sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

# chios da gruta



"O Brasil não quer mais o PT!"

Legítimo desejo, inclusive.

Afinal, isso é democracia e 40% da população assim se manifestou nas urnas em outubro de 2014.

Esquece-se, contudo, que para "não querer mais" é preciso esperar três anos e votar de novo.

E tentar ganhar as eleições.

E isso também se chama democracia.

Ocorre que o mantra entoado por múmias paralíticas, zumbis, planárias, juristas de aluguel e, claro, pela velha mídia de sempre, não quer saber desse negócio de "democracia".

E, pois, vale-se da raiva, do preconceito, da vigarice e do "vamos-tirar-este-bando-de-petralhas-do-poder-em-nome-de-jesus-da-família-e-do-brasil" para virar o tabuleiro, romper com as regras do jogo e tirar na marra uma mulher legitimamente eleita e sobre a qual não paira nenhum -- nenhum! -- fato criminoso.

Há dezenas e dezenas de textos por aí que já bem explicaram, em detalhes, que não existe nenhum -- nenhum, repita-se -- fato criminoso que possa ser imputado à Presidenta Dilma.

Sob o ponto de vista das ciências jurídico-políticas, qualquer interpretação diversa dessa não é exercício hermenêutico, mas, simplesmente, um escárnio.

O achismo popular, a rapinagem midiática, a vagabundagem técnica, o oportunismo barato do baixo clero e a má-fé cínica dos adversários, entretanto, não dão ouvidos a isso.

Querem, ao contrário, com o circo republicano já em chamas, aproveitar as brechas abertas a fórceps pelo deputado-chefe do Congresso -- cuja envergadura moral não alcança as cócoras de um anão -- para ir na jugular do Governo e da soberania popular.

Pelas redes sociais, pelos blogs da direita e pelos portais da velha mídia, escorre o chorume que hipnotiza e do qual se lambuza a malta revoltada.

Para este bando que empunha faixas e vestes verde-amarelas pelas orlas brasileiras pedindo "impeachment", o que importa é simplesmente materializar o ódio (v. aqui).

Não, o "impeachment" não serve como instrumento para cassar mandato de quem não gostamos.

Tão-pouco serve como desculpa para encerrar precocemente governo ruim -- o "recall", adotado em países como, vejam só, a Venezuela, não tem aplicação no Brasil.

O "impeachment", meus poucos mas fiéis leitores, é medida extrema, constitucionalmente prevista, com especificidade e rito legais, que serve para destituir quem dolosamente comete crime de responsabilidade.

Não serve, jamais, para romper com o Estado Democrático de Direito.

Porém, isso não importa.

O que importa é a fúria que, desde a quarta vitória petista, há doze meses, infecta as mentes pouco lúcidas de uma parte do Brasil em busca do caos (v. aqui).

O que importa é não deixar Dilma governar -- e, a propósito, o que me parece a sua tese: podem não me deixar governar, mas se investigará tudo e todos até não sobrar pedra sobre pedra da arquitetura carcomida, secularmente mal-acabada, desta nossa República.

O que importa é tirar o foco do sistema político-econômico para se fartar sobre o fetiche da "corrupção", um mal descoberto há doze anos e grão-responsável por tudo e todos (v. aqui e aqui).

O que importa é o contínuo desgaste e constrangimento institucionais para a perpetuação de políticas econômicas absolutamente contrárias àquelas que o norte vencedor das eleições apontava (v. aqui).

O que importa é perenizar o "toma lá, dá cá" do jogo político de coalizão, levado à risca pelo Governo na busca quixotesca de uma tal governabilidade -- aliando-se inclusive aos mentores, patrocinadores e capitães deste golpe -- que muito bem serve às máfias e à plutocracia de plantão (v. aqui).

E mais do que isso: o que importa mesmo é fazer de tudo para que Lula não saia candidato em 2018 (se houver...).

Sim, para a direita brasileira imaginar a volta de Lula é o maior pesadelo da Terra.

Mal sabem que, derrubando Lula, ganhará Ciro Gomes -- e talvez ninguém abomine tanto os tucanos (e a lógica conservadora) quanto Ciro (v. aqui) -- ou mesmo um dos dois melhores governantes da atualidade: Flávio Dino (Governador do Maranhão, do PCdoB) ou Fernando Haddad (Prefeito de São Paulo, do PT).

Afinal, pelas urnas, esta gente que hoje chia de suas cavernas a melodia do golpe paraguaio nunca mais volta.

E, por isso, das trevas saem para querer sequestrar o Brasil.

No pasarán!