sexta-feira, 23 de abril de 2010

# quanto pesam os nossos valores?


"(...) e a gente monta uma central de sequestro... e não é pelo dinheiro, não... é pra gente acabar com tudo que é filho da puta que rouba do Estado."

É com esta frase que o sempre polêmico e provocador cineasta Sergio Bianchi encerra o seu perturbador filme "Quanto Vale ou é por Quilo?", o qual só agora pude (re)ver.

O filme traça um paralelo entre o modelo escravocrata da época imperial e o atual modelo capitalista neoliberal, muitos políticos e tantas ONGs e tantos filantropos: lá e cá, a vontade de lucrar em cima dos miseráveis continua.

O dinheiro que os governos investem nas ONGs que trabalham com filantropia seria suficiente para ajudar na satisfação das necessidades básicas e no desenvolvimento de milhares de famílias carentes. Mas nem metade chega em seu destino -- e os dados apresentado no filme são alarmantes. Vão para onde? Claro, para o deleite de repugnantes políticos e biltres empresários do showbusiness filantropo.

Não se quer, claro, generalizar e achar que todas as ONGs são um poço de más intenções, hipocrisia, corrupção e lavagem de dinheiro. Não! Não!

Quer-se, apenas, mostrar que há muita coisa errada nisso tudo, em especial sob dois aspectos (afora, claro, a questão dos crimes cometidos pelas quadrilhas de políticos e empresários): (i) o fato de a elite achar que merece estátuas ou indulgências eternas por apenas cumprir o seu dever humanitário, cívico e (de classe) social, e (ii) o fato de a sociedade em geral achar que a transferência de responsabilidade do interesse público para o privado é a solução.

E aqui está a grande questão, pois a "ajuda" (a solidariedade, a fraternidade...), torna-se "mercadoria", uma postura positiva para a obtenção de retorno e recursos, a sublinhar a farsa da "responsabilidade social", de um "terceiro setor", de um "capitalismo domesticado".

Trata-se, na verdade, de um sistema que tão-somente incorpora novas indústrias para gerenciar a miséria e os miseráveis, a tornar intocável a ideia neoliberalista das bravatas e cantilenas privatistas que culmina na "ongzação" do Estado (v. aqui).

O filme-documentário trata, assim, destes mercados do assistencialismo e do voluntarismo e da disputa competitiva pela pobreza alheia. Mas mostra ainda mais do que isso.

Mostra os outros tentáculos desta sociedade do espetáculo do consumo, desta sociedade que cria necessidades desnecessárias como único meio de inserção social -- “o que vale é ter liberdade para consumir, essa é a verdadeira funcionalidade da democracia", clama um dos personagens do filme.

Mostra, enfim, a grande chaga pública, o maior dos crimes e cuja hediondez é flagrante: aqueles cometidos pelas máfias que fulminam o Estado brasileiro -- le Cose nostre (v. aqui) --, as quais, dentre outros crimes, desviam e roubam dinheiro público, como no caso da ideia de inclusão digital que ilegítima e ilegalmente beneficia uma ONG mercantil (e os políticos coligados) que superfatura a compra de computadores de terceira linha e ainda se utiliza de funcionários pobres ("laranjas") para abrir contas paralelas que mais-ou-menos esquentem o dinheiro sujo.

Mesmo que a frase final do filme (e que abre essa bula) não mereça defesa e não seja o caminho correto -- vez que o pretendido "progresso" não pode exigir tamanha desordem (v. aqui) e que, sob a ótica cristã ou da Lei, o mal (e o ilegal) não deva ser perseguido e respondido com o mal (e o ilegal) --, essa ideia robinhoodiana e essa pulsante vontade de uma divinal justiça por mãos próprias terrenas sempre atiçam o debate que faz discutir a justiça e o Direito em nosso Estado.

Aquela frase final assusta, mas nos faz pensar.

E para isso basta que saiamos dos nossos castelinhos e da nossa "cegueira branca" (v. aqui).

fds

quinta-feira, 22 de abril de 2010

# elementares

f
dsRevolta-se com a atual situação da nossa Assembleia Legislativa, mergulhada em crimes, fraudes, falcatruas e improbidades?
fdsOra, é simples: nas eleições de outubro de 2010, não vote em nenhum deputado estadual que lá está e ajude a não permitir que nenhum deles se reeleja.
fdsAfinal, mesmo os deputados bons e probos têm culpa e responsabilidade: foram omissos com toda a picaretagem que por lá impera.
fdsE, se não fosse o jornal "Gazeta do Povo" -- e, doravante, as nossas instituições republicanas --, os bandoleiros continuariam a prevaricar, a roubar, a se locupletar e a se eternizar nos cargos, intocáveis, vez que os parlamentares impolutos não tiveram a coragem e a independência necessárias para investigar e denunciar os colegas pecadores.
fdsPorém, há aqui um sério problema para a grande parte dos eleitores e cidadãos: os convenientes avatares de cada um.
fdsÉ que poucos têm a bravura cívica e moral de não votar no Deputado que, no próximo mandato, continuará a arranjar os esquemas para a sua empresa (com contratos, licitações, empréstimos...) ou para a sua vida pessoal (com cestas básicas, antipó, cadeiras de roda, circos, gorjetas... se no grupo de baixo, ou com super-salários, nepotes, sacos de dinheiro, viagens, comissões... se no grupo de cima).
fdsViva a nossa "democracia"!
fds

quarta-feira, 21 de abril de 2010

# invidia


fdsNão sei se pelo meu passado de atleta, não sei se pelo presente de profunda e máxima indignação às diferenças e injustiças sociais, não sei se pelo incógnito futuro. Não sei, talvez, se por ainda não conseguir minimamente compreender o que é o racismo e o que foi apartheid racial.
fdsA verdade é que "Invictus" -- o último grande filme de Clint Eastwood, e que na verdade simplesmente mostra a primeira grande estratégia cívico-humanitária do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, logo que sai da prisão e é eleito para comandar o país na sua reumanização --, além de quase causar-me lágrimas, causou-me uma grande inveja, a inveja sadia, do bem. A inveja invejável, não invejosa.
fdsSó não sei se pelo jogador, líder e capitão da seleção nacional de rúgbi, ou se pelo presidente, certamente um dos grandes homens da história da Terra. Mas acho que foi pelo primeiro.
fdsSim, o segundo pareceu-me divino, ininvejável para alguém de carne-e-osso como eu.


fds

terça-feira, 20 de abril de 2010

# bafo


fdsUni-duni-tê-salamê-minguê..., parece entoar a claque calva e barbada das "figurinhas da Copa" (v. aqui).

fdsBem, depois dessa, parece-me que certas moças de 30 ou 40 anos também vão querer formar as suas turmas, a se reunir pelos bares, shoppings e praças das cidades, mas agora para brincar de bambolê ou amarelinha.
fds

 

# nem do morro, nem da cidade


Passada a comoção popular -- invariavelmente vulnerável aos arroubos midiáticos -- que adveio da tragédia ocorrida no Rio de Janeiro e que vez (re)pulular a tese dos conservadores idiotas, na esteira do que pretendia o canalha Carlos Lacerda (ex-governador e deputado da UDN, nos anos 50-60), a exigir a imediata remoção de todas as favelas e a expurgação de todos os favelados, preferencialmente para a Conchinchina, deve-se, agora, examinar com o devido desvelo essa situação.

Ora, é óbvio que a solução para o caso não é simples e imediata, sob pena de, senão pouco inteligente, ser de cunho insensato ou elitista.

Sim, é indefensável a ideia de remover toda uma comunidade, indiscriminadamente, sem considerar que aqueles que não estão em área de risco não só não precisam sair como vão se amontar em outros locais, talvez ainda mais insalubres e perigosos.

Claro que boa parte precisa ser realocada, pois, já não dispondo de condições de seguranças antes, tudo piorou com o dilúvio; porém, nada justifica a retirada anárquica de milhares de pessoas: primeiro, porque é inútil, à medida que o troco oferecido como indenização levá-las-ão para morar em outras favelas da região, as quais também estão em áreas de risco -- remove-se, pois, tão-somente o problema --, e, depois, porque não se trate de medida isonômica, igualitária e justa, e nem legal.

Pelas fotos divulgadas nos jornais e na internet, há no entorno dos morros várias mansões ameaçadas pelos deslizamentos de terra.

Mas, ali, a solução é imediata: obras de contenção, muros de arrimo e uma série de artimanhas mais custosas e complexas (e menos chatas...) do que, como tantos querem, simplesmente dar alguns mil réis para os pobres e enxotá-los dali, pois, claro, a Zona Sul não lhes pertencem.

Seria um quase exorcismo.

Portanto, assim como é inadmissível promover esse êxodo -- como se ainda fossem um povo de Israel às avessas --, faz-se evidente que não se pode consentir com o atual estado das coisas, que clama por uma imediata e progressiva intervenção estatal, nos moldes do que se faz com o PAC e as UPPs (v. aqui) e com o "Programa de Regularização Fundiária" -- premiado pela ONU, por meio da sua agência HABITAT, e pelo qual se dá a posse e a propriedade da terra aos moradores das favelas --, diante dos quais os assentados (e os reassentados) passarão a efetivamente viver.

Com base nestes instrumentos, por exemplo, conseguir-se-á urbanizar e civilizar os morros (e, claro, as cidades), cujas medidas, então sim, passariam a se revestir de "urbanidade" e "civilidade", bem distantes, portanto, daquela panaceia branca que se reconhece na remoção aleatória dos pobres favelados, como se todas as suas moradias fossem de risco ou inviáveis.

A regularização, a gentrification e a inclusão e integração político-social dessas áreas, com a firme e solidária intervenção estatal -- a levar água, luz, esgoto, dignidade e segurança (pública e jurídica) às famílias das favelas cariocas --, são, em suma, as humanas alternativas ao torpe remédio das remoções indiscriminadas.

Novidades? Não. À sua época, Leonel Brizola já expunha o problema e oferecia aquelas soluções, as quais, ainda bem, eram sim populistas e populares, e, por isso, mal vistas pela elite carioca, que preferia o tal remédio demagógico, conservador, racista e feudal.

Caso contrário, insistindo-se com esse discurso encampado pela grande mídia, veremos apenas fomentada e perpetuada (i) a escatofágica política de compra de votos na região -- na qual o sufrágio é alienado por efêmeros benefícios individuais --, (ii) a criminalidade e, em especial, (iii) esta nossa sociedade do apartheid sócio-territorial.


 

domingo, 18 de abril de 2010

# tecnécio


fdsNesta onda de véspera de Copa do Mundo, quando todo mundo que gosta de futebol quer ser técnico -- artificial, radioativo e denso --, não nos furtamos a indicar o escrete que levaríamos para a África do Sul, cuja lista é um pouco diferente daquela do Dunga (entre parênteses as alternativas que acredito serem levadas pelo treinador):
fdsGoleiros: (1) Júlio César, (12) Victor e (22) Marcos.
fdsLaterais: (2) Maicon, (6) Daniel Alves e (15) Michel Bastos.
fdsZagueiros: (3) Lúcio, (4) Juan, (13) Thiago Silva e (14) Alex.
fdsVolantes: (5) Gilberto Silva, (8) Hernanes (Kleberson), (16) Felipe Melo e (17) Lucas.
fdsMeias: (10) Kaká, (11) P.H.Ganso (Julio Baptista), (18) Elano e (19) Paulo Baier (Ramires).
fdsAtacantes: (7) Neymar (Gilberto), (9) Luís Fabiano, (20) Adriano, (21) Nilmar e (23) Robinho.
fds
fdsExplicações:
fds- O terceiro goleiro nem de rachão participa; logo, só serve para fazer parte do grupo. E, por isso, tem que ser um cara boa praça, com experiência e com moral para por ordem nas coisas.
fds- Para que levar dois laterais esquerdos se não temos nem um? Convoque-se só um, e abra-se uma vaga para o ataque (no caso para o Neymar). Solução? Coloca-se o Daniel Alves na esquerda (lembremos que os grandes Nilton Santos e Leovegildo Junior eram destros e sempre jogaram na esquerda) e leva o Gilberto, por exclusão (e por ter experiência em Copa, saber jogar no meio etc.).
fds- Hernanes (no São Paulo) está em muita melhor fase que Kleberson.
fds- Para que levar quatro volantes brucutus? Leve-se só três...
fds- Julio Baptista é médio. E médio não adianta e não resolve. Leve-se um cara diferente e que pode mudar um jogo (Ganso).
fds- Adriano tem que ir. Precisamos de um atacante com este perfil, para um jogo apertado e que exija pressão, chuveirinho etc. Ou ele, ou Washington, Hulk, Grafite, Ronaldo...
fds- Paulo Baier? Ora, o melhor jogador do meu time tem que ser convocado. Além do que, é experiente, é um dois melhores meia-armadores que tem no futebol brasileiro e ninguém aqui bate faltas e escanteios como ele...
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fdsPaulo Victor (86); Edson (86), Anderson Polga (02), Gonçalves (98), Ronaldão (94) e Junior (02); Doriva (98), Vampeta (02) e Tita (90); Paulo Sergio (94) e Luizão (02).
fdsSe você achou bizarro algumas das "peças" a serem convocadas pelo Dunga, pode crer: entre 1986 e 2006, a turma acima também já representou o Brasil em Copa do Mundo.
fdsP.S. Diante deste nightmare team, o técnico bem que poderia ser o Sebastião Lazaroni, a ser formado naquela sua ideia muito mal pensada e esquematizada de três zagueiros.fds


 

# rubro-negras (vii)


fdFinalmente acabou esse melancólico e horrendo torneio, com mérito ganho pelos coxas.
fdAlívio para ambos os lados: para eles, em razão de poderem animar a cambaleante auto-estima e esconder, por prazo curto, a vergonha de estar, de novo, na segunda divisão; e, para nós, em razão de não podermos esconder, por longo prazo, a lástima de um time fraco e um elenco pobre que precisam de urgentes nomes.
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fdO brasileiro continua índio. Mas, ao invés de se deslumbrar com coisas brilhantes e exóticas trazidas pelos portugueses, ludibria-se com outras coisas importadas.
fdNão importa a procedência, nem a qualidade, vindo com rótulo gringo supõe-se melhor. Ainda, crê que, perante os outros, está abafando, a fazer questão de expor aos amigos e inimigos a coisa estrangeira.
fdDe uma lata de pêssegos a um pacote de bolachas, passando por frutas, eletrônicos, roupas e panelas, tudo o que vem de fora o homem médio brasileiro julga ser melhor, o máximo. E nesse tudo também se deve incluir, doravante, o jogador de futebol.
fdOra, por qual outra razão a Diretoria do Atlético vai atrás, contrata e paga por essas coisas que trouxe do exterior?
fdA dupla sênior que veio da Colômbia é simplesmente patética -- para se ter uma ideia, o Vanegas (37 anos, mas corpinho de 49 e futebol de 11), inclusive já entrou nas estatísticas do "futebol paranaense" (?) como o cara que mais levou chapéu numa temporada.
fdPor sua vez, o argentino é ausente, omisso e inócuo. E deve ser falsificado: nem a raça e a valentia argentina o atacante Javier Toledo tem.
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fdAntonio Lopes foi demitido por ter dito grandes verdades à Diretoria do Atlético (v. aqui) e por ter empatado com os coxas, na 1ª fase; Leandro Niehues disse que tudo está lindo e belo, mas perdeu para os coxas. E agora?
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fdDentre outras ideias -- ainda que válidas, haja vista o plantel à disposição --, por que o criativo treinador atleticano não testou Tartá, na nossa nula ala-direita, em alguma das outras sessenta rodadas deste medíocre torneio?
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fdAinda que, no fundo, no fundo, a estratégia tenha sido válido -- e tenha, no início do jogo, realmente assustado a fraca zaga coxa --, vamos e venhamos: nome por nome, por que não trouxeram o Zico, que está aí, de férias, dando sopa, para que num contrato relâmpago fosse escalado no ataque do Atlético, ao invés do também ex-jogador Alex Mineiro?
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fdTemos um excelente goleiro, o jovem Neto, como há mais de ano o Sr. Jackson Baduy já me assegurava.
fdsfds
 

sexta-feira, 16 de abril de 2010

# o belo milagre das vaias


fdsFalamos na vaia que trucidou Paulo Baier no jogo de quinta-feira contra o Palmeiras.
fdsFalamos da injúria racial contra Manoel, naquele mesmo jogo.
fdsE já estamos na iminência de vermos a nossa Seleção embarcar para mais uma Copa do Mundo.
fdsEntão eis, aqui, a crônica de Nelson Rodrigues, escrito n'O Globo no distante 1° de maio de 1970, com o título dado para esta bula e no qual o maior cronista esportivo brasileiro disserta sobre aqueles assuntos. É de chorar, quão sublime é o seu texto.

fdsO escrete parte hoje. Termina o seu exílio e, se não ouviram bem, repito: — o seu exílio era o Brasil. Os nossos jogadores são tratados como se fossem estrangeiros. Ou pior. Porque os estrangeiros merecem, não raro, uma polidez convencional, sim, um mínimo de cerimônia. Vocês viram, não viram, Brasil x Inglaterra?
fds“Não somos os melhores”, afirma um cronista machadiano. E, não sendo os melhores, e sendo os ingleses sim, nós os derrotamos. Como se não bastasse a vitória brasileira, ainda infligimos aos campeões do mundo um ignominioso olé. Mas eis o que eu queria dizer: — no segundo tempo, um dos visitantes fez uma coisa que, em futebol, é a vergonha inapelável e eterna: — atrasou do meio de campo. Ao meu lado, na tribuna de imprensa, o botafoguense Serginho explodia em arroubos: — “Como eles atrasam bem! Com que tranqüilidade!”.
fds Por aí se vê que admiramos mais os defeitos ingleses do que as virtudes brasileiras. Conversei com um dos jogadores do escrete e ele abriu-me a alma, de par em par. Contou-me que, jogando sob uma cúpula de vaias, não era um brasileiro a jogar para brasileiros. Não e nunca. Tinha a sensação de que era um brasileiro a jogar para javanês, tirolês, congolês, tibetano, caucasiano e birmanês.
fdsDe brasileiros, a maioria dos assistentes só tinha — o palavrão. Era, sim, o palavrão, rugido no idioma de Camões, era o palavrão, repito, que localizava o Morumbi no Brasil, E disse mais o pobre craque. Como se não bastassem as vaias de boca, sofria também as vaias impressas. Os jornais, em sua maioria, não tinham uma palavra solidária, amiga, fraterna. O escrete era negado de alto a baixo, isto é, a partir da manchete.
fdsO mal-amado sente-se hostilizado até pelas paredes, pelos edifícios, pela paisagem. E ele, não raro, começou a sofrer de mania de perseguição. Passou pelo morro da Viúva, achou que o Pão de Açúcar tinha-lhe horror; que o Corcovado, idem. De outra vez, sentiu-se malquerido até pelo poente do Leblon. Disse-me várias vezes, obsessivamente, o jogador: — “Precisamos sair daqui! Precisamos ir embora!”.
fdsOuvi em silêncio o craque patrício e, sem nada dizer, dei-lhe toda a razão. Perguntará o leitor, em sua espessa ingenuidade: — “O brasileiro não gosta do brasileiro?”. Exatamente: — o brasileiro não gosta do brasileiro. Ou por outra: — o subdesenvolvido não gosta do subdesenvolvido. Não temos sotaque, eis o mal, não temos sotaque.
fdsAinda agora, no Morumbi, jogamos com a Bulgária [Brasil 0 x 0 Bulgária, 26/4/1970, penúltimo amistoso antes do embarque para a Copa do México]. Embora entre os búlgaros existissem carecas, pais de família, que fez a nossa crônica? Na hipótese de uma vitória nacional, passaram a dizer que os adversários eram infanto-juvenis do seu país. E se, porventura, ganhássemos de 17 x 0, diriam as manchetes: — “Brasil ganha do berçário búlgaro!”.
fdsNão sei se vocês se lembram de uma passagem que contei, aqui mesmo, nesta coluna. Era o caso de um patrício meu que assim se apresentava nas esquinas, botecos e retretas: — “Chegou o quadrúpede!”. Fazia uma volta no local e dava outro berro: — “Sou um quadrúpede de 28 patas!”. Era esse o seu triunfal cartão de visitas. Ligava para a namorada e começava assim: — “É o quadrúpede!”.
fdsLembrei-me desse conhecido, que assim se aviltava, ao ouvir uma mesa-redonda numa das nossas emissoras. O assunto era o escrete. Ora, o escrete é feito à nossa imagem. E os cronistas reunidos não fizeram outra coisa senão cuspir, como Narciso às avessas, na própria imagem. Negaram a seleção, negaram o jogador, negaram o técnico, negaram o preparador, negaram o médico, negaram tudo. Justo seria que terminassem assim: — “E, agora, com licença, porque vamos urrar no bosque mais próximo!”.
fds Os brasileiros empataram com os carecas da Bulgária por um escore que humilha os dois lados: — 0 x 0. Mas o resultado em nada influiu. A vaia começou antes do jogo, continuou durante o jogo e depois do jogo. Mas se me perguntarem quem empatou com os húngaros, eu diria: — a antitorcida. Uma multidão que só vaia não pode chamar-se a si mesma de torcida nem tem o direito de exigir vitória.
fdsO que fizeram com Paulo César é indesculpável. Ele não era nem culpado de estar ali e, repito, estava ali porque o escalaram. Setenta, ou oitenta, ou noventa mil sujeitos contra um só. Não se conhece outro brasileiro tão humilhado. A vaia é um prazo. Dura um minuto, dois, três. Vaia é esforço e não temos, como os ingleses, a saúde e a resistência de uma vaca premiada. Pois bem. A vaia que trucidou Paulo César durou noventa minutos.
fdsDigo noventa minutos e já retifico: — mais. Mais, porque começou antes do jogo. A aluna de psicologia da PUC, que entende nossos sentimentos, dizia-me: — “Só o ódio sustenta uma vaia de noventa minutos”. Aí está: — só o ódio. E seria lícito dizer-se que Paulo César foi linchado, fisicamente linchado, por uma vaia.
fdsHá outra observação que eu desejaria fazer. A vaia contra um atinge e ofende os demais, inclusive os adversários. Claro, pois a vaia não tem nome e endereço como os envelopes. Os destinatários eram os 22 jogadores e mais os reservas, de ambos os lados. Mas volto à mesa-redonda da TV. Houve pouquíssimas exceções; e uma delas, e a mais veemente, a mais otimista, foi o “Marinheiro Sueco”. Vibrante de justiça e de procela, tratou de defender o maravilhoso craque do Brasil.
fdsGraças a Deus o escrete parte. O que nem todos percebem é que o time nacional leva um maravilhoso trunfo. No México, ele se sentirá muito menos estrangeiro do que aqui. E estará protegido pela distância. Acreditem que a distância será a nossa ressurreição. Se me perguntarem o que deverá fazer a seleção para ganhar a Copa, direi, singelamente: — “Não nos ler”. Sei que as nossas crônicas vão aparecer, por lá, como abutres impressos. Não importa. O que interessa é fugir da feia e cava depressão que dos nossos textos emana.
fds Quando o jato subir, o escrete assumirá a sua verdadeira dimensão. Cada cronista há de ter uma palavra final para o time nacional. Já vimos que um dos colegas escreveu, a título de juízo final: — “Não somos os melhores”. Esse tom de catástrofe é de quase toda a imprensa brasileira. Mas não é, repito, o meu tom. Dirão vocês que adoto, diante da Jules Rimet, uma posição romântica. Nego. Justamente porque sou realista é que sinto, inevitável, fatal, a vitória brasileira.
fds Os pessimistas são os alienados. Por exemplo: — o ilustre cronista diz que data de 66 o ocaso do nosso futebol. Quem fala assim é, obviamente, um ressentido contra os fatos. Ele não os aceita e parece dizer: — “Se os fatos não confirmam o que escrevo, pior para os fatos”. Quem quer que tenha um mínimo de isenção, de objetividade, de apreço aos fatos, sabe que o futebol brasileiro é o melhor do mundo. Não sou eu que o digo, mas o óbvio, sim, o óbvio ululante.
fds Seremos campeões de 70, conquistaremos para sempre o caneco, porque somos melhores. Mas isso seria pouco. Além de melhores, levamos para o México as vaias ainda não cicatrizadas. De vez em quando, eu relembro o que acontecia com o “Tigre da Abolição”. Nos comícios, José do Patrocínio começava gelado de pusilanimidade. Era preciso que os amigos, no meio da multidão, o chamassem de “negro”, “negro”, “negro” e “negro”. E a humilhação racial o potencializava. Dizia então coisas como aquela: — “Sou negro, sim! Deus deu-me sangue de Otelo para ter ciúmes da minha pátria!”.
fds Com o escrete, já começa o belo milagre das vaias. Foi milagre o segundo tempo de Brasil x Áustria [Brasil 1 x 0 Áustria, 29/4/1970, no Maracanã, último amistoso antes do embarque]
. Aquela bola que Pelé passou de calcanhar ou o gol de Rivelino, cada jogada era um momento de eternidade do futebol.fds Vou ao aeroporto dizer aos nossos jogadores: — “Vocês já são campeões do mundo”.
fds

# rubro-negras (vi)


fdsPaulo Baier não foi juvenil. Freud explica.
fdsPerturbado psicologicamente por estar, mais uma vez, diante da torcida e do clube que o repulsa, desde os primeiros minutos mostrava-se estranho, afoito, nervoso.
fdsCiente de não ter correspondido às expectativas a aos investimentos depositados quando da sua passagem pelo Palmeiras, o nosso maestro carrega esse fardo toda vez que pisa no campo alvi-verde. E sente-se mal. E sente-se na obrigação de mostrar que é o que lá não foi. E a sua cabeça passa a funcionar mal.
fdsEle foi, desde antes do início do jogo, xingado em uníssono, por 20 mil pessoas que o acham risível. E não foi, pois, uma vaia de provocação invejosa, daquelas que empolgam o jogador e que advém da grande torcida rival. A vaia não foi, como diria Nelson Rodrigues, um "afrodisíaco infalível". Foi, na verdade, uma vaia de ódio e de desprezo, uma vaia que trucidou Paulo Baier durante toda a eternidade daquele seu jogo.
fdsOra, por mais experiente que seja, tudo isso negativamente influencia. E dói. E muita emoção inibe a razão. Paulo Baier descontrolou-se, perdeu-se, saiu de si. O lance do primeiro cartão amarelo, no escanteio, foi prova disso. E o segundo veio como puro reflexo do seu mal-estar psíquico.
fdsPaulo Baier não foi juvenil. Foi apenas humano, demasiado humano.

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fdsO treinador do Atlético precisa parar de falar algumas bobagens pseudo-motivacionais.
fdsDentre tantas, aquela dita em relação ao volante Valencia, quando veio afirmar que ele não pode ficar preso atrás e só marcando, deve se soltar, ir à frente, atacar, armar, pois tem qualidade etc.
fdsMentira! Quer enganar quem? Ora, o Valencia é um cavalo, um grande marcador, incansável, valente e voluntarioso. É um monstro na perseguição adversária e no combate. Contudo, não faz três embaixadas e não acerta passe de 3 metros. Não consegue. Não nasceu para isso. E, até a chegada deste novo treinador, nem precisava.
fdsOra, o volante colombiano nasceu para carregar piano, não para tocá-lo. E todo grande time precisa de alguém assim. Em suma, com ele e dois (ou três) zagueiros, a marcação; com os outros sete (ou seis) jogadores, a criação. E fiat lux.
fdsCaso o nosso treinador não volte atrás e não o faça fazer apenas o que sabe, Valencia será eterno candidato a pior em campo.
 
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fdsNão dá. Não, o Netinho não dá. Escale-se dez, menos ele. O mesmo serve para a grande frustração Raul, o homem de um jogo só.

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fdsConsidero o beque Danilo um dos piores jogadores que já passaram pelo Atlético. Um dos piores e mais repugnantes, característica essa que não me deixou surpreso com as suas atitudes no jogo de ontem, quando cuspiu -- o que é muito pior e mais covarde que um soco, um pisão ou uma cabeçada -- e cometeu injúria racial -- o que é muito pior e mais covarde, repito, que socos, pisões ou cabeçadas -- contra a maior revelação rubro-negra, o zagueiro Manoel.
fdsPorém, e particularmente em relação ao segundo gesto, levá-lo adiante já acho demais. E aqui já nos pronunciamos.
fdsOra, é evidente que, em qualquer outro ambiente, essa ofensa deve ser veementemente reprendida, condenada e punida. Crime horrendo, sublinhe-se. Mas, vamos e venhamos, num jogo de futebol, oitavas-de-final de Copa do Brasil, 25.000 mil pessoas no estádio, temperatura quentíssima, querer exigir outros comportamentos...s
fdsAssim sendo, ao invés de ir chorar as pitangas para repórteres e policiais, o gigante negro atleticano deveria -- como outrora sugeriu Nêgo Pessoa -- ter respondido ao dito cujo palmeirense, com a mais absoluta elegância: "Vá pra puta que o pariu seu magrelo pançudo de merda!! Viado! Corno cor de cuia! Refugo filho de uma puta!"

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fdsÉ óbvio que os coxas são favoritos para o jogo de domingo: têm um time mais ajeitado, aparentemente mais estruturado, têm a única chance no ano de se mostrarem ativos e de recuperarem, ainda que mediante a conquista de um título regional, a desgastada autoestima -- vez que não conseguem se firmar na primeira divisão -- e, principalmente, têm a vantagem de jogarem pelo empate, cujo resultado, inclusive, desde já eu cravo.
fdsMas é aqui que, para eles, mora o perigo.
fdsAfinal, diante de tantos e tantos fracassos e vexames que ultimamente colecionaram, em casa, na disputa de jogos decisivos cujos resultados mergulhou-os nessas trevas totais, quem disse que vencer o Cascavel, na última e decisiva rodada, é fava contada?
fds

terça-feira, 13 de abril de 2010

# la cosa nostra


fdsPor aqui, a "Cosa nostra" vira le nostre Cose, ou seja, "as Coisas nossas".

fdsSim, o Brasil padece de máfias, de grupelhos organizados para fazer o mal e para assaltar os cofres públicos, cujo resultado é a matança de gente.

fdsAfinal, ainda que de modo mediato, os bandos que estão a dominar grande parte de toda a nossa estrutura estatal -- os "donos do poder", e, no caso particular, os donos da nossa Assembleia Legislativa -- estão a matar pessoas. E a associação e o nexo causal entre causa e consequência são inevitáveis.

fdsOra, enquanto a máfia italiana, la Cosa nostra, mata diretamente poucos e de repente, as máfias brasileiras, le nostre Cose, matam indireta e reflexamente em grande número e aos poucos, lentamente.

fdsE a constatação é notória e cruel: as máfias tupiniquins -- perfeitas associações entre uma parte nefasta do nosso aparelho estatal (burocratas, parlamentares e juízes) e a amplamente sórdida iniciativa privada (empreendedores, empreiteiros e empresários) --, via "superfaturamento", "peculato" ou "corrupção" -- ou mesmo via o emprego de capangas, fantasmas e nepotes incompetentes --, tiram dinheiro (i) da "saúde" (e dos hospitais públicos...), (ii) da "previdência social" (e da aposentadoria dos velhos e inválidos...), (iii) da "educação" e dos '"programas sociais" (levando os nossos filhos para o inevitável caminho do narcotráfico e da criminalidade em geral...), (iv) das "rodovias" (causando terror e acidentes pelas estradas a fora...), (v) da "remuneração" de policiais e agentes da saúde (contribuindo, pelos míseros salários oferecidos, para um ineficiente combate à criminalidade e para um ineficaz atendimento médico-hospitalar...) etc.

fdsOu seja, no final do ciclo há, sim, morte. Mortes, inúmeras. Afinal, é por causa de tais manifestações mafiosas -- e da "sonegação fiscal" -- que falta verba pública e que o erário é insuficiente. Sim, o nosso dinheiro não dá em árvore.

fdsE não sejamos tolos: como em toda e boa máfia, os nossos mafiusi conformam-se organizadamente, estrategicamente, ocultamente, raramente deixando rastros e invariavelmente comprando a mídia. La nuestra cosa está nos intestinos da República.

fdsSão, essas, as máfias no Brasil, as quais, em benefício próprio, sangram os cofres públicos e abocanham um numerário que seria suficiente para sustentar as mais diveras áreas e as mais amplas políticas públicas, cujas atitudes e cujo comportamento vem, piano, piano, matando a nossa brava gente.


fds

# e assim caminha a humanidade (xvii)


Enquanto isso, à hora do almoço, na regozijante companhia de um velho e querido amigo, eis que na saída ele se depara com um conhecido de longa jornada -- cujo filho inclusive comigo estudou --, o qual pertence a uma rica família e à velha classe dos adêvogados.

Conversa vai-e-vem, breve e tranquila, sobre a vida familiar e profissional de cada um, até que o dito cujo olha para nós e dispara, com cara de raiva:

- "... enfim, se esses governo (sic) aí não atrapalharem, o Brasil segue em frente..."

O meu grande amigo, de pronto, como se quisesse confortar o ar de revolta do seu colega, rebate:

- "Pois veja bem, não sou da área e não pertenço à classe ou viés político algum, mas, diariamente, pelas estradas e aeroportos da vida e pelo roteiro CWB-CGH-FLP que quase semanalmente faço, vejo tráfego, negócios, comércio, gente e trabalho a pulsar... e então me pergunto o que há que tanto tantos reclamam da economia do Brasil..."

O sujeito, então, não deixa por menos, e começa com aquela cantilena típica da classe média-alta brasileira, ultraconservadora e pouco inteligente:

- "Ah, mas tudo isso 'tá assim graças ao Plano Real... os resultados de hoje ocorrem por causa daquela época... e hoje 'tá essa pouca vergonha... agora tem que parar de gastar dinheiro nisso aí (?), em corrupção (?) ... e tem que dar pra iniciativa privada tocar o país, pois já que não tem condições, já que não tem capacidade... ah, se esquece completamente da infra-estrutura... fui agora para Maringá, e a estrada está um lixo, e paguei uma fortuna de pedágio... ".

Imediatamente, cessa o papo entre eles, eu não me digno a nada comentar, há os recíprocos cumprimentos e, arrivederci.

Bem, não se pode deixar de apreciar a estabilidade financeiro-monetária alcançada com as políticas do Plano Real -- criadas, lembre-se, à época de Itamar Franco; porém, acreditar que a reviravolta do Brasil, o seu crescimento, o seu desenvolvimento e as políticas de inclusão econômica, social e humana promovidas não têm os seus únicos e exclusivos méritos neste atual Governo Federal, muito à parte do que Dom FH II fez (e desfez, com a pirataria das privatizações), é ingenuidade, obtusidade córnea ou má fé cínica, como diria Eça.

Ora, é óbvio que o sujeito é mais um daqueles que assina Veja, não perde o Jornal Nacional, fascina-se com as manchetes dos jornalões e ama o vale-tudo do mercado que afundou a Europa e estremeceu os EUA, locais esses onde o Estado foi o grande salvador das respectivas pátrias.

É mais um daqueles que partidariamente -- sem o saber que assim age... -- e sem qualquer noção republicana, acredita que o mundo é o seu castelinho onde pobre e periferia são coisas que existem por culpa do Estado e onde só um governo conservador, de direita, demo-tucano, salvará.

É mais um daqueles que entendem os projetos de redistribuição de renda, de garantia de uma renda mínima, de política externa, de agricultura familair, contra a desnutrição e mortalidade infantil, contra o analfabetismo, para emprego, salário mínimo e crescimento do PIB, do PAC, do PNH, do PDE, do Mais Saúde, da Petrobrás etc. É, pois, mais um que não enxerga o novo retrato sócio-econômico -- embora ainda em construção -- do novo Brasil.

É mais um que crê em 500 anos de probidade e que corrupção, prevaricação, escatofagia e sacanagem com dinheiro público são fenômenos deste atual governo federal. Não enxerga, pois, que há apenas a explosão de parte das coisas nebulsoas, ocultas e transparentes -- as quais sempre caracterizaram o nosso país --, tornando-as, pois, visíveis à mídia e à população, para que cobremos resultados e expurguemos os picaretas do cenário político.

É mais um que não gosta (?) do "jeito" bronco de Requião, nem do "jeito" tosco de Lula, e assim prefere as polidas e poliglotas ratazanas de outrora, que esquecem do povo e do erário, exortam o modelo neoliberal e endeusam o rei-mercado.

É mais um daqueles que acredita ser sempre (e tudo) culpa do Estado, mesmo num caso, por exemplo, por ele mesmo citado, das rodovias do interior do Paraná, as quais são privatizadas, pedagiadas e péssimas. Para ele, portanto, não cabe o argumento da privataria privatista. Crê que a iniciativa privada é inimputável.

Enfim, culpá-lo e condená-lo? A princípio sim, claro. Mas, como um bom cristão, poderia ficar com Lucas (23:34): "Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem".

E muito menos o que dizem.


sábado, 10 de abril de 2010

# kátia flávia


fdsKátia Abreu! Kátia Abreu! Kátia Abreu!
fdsEm uníssono, este blog torce (e clama, e vibra, e acende vela, e promete lançar exocets...) pela confirmação desta exótica espécime -- sim, a godiva do latifúndio, a morenaça belzebu, a senadora da UDN/ARENA/PFL/DEM pelo Tocantins -- como candidata à vice- presidência na chapa de José Serra, na chapa demo-tucana (v. aqui).
fdsAlô cidadãos!
fds"Alô, Polícia!..."
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quinta-feira, 8 de abril de 2010

# guaratubando


fdsO Sr. Nelson Justus, deputado e presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, criou a "Guaratubanda", o maior bloco de carnaval da maior cidade do litoral paranaense; porém, a "Guaratubanda" derivou para um grupo menor, o "Guaratubando".
fdsQuem cunhou a expressão foi o "Maxblog", ao enfatizar que o Guaratubando não pula carnaval, mas pula a Constituição, a Lei contra a Improbidade Administrativa, as leis ambientais, entre outras, pois, dentre tantas mutretas, cria cargos públicos e extrai palmito ilegalmente; no blog, ainda, um résumé do que o "nobre" Deputado faz e desfaz com a nossa Guaratuba (v. aqui).


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# rubro-negras (v)


fdsAtlético e Operário fizeram um jogo de várzea, no qual ocorreu de tudo, inclusive uma arbitragem das mais burras e ruins que já vi. E certamente não foi propositadamente assim, embora devesse, para que ficasse ao nível da maioria dos jogadores.
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fdsÉ raríssimo golaço em pênalti. Mas Alan Bahia consegue, a cada cobrança, fazê-lo, em especial naquelas em que deixa o guarda-redes estatelado, largado, esquecido num canto e com cara de tacho, enquanto, como se dele zombasse, dá uma cutucada no lado oposto. Nelson Rodrigues diria que nesses momentos o goleiro recebe uma brusca consciência ética da humilhação, e com ela sangra. A paradinha é mesmo sensacional.
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fdsPaulo Baier pensa 1 segundo na frente de um ou outro, 1 hora na frente de meio time e 1 dia na frente de todo o resto do grupo atleticano. É a falta de qualidade aliada à falta de inteligência. Algo digno de medo.
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fdsQuem era o excelente back que vestiu a camisa 4 rubro-negra na vitória de ontem e que não perdeu uma bola? Parece-me que finalmente o Atlético encontrou o seu quarto-zagueiro. Ou não?
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fdsO time e o elenco continuam sofríveis, muito fracos. Basta ver o nível daqueles que entram e saem, daqueles que nem entram e, pior, daqueles que quase nunca saem. Às vezes, neste torneiozinho chinfrim, pego-me torcendo pontual e momentaneamente contra, tão-somente para evitar o oba-oba de um título regional que os mascare e que apenas sirva para a Diretoria continuar a enganar e iludir a grande parte da gigantesca e coitada torcida para a iminente batalha do Campeonato Brasileiro. Temo que nos sintamos on the green mile.
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fdsNesta quinta-feira à noite os coxas jogam contra o time menos pior do interior (Irati), cientes da obrigação de vencer e, pois, atacar. Isso dificulta qualquer jogo, em especial por se tratar de um adversário cuja diretoria é coirmã da diretoria do Atlético. Ingenuidade pensar que ambos os fatores não tenham importância.
fds

quarta-feira, 7 de abril de 2010

# justus e ímprobos


fdsSob a ótica cristã, em princípio ninguém é o mal, vez que à imagem e à semelhança divina -- na verdade, a existência do mal advém, pois, do "livre arbítrio", como ensina Santo Agostinho. E, diz o adágio popular, ninguém é de todo o mal, na medida em que, ao menos no interesse dos seus, parece que a pessoa consegue, quase sempre, demonstrar e agir com bondade.
fdsA "Gazeta do Povo", o maior jornal do Paraná, é notório pela campanha crítica (e negativa?) que faz do Governo do Paraná, não pelo viés de esquerda e estatizante das políticas públicas implementadas -- e, portanto, não pelo viés ideológico, o que até justificar-se-ia --, mas, fundamentalmente, porque talvez não receba um tostão de dinheiro público para propaganda, vendo secar uma fonte milionário dos tempos de Jaime Lerner.
fdsEntretanto, honra seja-lhe dada pela série de reportagens cirúrgicas, investigativas, jornalísticas e de máximo interesse público que está a promover sobre as falcatruas, a corrupção e as picaretagens existentes na Assembleia Legislativa do Paraná. São, portanto, absolutamente imperdíveis, dignas daquelas de serem lidas para os cegos e analfabetos, explicadas para os néscios e repercutidas por todos os cidadãos do nosso brasil-sil-sil-sil (v. aqui).
fdsA apresentar como il capo di tutti capi o Sr. Nelson Justus -- já que, além da "qualidade" (?) de Presidente da nossa Assembleia, mostra-se bastante "envolvido" no enredo --, a Gazeta do Povo a cada dia revela, mais e mais, a ganância e a escatofagia de grande parte dos agentes parlamentares e dos diretores daquela Casa -- como a figura bizarra e caricata do tal "Bibinho" (Abib Miguel), diretor-geral e serviçal de todos por 20 anos, antes onipresente e hoje um quase foragido... --, a podridão e a luxúria nas quais se sustentam, o descaso e a sacanagem com a causa pública, os desvios e a apropriação de dinheiro público e a falta de vergonha, de honradez, de ética e de moral (v. aqui).
fdsAs reportagens mostram centenas de pessoas a se beneficiarem das influências e do poder dos homens que comandam a Assembleia; as reportagens escancaram a rede de influências dos deputados nos municípios do Estado -- como, p. ex., a zombaria à moralidade pública que se promove na nossa querida Guaratuba; as reportagens, ainda, demonstram o enriquecimento incompatível com as respectivas realidades profissional e salarial (e, pois, potencialmente ilícito) de tantos picaretas e bandidos que se julgam acima do bem-e-do-mal ou, pior, creem que fama&fortuna não tem preço; as reportagens, enfim, deixam a nu o que todos nós sempre desconfiamos: os parlamentares pensam que o serviço público é um favor e que o dinheiro público é da Mãe Joana.
fdsNão me importa a razão para tão certeira autópsia, para tão fantástica dissecação, não cadavérica, ao vivo e a cores. Sim, os fins justificam os meios e os seus motivos determinantes, caso tenha-se por objetivo, real e imediato, o interesse público e popular e desde que tudo esteja apartado e distante do locupletamento pessoal.
fdsResta, agora, que as instituições públicas responsáveis pela investigação criminal, pela tutela dos interesses da sociedade e pela repercussão jurídico-política dos fatos, nomeadamente as polícias civil e federal e os ministérios públicos estadual e federal, arregacem as mangas e não deixem restar pedra sobre pedra naquele templo, destruindo até os seus alicerces... (Mt, 24:1-3).
fdsÀ Gazeta do Povo, os devidos lauréis pelo jornalismo investigativo e combativo.


terça-feira, 6 de abril de 2010

# no lugar certo?


fdsPor que cargas d'água os Tribunais de Contas não se conformam como um órgão do Ministério Público e dele façam parte integrante e a ele se subordinem, desvinculando-se de vez das convenientes amarras do Poder Legislativo?
fdsA justificar uma emenda constitucional, parece-me que o nosso parquet goza de um pouco mais de independência, de credibilidade, de impessoalidade, de eficiência, de...
fds

 

# as reservas do possível, do razoável e do justo

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dsE finalmente (e definitivamente) o Superior Tribunal de Justiça (STJ) debruça-se sobre a questão da saúde e o desafio de ponderar demandas individuais e coletivas (v. aqui).
fdsNão é de hoje que a Justiça se tornou refúgio dos que necessitam de medicamentos ou de algum procedimento não oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS); porém, não é de hoje também que há uma máfia a envolver laboratórios, médicos, advogados e laranjas cuja fim é lesar o erário e apropriar-se de dinheiro público (e mesmo privado) -- sobre o grande tema, v. aqui.
fdsSim, a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado, cuja prescrição constitucional arrombou as portas dos tribunais para a tal "judicialização da saúde".
fdsTodavia, como dinheiro público não dá em árvore, exsurge a questão: privilegiar o individual ou o coletivo? De um lado, a participação do Judiciário significa a fiscalização de eventuais violações por parte do Estado na atenção à saúde. Mas, de outro, o excesso de ordens judiciais pode inviabilizar a universalidade da saúde, um dos fundamentos do SUS.
fdsO senador Tião Viana (PT/AC) milita contra a judicialização da saúde. Segundo dados divulgados pelo senador, haveria no Brasil um movimento financeiro da ordem de R$ 680 milhões em compras de medicamentos decididas por ordens judiciais. Ele chama de “temerosa” a tendência de se substituir um pensamento técnico e político de gestão da saúde pela decisão de um juiz.
fdsJá neste ponto, um dos ministros do STJ, Teori Albino Zavascki, bem afirma que não existe um direito subjetivo constitucional de acesso universal, gratuito, incondicional e a qualquer custo a todo e qualquer meio de proteção à saúde, que o direito à saúde não deve ser entendido “como direito a estar sempre saudável”, mas, sim, como o direito “a um sistema de proteção à saúde que dá oportunidades iguais para as pessoas alcançarem os mais altos níveis de saúde possíveis”.
fdsPor seu turno, outro ministro do STJ, Luiz Fux, afirmou que, sendo comprovado que o indivíduo sofre de determinada doença, necessitando de determinado medicamento para tratá-la, o remédio deve ser fornecido, de modo a atender ao princípio maior, que é a garantia à vida digna, mas que, antes, deve-se preciso investigar a condição do doente.
fdsE como um caso prático e recente decidido pelo STJ, o ministro Benedito Gonçalves advertiu que as ações ajuizadas contra os entes públicos, para obrigá-los indiscriminadamente a fornecer medicamento de alto custo, devem ser analisadas com muita prudência. Na ação, um paciente de Minas Gerais havia ingressado na Justiça para garantir o recebimento de uma droga nova para o tratamento de psoríase, prescrita por um médico conveniado ao SUS. O pedido foi negado porque se entendeu não haver direito líquido e certo do paciente, já que o SUS oferecia outros medicamentos para o tratamento, e, ainda, não haveria comprovação de melhores resultados com o novo remédio.
fdsO ministro Benedito Gonçalves observou que, ao ingressar na esfera de alçada da Administração Pública, o Judiciário cria problemas de toda a ordem, como o desequilíbrio de contas públicas, o comprometimento de serviços públicos, entre outros.
fdsPara ele a ideia de que o poder público tem condição de satisfazer todas as necessidades da coletividade ilimitadamente, seja na saúde ou em qualquer outro segmento, é utópica.
fdsImpulsionado pleo Judiciário, é um dos grandes passos necessários para o Brasil continuar a enfrentar o problema da supremacia do particular (e do individual) sobre a coletividade (e a sociedade).
fdsE nestas, como em várias outras áreas, este Brasil governado pelo Presidente Lula não se furta a avançar.
fds

segunda-feira, 5 de abril de 2010

# caráter


fdsUm poema magnífico, escrito por Sidônio Muralha, escritor português combatente da ditadura de Salazar e que, no seu exílio, morou e morreu em Curitiba, no ínicio dos anos 80.
fdsO tema, entretanto, tem para muitos homens públicos o inconveniente e o infortúnio de não conseguir ver (e ter) vestida a carapuça.

fds

quinta-feira, 1 de abril de 2010

# novo carrossel


fdsQuase duas da manhã. Acabo de assistir ao jogo gravado desta tarde, pelas quartas-de-final da Liga dos Campeões da Europa, entre Barcelona e... um coadjuvante.
fdsHá tempos, ou melhor, nunca, nunca vi um time de futebol -- e conte-se de 1990 pra cá, época a partir da qual passei a mais conhecer o futebol -- jogar o que o Barcelona jogou nos 30 minutos iniciais da partida. Um espetáculo. Uma máquina de jogar futebol. Uma máquina que enfrentou, fora de casa, um time que parecia saído do interior de São Paulo ou de algum rincão do Brasil.
fdsNum esquema capaz de causar convulsão e agravar qualquer labirintite, o time catalão deu aula, colocou na roda e esmagou o adversário como nunca vi numa partida deste nível.
fdsSe alguém ainda não viu aquela Holanda de 74 jogar -- e, claro, veja! --, ouso afirmar que assistir o time espanhol -- desde o ano passado, sublinhe-se (v. aqui) -- pode ser suficiente. Marcação pressão, time sempre avançado, alas-ponteiros, jogadores a se misturar e a se deslocar incessantemente, um maestro (Xavi), um craque (Messi), uma trinca de marcadores afinadíssima (Piquet, Puyol e Busquets), um treinador inteligente e criativo, e, principalmente, uma equipe capaz de promove uma troca de passes ao mesmo tempo robótica, medúsica e genial, 24 frames por segundo.
fdsUma delícia, um desbunde. O rude esporte bretão na sua mais esplêndida acepção. O rude esporte bretão como sonhamos ser sempre.
fdsPorém, por alguma preciosidade dos deuses do futebol, o jogo acabou empatado. Mas a submissão e o massacre impostos pelo Barcelona ficarão na memória de qualquer um que presenciou este jogo.
fdsE em especial dos ingleses torcedores do multimilionário Arsenal, o tal do time coadjuvante.
fds