Façamos uma análise comparativa, entre Parreira (o Kiko carioca) e Felipão (o Scolari português) e, para então atingir um buraco mais embaixo.
Parreira, um burocrata, veio com meticulosas análises técnico-táticas, a valorizar esquemas, números, nomes, marketing e, principalmente, a adotar uma política inerte, a seguir tudo, por completo, à risca e com plena e irrestrita submissssão aos ditames da confederação, sem independência e sem nunca arrostar seus dirigentes e seus superiores, assim como tornar intocáveis tantos nomes ultrapassados e deslocados. Ademais, há décadas enxergamos no jogo dele um time chato, igual, sem mudança, sem motivação e à espera de um ou alguns seres supremos para salvar (romário, que fez, ou um quadrado, que nada fez). Assim, o seu comportamento traduz-se à imagem e à semelhança do comportamento da nossa cúpula governamental, ambos como serviçais do capital, com o treinador à mercê dos cartolas e patrocinadores e o presidente ainda subjugado à fisiologia dos congressistas e à estúpida burguesia dos 40 mil da daslu. Isso ocorreu em 94, isso ocorre agora.
Felipão, um líder, buscou na superação e na total entrega individual, no tête-à-tête, na base da força e da harmonia do conjunto, um novo jeito de jogar. Renegou carimbos, nomes e pedidos para abusar de uma sábia autoridade, de uma franca rigidez e de um cabresto inteligente, eficaz e funcional, responsáveis por ótimas conseqüências. Desdenhou fórmulas, revisou concepções impostas e fugiu do famigerado pensamento único, a ceder espaço para um novo caminho, uma nova via. Fez do apelo popular (aqui e em Portugal) o instrumento para conquistar a confiança e do total aproveitamento para alcançar o respeito e a admiração do povo e das nações. Colocou no devido e mal-cheiroso lugar a confederação, seus dirigentes, os caciques nacionais e uma estúpida cartilha de viciadas regras, de relativos bons-costumes e de expressa vassalagem. Buscou reviver e reciclar uma forma de conduzir a cabeça e o espírito dos atletas, em uma exata mistura de competência e profissionalismo com um romântico altruísmo. Isso ocorreu em 2002, isso ocorre agora.
Com nosso país, tal qual, acredito que as regras do jogo também precisam ser revistas, pois há a urgente necessidade por uma transformação do sistema político, econômico e, principalmente, social; devemos tirá-lo da vala comum e não podemos aguardar impassíveis a benção divina para sair do subdesenvolvimento e da corrupção.
Hoje, necessitamos, desejamos e clamamos por um Felipão, como um basta a tantos homens da estirpe de Parreira. Porém, isso nunca ocorreu, mas em outubro temos a chance de fazer isso ocorrer agora.