclusive FHC --, para justificar o modelo neoliberal de (?) "Estado": "There is no alternative!", e a frase tornou-se célebre. Tão célebre, e tanto quanto nefando, foi também a idéia de Francis Fukuyama -- ideólogo de outro governo propulsor do neoliberalismo, o Governo Reagan, nos EUA -- que propagava, depois de 1989, estarmos diante do "Fim da História". Duas concepções de uma (ir)realidade mundanal que hoje evidenciam-se inconcebíveis.
fdsPor quê? Ora, o capitalismo, para além das suas tantas crueldades e mentiras, mostrou-se incapaz de ser gerido nos moldes vigentes, a desprezar o Estado -- já especificamente em sua vertente econômica -- e a sociedade -- na sua mais crua acepção, ligada ao ser humano e ao meio ambiente.
fdsE, em suma, foi isso que este seminário internacional -- "Crise: Rumos e Verdades" -- promovido pelo Governador Roberto Requião procurou (e, explicitamente, conseguiu) demonstrar, ainda que sob um viés quase exclusivamente econômico: este sórdido modelo de sociedade e de (?) "Estado" não poderá se manter, a levar a cabo toda essa montagem social (e política, e econômica) que se finca tão-somente numa ética hedonista que privilegia o individualismo, o consumismo e o materialismo.
fdsE é por isso que hay camino: um caminho alternativo que dará um novo e feliz final à história.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

# aspas (iv)



No excelente seminário internacional "Crise - Rumos & Verdades" promovido pelo Governo do Estado do Paraná, o economista Carlos Lessa assim concluiu o seu discurso no encerramento do encontro, a centrar no povo brasileiro as justificativas pelo seu otimismo a respeito dos rumos futuros do nosso país:
 "[O] povo, o povão brasileiro, é absolutamente admirável, por uma única e definitiva razão: consegue sobreviver à elite brasileira, a qual nunca tomou conhecimento de suas necessidades".   


# antifahrenheit 451 (v)


fdsÉ óbvio que a renovada política fiscal a viger no Estado do Paraná, e que ora tramita para aprovação final na Assembléia Legislativa, também visa a aumentar a arrecadação.
fdsPorém, também é tão óbvio -- mas isso a podre imprensa golpista, em particular a nativa, faz questão de não lembrar -- que o ajuste tributário promovido acarretará uma maior contribuição por parte daqueles mais ganham, ou seja, o rico passará a pagar proporcionalmente mais que os pobres, na medida em que serão consideravelmente diminuídas as alíquotas sobre os "bens-salários" -- aproximadamente 95 mil itens de consumo popular, isto é, será bastante reduzido o preço final daqueles bens básicos e fundamentais que são adquiridos pelos trabalhadores e aposentados das classes C, D e E com o seu salário (alimentos, vestuário, produtos de higiene e medicamentos, fundamentalmente) -- e aumentadas as alíquotoas de energia elétrica (embora continue a ser a mais barata do Brasil), gasolina, bebidas alcoólicas, fumo e comunicações.
fdsEm suma, o Estado quer sim arrecadar mais. Entretanto, doravante, passará a cobrar e a recolher mais, justa e proporcionalmente, sobre o que (e quanto) produz, usa, gasta e consome os ricos, e não os pobres -- pois sobre aqueles o aumento tem maior impacto --, como deve fazer qualquer sociedade que se preze -- a propósito, o IPEA, em última pesquisa, revela que os 10% mais pobres do país comprometem 44,5% da renda com pagamento de tributos, enquanto os 10% mais ricos pagam apenas 23% (v. aqui).
fdrg
Em tempo: todo o clamor do empresariado nacional -- basta lembra da passeata patrocinada pela FIEP e pela Daslu, em São Paulo -- que exigiu (e conseguiu) a extinção da CPMF, resultou em quê? Alguém viu o preço dos produtos baixarem por conta do fim deste tributo? Ou simplesmente, ao invés de engrossar a conta do Estado (e da sociedade), foi transferido para o lucro empresarial? Ou, pior, significou uma maior rentabilidade para os negócios dos especuladores e dos operadores do mercado financeiro, deixando de ser uma eficiente e hábil ferramenta estatal de rastreamento e controle de lucros ou operações ilícitas, como a lavagem de capitais?



quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

# o futuro do presente da crise (ou, "rumos e verdades - II")



Questiona-me um grande amigo quais seriam os rumos e as verdades dessa grande crise provocada pelo malfadado projeto neoliberal de (?) "Estado". Sobre as "verdades", já dissemos -- aqui e alhures, tantas vezes e das formas mais variadas; e, sobre os "rumos" -- e já após 3 dias de profícuos e profundos debates, com as mais diversas exposições de cientistas e políticos dos mais diversos cantos do mundo --, algumas conclusivas certezas já se mostram óbvias e imprescindíveis para orientar o Brasil:
  • a total dependência e subordinação do Banco Central ao Estado, com políticas que busquem a regulamentação dos fluxos financeiros e a centralização no controle de câmbio;
  • a estatização, ao menos temporária, de parte do sistema financeiro nacional, e a diminuição da taxa básica de juros, a fim de diminuir o déficit público;
  • a efetivação de novos marcos jurídicos e econômicos para as agências regulatórias, mais condizentes à nova realidade nacional e mundial, que passa a exigir um Estado interventor (keynesiano), e não mais um Estado mínimo, assente em políticas neoliberais que conveniente e fantasiosamente organizaram o funcionamento de tais agências;
  • a manutenção da carga tributária, mas com a modificação na sua metodologia contributiva, de modo a cobrar e recolher mais dos ricos e acabar com o nefasto modelo atual, que mostra uma total desproporção e um malogrado desequilíbrio de contribuição entre as classses pobres e ricas -- como, por sinal, já faz o Estado do Paraná (entre outros exemplos, v. aqui) --, da seguinte forma: (i) ampliando o número de faixas de tributação do imposto de renda -- pondo fim a grotesca forma de 2 faixas de tributação --; (ii) tributando progressiva e regressivamente o patrimônio, de acordo com o seu porte e a capacidade contributiva do agente, em especial no tocante ao IPVA, ao IPTU e ao ITCM; e, finalmente, (iii) criando o já constitucionalmente previsto "imposto sobre grandes fortunas".
  • o acelarado e crescente investimento em programas sociais e de garantia de renda mínima;
  • a diminuição do superavit primário e a transferência de seus recursos para projetos de infra-estrutura, capitaneados por um PAC cada vez maior; e,
  • a transferência de recursos não para salvar os ditos "setores produtivos" -- os quais, na verdade, apenas representam os dominantes interesses das elites burguesa e política, como a construção civil e a agroindústria exportadora --, mas para projetos e programas que visem a diminuir o déficit habitacional (casas e condomínios populares, urbanização de favelas etc.) e assegurar e expandir a agricultura doméstica e familiar.


# a pergunta que não quer calar

fdsPor que não se dá ao "socialismo" -- e ao regime socialista --, nos pontos e nos momentos históricos em que falha (ou falhou), as mesmas, sucessivas e eternas chances dadas ao "capitalismo" -- e ao regime capitalista --, neste e nos outros momentos em que também (e sempre!) falha, vez que é um sistema sócio-político-econômico infinitamente mais justo, moral, cristão e humano?
fdsÔxe, por que será que aquele é tão vilipendiado e marginalizado, não importa qual seja o seu maior e melhor fim, enquanto o segundo é exaltado e elevado à quintessência, não importa como e quanto falhe, nem qual seja o seu único fim?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

# os paralelos entre eugênio e evangelino


fdsEugênio e Evangelino preparavam-se para prestar o vestibular e cumprir a promessa feita no início do ano: passar na Federal.
fdsEmbora frequentassem o mesmo colégio e a mesma turma, ambos viviam paralelas realidades diferentes. Eugênio era daqueles que aprontavam. Não queria muito saber de estudar e vivia os seus 17 anos quase única e tão-somente para o prazer, a diversão e a arte, pois sempre repetia para os seus pares, que ficavam preocupados com o seu temeroso desempenho: "[a] hora que for preciso, estudarei e passarei", garantia ele.
fdsEvangelino, por sua vez, era um jovem bastante dedicado, pouco ligado ao mundo extra-classe e que sempre vivia no seu quadrado, crente que apenas um esmerado dia-a-dia seria capaz de lhe garantir o êxito final.
fdsEugênio, embora nome fácil e cintilante em todas as rodas do recreio, em pleno segundo semestre já apresentava na ficha escolar faltas, brigas, suspensões e notas vermelhas; Evangelino, ainda que meio esquecido por todos, era exemplar nos estudos, sem remendos comportamentais e com o título de aluno modelo.
fdsEugênio, sempre rodeado de amigos, não perdia uma festa na cidade, e, sempre rodeado de lindas mulheres, conseguia malandramente levar o namoro simultâneo com várias delas; Evangelino, sempre sereno, aproveitava as noites e os finais de semana para assistir tv, confortável em seu moleton.
fdsA hora do vestibular se aproximava, e os dois cada vez se mostravam mais diferentes. Eugênio, para todos em volta, era um verdadeiro carnaval de sentimentos: alegria, ódio, gozo, decepção e esperança misturavam-se a cada semana, a cada simulado que fazia e a cada noitada que tinha; Evangelino, entretanto, era um iceberg, pois das suas ações o que menos se sentia era um coração a bater, tamanha a nulidade das emoções que provocava em sua volta.
fdsChega , enfim, o último mês. Dali para a grande prova do vestibular haveria pouco mais de quatro semanas.
fdsEugênio, desesperado, convoca a todos. Chama pais, irmãos, amigos, padres, ladies e prostitutas. Pede perdão e pede ajuda. Todos riem, choram e se abraçam. Ele assegura que, nunca antes na história desta cidade, alguém haverá de se dedicar tanto quanto ele neste final. Empolgados, todos prometem irrestrito apoio nesta reta final. Todos querem auxiliá-lo a conquistar o seu merecido lugar, afinal, ele, Eugênio, era um dos líderes daqueles colégio, tinha uma formosa história lá dentro e sempre foi tido como o grande cara. A comoção foi generalizada e todos a sua volta uniram-se a ele, com um só objetivo: a sua aprovação.
fdsPara Evangelino, porém, nada mudou. Continuou ali, no lânguido trajeto colégio-casa-colégio, envolto em livros e com a fria companhia de sua irmã, do seu já débil e aleijado avô, do seu peixinho e dos animados desenhos japoneses.
fdsDomingo, dia 7, 5:00 pm. É o grande dia. Para Eugênio, serão quase duas horas de aflição, de angústia, de tensão e de tezão. Para Evangelino, um dia como outro qualquer.
Domingo, dia 7, 8:oo pm. Fim da prova. Ambos saem e já conferem o gabarito.
fdsEugênio faz as contas e vê que acerta 85%. Aprovação garantida. Êxtase total. Estoura champagne, toma litros de rum e promove o maior carnaval nas cercanias de sua casa. Vêm toda a família, os amigos, padres, ladies e prostitutas, e a festa vai quase até o sol raiar.
fdsEvangelino, a sós, também faz as suas contas. Acerta 90% da prova e tem a aprovação garantida, ficando umas quatro posições acima de Eugênio. Numa alegria reclusa e nada contagiante, vai para casa, entra, comunica a irmã, acaricia o vovô coxo, alimenta o seu peixinho e deita no sofá para então se animar com o desenho japonês que está para começar.
fdsE diante disso, realmente parece que nem no infinito as paralelas vidas de Eugênio e Evangelino encontrar-se-ão.
fds
 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

# o futuro do presente da crise (ou, "rumos e verdades")



Com a participação de intelectuais, em sua maior parte pertencente às ciências econômicas, das mais diversas partes do mundo -- Brasil, China, Rússia, Argentina, Venezuela, Equador, México, EUA, Inglaterra, Itália e Alemanha --, o Governo do Estado do Paraná está a promover, desde ontem, o excelente seminário internacional "Crise - Rumos & Verdades" -- o qual, certamente, não merecerá a melhor (ou, talvez, a menor) cobertura da podre mídia golpista nacional --, com o fim de debater, elucidar e abrir os olhos para os verdadeiros rumos e causas da presente crise, a maior crise da história do capitalismo e que definitivamente afunda o neoliberalismo (v. aqui a programação completa do Seminário).


 

# quo vadis, huracán? (xv)

A epopéia se encerrou como já esperávamos: estádio lotado, torcida ensandecida e um futebol total, absolutamente comprometido com raça e gols símbolos maiores do Clube Atlético Paranaense. E o nosso time, na tarde deste domingo, teria sido mágico se não tivesse sido tão real.

Sim, o Flamengo tremeu. O Flamengo parecia um Olaria, um Bonsucesso, um São Cristóvão, tamanho era o semblante amedrontado de seus jogadores, tamanha era a postura acuada do seu time e tamanho era o massacre técnico, físico, tático e, principalmente, moral, que o Atlético impunha em campo. Sim, finalmente o Atlético voltou a ser o "furacão" e a Arena da Baixada voltou a ser o temido "caldeirão".

Dentre tantos personagens deste jogo, houve dois maiores, excepcionais.

Um, o nosso mais novo príncipe etíope, o nosso deus da raça, o valente Valencia, colombiano de aura vermelho-e-preta, um negro cujo sangue rubro bem mostra a sua melhor identificação com o Atlético: a entrega absoluta e a dedicação total que nos dá a certeza de que nunca perderá um lance.

O outro, a peça que faltava e que sempre pedimos: o paraguaio Julio dos Santos, o craque, o cérebro, o armador, aquele que pensa e pára o jogo, como se fosse o senhorio absoluto daquele campo.

Claro que houve Alan Bahia, Alberto, Netinho, Antonio Carlos, Rodolpho e Chico -- e mesmo Julio Cesar, Rafael Moura e Zé Antonio, pelos gols --, mas os dois gringos foram geniais, e, a ambos, muchas y muchas gracias.

Porém, em termos gerais, este "título às avessas" deve ser dedicado e agradecido a três outros homens, que certamente hão de integrar um seleto rol de heróis rubro-negros: o goleiro Galatto, o técnico Geninho e o preparador físico Moraci Sant'ana, todos tecnicamente impecáveis e absolutamente dedicados no cumprimento do nosso maior objetivo, em cujas obras os milagres mostraram-se freqüentes e capazes de honrar as nossas cores.

Digo, enfim, que essa vitória e esse título tem sim um sabor até maior do que o "mero" título nacional dado ao campeão, por uma séria e única razão: o título com a primeira colocação é, em poucas semanas, esquecido, apenas guardado na memória, nas estatísticas e na camisa; porém, o título conquistado neste domingo transcende as próximas semanas e alcança todo um ano, consegue trazer a alegria de sabermos que não passaremos todo 2009, em cada uma de suas semanas, a lamentar o fato de estar no limbo, no inferno e na humilhação da segunda divisão -- ou seja, nossos adversários não terão o gosto de nos humilhar, por longos 300 dias, a cada jogo de terça ou sexta-feiras e a cada jogo contra Goiatubas, Bragantinos e CSA's. Aleluia, aleluia!

"Quo vadis, huracán?", era a pergunta que, como Jesus Cristo a Pedro, nós fazíamos ao Clube Atlético Paranaense.

E a resposta veio, em uníssono: permanecerei no lugar donde nunca poderei sair, ou seja, a Primeira Divisão do futebol brasileiro.
fds

sábado, 6 de dezembro de 2008

# e assim caminha a humanidade (vii)


fdsfdsdEnquanto isso, num fim de noite de começo de fim de semana, um dos interlocutores acredita que tem, nestes tempos de crise -- crise do sistema, crise do neoliberalismo, crise deste mundo com o (quase) único pensamento no Estado mínimo, sublinhe-se -- a chave para o (seu?) sucesso:
fdsfdsd- P..., mas é claro... o negócio é o seguinte: baixar os impostos (...) o Governo vai ter que cortar e diminuir os gastos públicos, se não assim não dá... -- vocifera o sujeito.
fdsfdsdEu olho, o meu nariz escorre, a gripe vem mais forte, quase espirro e saio, como se não estivesse entendendo nada e com a expressiva cara de quem não precisa de outra coisa -- muito menos a diminuição da carga tributária -- senão um lenço, sem antes refletir e lembrar -- para mim mesmo, claro -- que parte da solução não estaria em reduzir a carga fiscal, mas, sim, reduzir os tributos nos produtos consumíveis pelas camadas mais populares e aumentar -- assim como finalmente criar o "imposto sobre grandes fortunas", previsto na nossa Constituição e até hoje não vigente -- em outros produtos e, principalmente, para outros setores da economia.
fdsfdsdCaso contrário, a medida seria suicida, pois afetaria diretamente a maioria do nosso povo que vive em um limbo trágico, abandonada ao seu destino por uma elite feroz, voltada exclusivamente para a satisfação imediata dos seus interesses. E o País? Que se exploda!
fdsfdsdE, assim, aproveito o lenço para, além de espirrar, chorar.


 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

# quo vadis, huracán? (xiv)

fdsEm silêncio zen e mediúnico, fecho as portas e, antes de apagar as luzes da semana laboral que se encerra, penso no angustiante domingo de decisão, olho para fora e vejo o céu deste horário de verão.
fdsDo crepúsculo, ele ainda mostra raios avermelhados de sol sobrepostos ao fundo preto de breve anoitecer.
fdsÉ um presságio, o maior de todos: nós não cairemos.
fds

# um (nada) estranho no ninho

Sean Penn, grande ator -- talvez um dos melhores de sua geração -- e uma das personalidades estadunidenses política e socialmente mais engajadas, passou um (curto) tempo na Venezuela e em Cuba, e, pela segunda vez, registrou as suas impressões sobre os governos socialistas de Hugo Cháves e, agora, de Raúl Castro, inclusive com (longas) entrevistas realizadas com os respectivos governantes máximos -- v. aqui, e, empunhando uma bandeira branca e agindo sem o compromisso de interpretar leituras científicas e sem o preconceito de crer em ladainhas doutrinário-ideológicas, descontraidamente fuja da "cegueira branca".

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

# e assim caminha a humanidade (vi)


ddsEnquanto isso, após ser publicada a (talvez) paradigmática sentença do Juiz Federal Fausto de Sanctis -- que condenou o banqueiro Daniel Dantas, uma das mais famosas "galinhas" dos ovos de ouro dos homens públicos de todos os poderes desta República, a 10 anos de prisão e mais uma multa de 12 milhões de reais --, eis o que vocifera um dos advogados do milionário criminoso:
fdsd- “Não houve o crime atribuído ao meu constituinte; sua defesa foi cerceada, as provas são fraudadas e o magistrado impediu a perícia indispensável à demonstração da improcedência da acusação".
fdsdE então me (re)pergunto, como outrora fizera aqui (em "a insustentável natureza do ser"), "como", "por quê" e com "quais" objetivos pessoas, especificamente os advogados, empenham-se em assessorar, orientar e defender pessoas que buscam, única e absolutamente, sem quaisquer benefícios à sociedade -- pelo contrário!! -- ou, vá lá, sem qualquer justo proveito próprio, enriquecer-se e enriquecer a todos os cúmplices e prosélitos a sua volta, à custa do erário, a custa do povo e à custa de uma sociedade mais digna e mais humana? Por quê?
fdsdPor que se exerce a advocacia em prol de gente que estampa na testa -- embora seja difícil de estampar na ditas provas lícitas -- a criminalidade, a ilicitude e a imoralidade?
fddsPor que os advogados privados aceitam defender, dentre uma infinidade de outros criminosos, os magnatas, os empresários, os políticos e os homens públicos corruptos? Por que não deixar o direto penal -- em quaisquer das suas espécies -- para o Estado, em todas as suas três partes processuais, com advogados públicos?
fddsPor que não deixar que todos, as elites burguesa e política e os josés & marias, tenham a oportunidade de uma defesa equânime, sem intermediários comprometidos não com a realização da justiça -- cega e equilibrada, como Têmis se mostra --, mas com a grana e o luxo fétidos, com o dinheiro fácil e sujo que a (quase) todos medusicamente perverte, a permitir assim, com uma facilidade ímpar, o tráfico de influência e a corrupção, que admite apenas a (algemada) prisão de preto, pobre e puta?



quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

# as vitrines pós-modernas


E para aqueles que ainda confiam e ainda acham o máximo essas mais bizarras formas de comunicação e de relacionamento pós-moderna -- v. aqui o que já publicamos, p. ex., sobre a "vitrine humana" do tal orkut --, cuja (mórbida) formosura creem não dever ser excluída do universo de nossas crianças e adolescentes, eis o relato, enviado por um grande amigo, que mostra a estupidez desta vida explícita e do espetáculo do ser fluorescente, que quer aparecer e ser visto:
 
"Após deixar seus livros no sofá ela decidiu comer um lanche e entrar online. Conectou-se com o seu nome na tela: "Docinho".
Revisou sua lista de amigos e viu que '"Meteoro" estava conectado.
Ela enviou uma mensagem instantânea:
fds> Docinho: Oi. Que sorte que vc está aí! Pensei que alguém me seguia na rua hoje. Foi esquisito mesmo!
fds> Meteoro: Vc assiste muita TV. Por que alguém te seguiria?
fds> Docinho: Pois é. Acho que imaginei isso porque não vi ninguém quando virei.
fds> Meteoro: A menos que vc tenha dado seu nome online. Vc não fez isso, né?
fds> Docinho: Claro que não. Não sou idiota, vc já sabe.
fds> Meteoro: Você jogou vôlei depois do colégio hoje?
fds> Docinho: Sim e ganhamos!
fds> Meteoro: Ótimo! Contra quem? fds
fds> Docinho: Contra as Vespas do Colégio Sagrada Família. Seus uniformes são um nojo! Pareciam abelhas..
fds> Meteoro: Como se chama seu time?
fds> Docinho: Somos os Gatos de Botas. Temos garras de tigre nos uniformes.. São muito legais. Mas tenho que sair. Tenho que fazer minha tarefa antes que cheguem meus pais. Não quero que fiquem bravos. Tchau!
fds> Meteoro: Falamos mais tarde. Tchau.
Entretanto, Meteoro foi ao menu de membros e começou a buscar sobre o perfil dela. Quando apareceu, copiou e imprimiu. Pegou uma caneta e anotou o que sabia de Docinho até agora: Seu nome: Tatiane. Aniversário: Janeiro 3, 1993. Idade: 13. Cidade onde vive: Santo Antônio da Platina, Paraná. Passatempos: vôlei, inglês, natação e passear nas lojas.
Além desta informação sabia que vivia em Santo Antônio da Platina porque ela lhe tinha contado recentemente. Sabia que estava sozinha até as 6.30 todas as tardes até que os pais voltavam do trabalho. Sabia que jogava vôlei nas quintas-feiras de tarde com o time do colégio, os Gatos de Botas. Seu numero favorito, o 4, estava na sua jaqueta. Sabia que estava na 8a. série no colégio Sebastião. Ela tinha contado tudo em conversas online.
Agora tinha suficiente informação para como encontrá-la. Tatiane não contou a seus pais sobre o incidente ao voltar do parque. Não queria que brigassem com ela e que lhe impedissem de voltar caminhando dos jogos de vôlei. Os pais sempre exageram e os seus eram os piores. Ela teria gostado não ser filha única. Talvez se tivesse irmãos seus pais não tivessem sido tão superprotetores.
Na quinta-feira, Tatiane já tinha esquecido que alguém a seguia. Seu jogo estava em plena ação quando de repente sentiu que alguém a observava. Então lembrou. Olhou desde sua posição para ver um homem observando-a de perto. Estava inclinado contra a cerca na arquibancada e sorriu quando a viu. Não parecia alguém de quem temer e rapidamente fugiu o medo que sentiu. Depois do jogo, ele sentou-se num dos bancos enquanto ela falava com o treinador. Ela percebeu seu sorriso mais uma vez quando passou do lado. Ele acenou com a cabeça e ela devolveu o sorriso. Ele percebeu seu nome nas costas da camiseta. Sabia que a tinha achado.Silenciosamente caminhou numa distância certa atrás dela. Eram só umas quadras até a casa de Tatiane. Quando viu onde morava voltou logo ao parque para procurar seu carro. Agora tinha que esperar.Decidiu comer algo até que chegou a hora de ir à casa de Tatiane. Foi a uma lanchonete e sentou até a hora de começar seu objetivo. Tatiane estava no seu quarto, mais tarde essa noite, quando ouviu vozes na sala. 'Tati, vem!', chamou seu pai. Parecia perturbado e ela não imaginava o porquê.Entrou na sala e viu o homem do parque no sofá. 'Senta aí', começou seu pai, 'este senhor nos acaba de contar uma história muito interessante sobre você'.
Tatiane sentou-se. Como poderia ele contar-lhes qualquer coisa? Nunca o tinha visto antes de hoje! 'Você sabe quem sou eu?' perguntou o homem. 'Não', respondeu Tatiane. 'Sou policial e seu amigo do chat, Meteoro'. Tatiane ficou pasmada. 'É impossível! Meteoro é um menino de minha idade! Tem 14, e mora em Minas Gerais !'
O homem sorriu. 'Sei que eu disse tudo isso, mas não era verdade. Veja, Tatiane, tem gente na internet que se faz passar por garotos; eu era um deles. Mas enquanto alguns o fazem para machucar crianças e jovens e fazer dano, eu sou de um grupo de pais que o faz para proteger as crianças dos malfeitores. Vim encontrá-la para lhe ensinar que é muito perigoso falar online.Você me contou o suficiente sobre você para eu achá-la facilmente. Você me deu o nome da sua escola, do seu time e em que posição você joga. O numero e o seu nome na jaqueta fizeram que eu a encontrasse rapidinho. Tatiane gelou. 'Você quer dizer que não mora em Minas Gerais ?'
Ele riu. 'Não, moro em Santo Antonio da Platina. Você se sentiu segura achando que morava longe, né?' Eu tinha um amigo cuja filha era como você. Só que ela não teve tanta sorte. O cara a encontrou e a assassinou enquanto estava sozinha em sua casa.Ensina-se as crianças e jovens a não dizer pra ninguém quando que eles estão sozinhos, porém contam isso o tempo todo pela internet. As pessoas maldosas a enganam para tirar informação de aqui e de lá online. Antes de que você saiba você já lhes contou o suficiente para ele achá-la sem você perceber. Espero que você tenha aprendido uma lição disto e que não o faça de novo. Conte a outros sobre isto para que também estejam seguros".

 

# o presente do indicativo da crise (ou, "aspirinas e urubus")


Do espaço virtual, o excelente "Carta Maior" traz outro pontual artigo, agora do Prof. Emir Sader (UERJ), e que bem mostra a presente realidade da "crise" (crise?! que crise? qualquer crise! -- como brada Paulo Henrique Amorim) na América Latina (v. aqui):

"No momento da posse de Fernando Lugo, como primeiro presidente democrático do Paraguai, terminando com a ditadura de 60 anos do Partido Colorado, a revista "The Economist" dizia que aquele seria o último presidente de esquerda a ser eleito na América Latina. E, como urubus, afirmavam que a nova agenda trazida pela recessão – duras políticas de ajuste – e a violência dominariam a pauta política do continente e como a exploração desses temas são essencialmente de direita, voltariam governos conservadores na América Latina.
Se esqueceram que, aqui onde estou, em El Salvador, pela primeira vez a "Frente Farabundo Marti" é claramente favorita para eleger o jornalista Maurício Funes, presidente da República, no dia 15 de março. Erro de avaliação ou desconhecimento da revista inglesa ou tentativa de fazer dos seus desejos, realidade.
A mesma coisa acontece com os urubus da imprensa em geral. Em toda a primeira metade do ano acenaram com o risco de descontrole inflacionário, sem se dar conta da recessão, já instaurada naquele momento, na economia dos EUA, com possibilidades reais de propagação para outros países, que gera riscos de deflação, exatamente ao contrário do que diziam os urubus. Erro de avaliação ou desconhecimento ou tentativa de fazer passar seus desejos mórbidos pela realidade.Instaurada a crise, os radicais de direita se apressam a explorar uma situação provocada pelas suas políticas, para tentarem tirar partido e enfraquecer os governos progressistas. Tentam, a cada dia, gerar um clima de pânico, dizendo que as conseqüências para nós serão terríveis, que o governo não leva em consideração seus efeitos etc., buscando gerar o caldo de cultivo para medidas conservadoras, que são tanto do seu agrado.
Obsesionados pelos clichês que formam sua visão de mundo, não conseguem perceber o que há de novo. Pela primeira vez há uma profunda crise na economia dos EUA e da Europa, mas a economia brasileira não quebra. Os efeitos da crise se revelam muito mais fortes nos países que a geraram, do que aqui.
Os governos progressistas buscam minimizar as conseqüências da crise, tratando de evitar que se propague a recessão, porque sabem que ela afeta sua necessidade de suas economias de seguir crescendo e expandindo suas políticas sociais. A diversificação do comércio internacional, o aumento do comércio interegional e com o sul do mundo, a grande expansão do mercado interno, assim como a significativa diminuição do comercio com os EUA – são os elementos que possibilitam mecanismos de defesa dos países da região que privilegiam os processos de integração regional.
Os urubus continuam com sede de carniça. Querem que a crise – gerada pelo modelo que eles pregaram como o ideal e aplicaram durante duas décadas e agora se revela a fonte essencial da crise – leve à derrota dos governos atuais na América do Sul, que volte a direita, que os representa politicamente. Que as economias da região entrem em recessão, que as políticas sociais não possam ser levadas adiante, que os governos percam apoio, que volte a direita.
Enquanto isso, tem que tomar muita aspirina, para agüentar o sucesso de Evo Morales, de Rafael Correa, de Lula, de Hugo Chávez, que abatem os urubus no vôo."


 

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

# sessão dupla: o gênio e o império


Nesta encamada terça-feira -- causada por uma febril gripe que, como um direto no queixo, me derrubou --, usei a tarde para assistir a dois documentários há tempos na estante: "Cartola" e "Sicko - $.O.$. Saúde", ambos excelentes.
 
O primeiro simplesmente brilhante, menos pelo filme, mas sim pela figura que representa este ícone da cultura nacional.

Ainda que com uma direção titubeante, consegue mostrar Cartola (e o samba, os seus mestres e a imortal Mangueira) a nu, sem eufemismo e com choques que traduzem melhor ainda a vida, num passado pouco remoto, dos grandes gênios da nossa maior música.

Um lindo espetáculo.

O segundo, de Michael Moore ("Fahrenheit 11/9" e "Tiros em Columbine"), mostra às claras o podre sistema de saúde "pública" estadunidense, a comparar o quão desumano é este capitalizado modelo, em especial quando comparado como o humano, ainda que pobre, sistema socializado vigente em boa parte do mundo, como, mostra ele, no Canadá, na França e... em Cuba! (ainda que, neste caso, com um certo exagero, quase ufanista...).
 
Em síntese, revela, em mais outro aspecto, como se resume o american way of life: cada um por si e o mercado por todos, num sistema de socialização dos custos e riscos e máxima privatização dos lucros.

Uma ignominiosa nojeira.


 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

# cine sunt eu?

Rodrigo Gava, ghost writer deste sideral espaço virtual, traz breves notas curriculares na "Plataforma Lattes" do CNPq, cujo (antes) secreto acesso é simplificado aqui e, à sombra da mangueira imortal, pelo seguinte caminho: "ver o meu perfil completo" => "lista de desejos".