Finalmente fizeram-me conhecer o tal orkut.
Há tempos, neste horizonte da internet, não constatava tamanha aberração, pluri-sensorial: mental, cultural, social, físiológico etc. Enfim, algo bizarro.
Antes, de início, soube que os brasileiros somos os maiores utentes deste troço.
Péssimo sinal: em linguagem nada criptografada, significa sermos, talvez, o povo mais desocupado do planeta.
Há quem diga que este clube não passa de mais uma conseqüência inútil da vida online.
Há quem o considere uma vil panelinha virtual.
Se entendi um pouco da sua idiota mecânica, afora àquela ladainha de que entra quem quer, trata-se da quase-perfeita união entre estas duas teses e outras tantas bestialidades, nas quais não consigo encontrar um pouco justificado motivo para o ingresso.
No clubinho há espaço para tudo -- um breve conhecido, a concunhada gente fina, a nora da irmã da calista da secretária, o moço que traz o gás, adolescentes, vigários-gerais, cães...
Ora, o que leva a massa a desabrochar seus sentimentos em busca de relações minguadas em um fel contagioso onde qualquer um entra e pode ver - eis, então, a princípio, a cultura do grande irmão, trazendo seres que rompem continuamente a sua privacidade, os seus dados, a sua alma; e, a posteriori, o universo das sacanagens atômicas, ou melhor, à bits, indecifráveis, indestinadas e imbecis.
Na esteira, vêm as anomalias cultural, mental e física havidas neste tal clubinho.
O que interessa-me pensar é: por quê? O que são aqueles porta-retratos virtuais que os selecionáveis dispõem no ecrãn? Vêem-se poses mil, com roupas e nus estrategicamente expostos, com pinturas na cara e muques constrangedores que fazem a autofagia de cada clubenauta.
E as “citações testemunhais”? Percebo que o brilhante clube tem um espaço para recados do coração, no qual todos os clubenautas sabem, com nome, cara e quase cpf, de quem e para quem vão as declarações.
Assim, com tudo isso visceralmente exposto, acabam-se as cartas intimamente dirigidas, acabam-se as descobertas à dois, olho no olho, instigantes, particulares, românticas -- tudo em prol de uma rede de centenas de "friends" que surgem após meu nome, entre meus parênteses, restando em números frios, vazios e que, no máximo, nos remetem à uma época rançosa, traduzidas em uma operação de soma zero.
E os "fãs"? Como grande consolo para os não-artistas ou não-boleiros, eis que surgem, de um nada (absoluto ou relativo), seres que te assumem como tal e, mesmo com tamanha puxada-de-saco, permanecerão olvidados em algum canto baldio da tua vida. E as risonhas carinhas amarelinhas ao lado de pulsantes coraçãozinhos vermelhinhos que ilustram o perfil do infeliz?
E, então, eis que surge o maior caos, o caos social, que vai sim, rechear-se de demagogia, de hipocrisia, de superficialidade, de mecanização das relações.
Só porque você encontrou aquele estúpido que nem se lembrava, lá da quarta série, acha bacana? Ou somente porque você é fã daquele seu amigo superbacana acha interessante estrumar algumas palavras ali, na tela, bacana? Ou será que toda essa gente se engana ou então finge que não vê?
E o que dizer do “perfil” que cada um oferece: gosto de ler nietzsche, sou parda e simpática, i don't need labels, tenho aracnofobia e uso pasta dental crest menthol extra-light.
Ora, para que me interessa saber o que fulanos, beltranos e cicranos fazem das suas vidas?
As pessoas têm amigos e relacionamentos que permitem e velam por tal abertura, por tais (re)conhecimentos, por tais intimidades recíprocas... agora, fazer desse clubinho uma vitrine humana, que nos fazem reféns diários de novos contatos, de um encarniçado networking e de mais números entre parêntesis é certamente execrável.
E lastimável, pois, da mesma forma que não podemos perder ou mascarar nossa indentidade, não permitamos escancará-la -- e ninguém me convencerá deste contrário.
Em breve, a realidade dirá quanto desta árvore virtual restará inútil (ou criminosa) para estes prosélitos e, comme il faut, se verá que esta rede não passou de outro funesto modismo acolhido por um infausto contingente humano e que não deixou restos, úteis ou recompensadores.
Porém, são modas, que vem e que vão, assim como a moda de não-ser-do-orkut...
E, então, eis que surge o maior caos, o caos social, que vai sim, rechear-se de demagogia, de hipocrisia, de superficialidade, de mecanização das relações.
Só porque você encontrou aquele estúpido que nem se lembrava, lá da quarta série, acha bacana? Ou somente porque você é fã daquele seu amigo superbacana acha interessante estrumar algumas palavras ali, na tela, bacana? Ou será que toda essa gente se engana ou então finge que não vê?
E o que dizer do “perfil” que cada um oferece: gosto de ler nietzsche, sou parda e simpática, i don't need labels, tenho aracnofobia e uso pasta dental crest menthol extra-light.
Ora, para que me interessa saber o que fulanos, beltranos e cicranos fazem das suas vidas?
As pessoas têm amigos e relacionamentos que permitem e velam por tal abertura, por tais (re)conhecimentos, por tais intimidades recíprocas... agora, fazer desse clubinho uma vitrine humana, que nos fazem reféns diários de novos contatos, de um encarniçado networking e de mais números entre parêntesis é certamente execrável.
E lastimável, pois, da mesma forma que não podemos perder ou mascarar nossa indentidade, não permitamos escancará-la -- e ninguém me convencerá deste contrário.
Em breve, a realidade dirá quanto desta árvore virtual restará inútil (ou criminosa) para estes prosélitos e, comme il faut, se verá que esta rede não passou de outro funesto modismo acolhido por um infausto contingente humano e que não deixou restos, úteis ou recompensadores.
Porém, são modas, que vem e que vão, assim como a moda de não-ser-do-orkut...