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Há tempos tinha este sentimento, e hoje, atônito, percebo que realmente boiamos em uma temerária maré preconceituosa e movediça, ainda que jamais tenhamos nela mergulhado ou dela saído.
Há tempos tinha este sentimento, e hoje, atônito, percebo que realmente boiamos em uma temerária maré preconceituosa e movediça, ainda que jamais tenhamos nela mergulhado ou dela saído.
Talvez pior, não me refiro aos freqüentes casos de abjeta selvageria recíproca entre negros e brancos planeta adentro; na verdade, entretenho-me a uma questão, ainda que de somenos importância, de grande utilidade sentimental, à medida que, lastimoso, observo que um grande ícone nacional está a sumir das nossas panelas cotidianas: o feijão-preto.
Já poderia admitir a globalização ou mesmo a irretroativa busca por uma elitização na sociedade em múltiplas e infinitas áreas; porém, hoje, ao abrir a geladeira para pegar a marmita amanhecida e verificar que ele não lá estava, foi muito, foi demais.
“Todos cederam!”, cá pensei, num grito triste. Indaguei-me acerca do que mais (e melhor) poderia acompanhar tomates, arroz, bife e batatas. Na real, quase lacrimosos, os meus olhos doíam ao enxergar no fundo do marmitex aquelas sementes marrons (ou brancas, como insistem em chamar a gastronomia) a substituir as boas e velhas pretinhas.
Com pesar, tenho ouvido amiúde idéias orientadas à fidelização do feijão-preto, de modo único e exclusivo, à feijoada; afora ela, em nada mais ele será permitido. Desconfio, já cabisbaixo, que essa verdade agasalha-se de uma realidade fática, pois noto que a massa não percebe essa alteração. Logo, dentre tantos outros episódios, irrefreáveis, que nos assolam e nos maculam, salta aos olhos o descaso com o nosso escurinho.
A mundialização da vida e da economia abriu espaço para tudo e para todos, permite o consumo das mais exóticas e inúteis coisas, colabora com a progressiva pesquisa cientifica na descoberta dos mais variados cruzamentos genéticos, mas, jamais, poderia permitir ou impassibilizar-se diante do triunfar de carioquinhas, fradinhos, rosinhas, manteigas, jalos, rajadinhos e roxinhos em detrimento do nosso feijão-preto. Ainda mais quando trocado por um branco! E mais: nem mesmo o indeciso feijão-mulatinho pode invocar, ainda que via o malfadado sistema de quotas, seu ingresso, seja alternativo ou substitutivo!
Por um lado, é passivo de entendimento que a comodista e egoísta elite -- que pensa ser aristocrática -- pretenda trocar estas e outras coisas quilombeiras, que nos remetem às raízes, por algo mais europeu, mais branco, mais azul; mas, esquecemo-la: o burguês de feijão-preto é algo tão incompatível como a madame de samba.
Assim, resignado, acredito numa épica busca pelo regresso do pretinho à classe média. E mais, em defesa da não-desfiguração do prato nacional, proclamo, urgente: "proletários de todo o Brasil, uni-vos!".
Já poderia admitir a globalização ou mesmo a irretroativa busca por uma elitização na sociedade em múltiplas e infinitas áreas; porém, hoje, ao abrir a geladeira para pegar a marmita amanhecida e verificar que ele não lá estava, foi muito, foi demais.
“Todos cederam!”, cá pensei, num grito triste. Indaguei-me acerca do que mais (e melhor) poderia acompanhar tomates, arroz, bife e batatas. Na real, quase lacrimosos, os meus olhos doíam ao enxergar no fundo do marmitex aquelas sementes marrons (ou brancas, como insistem em chamar a gastronomia) a substituir as boas e velhas pretinhas.
Com pesar, tenho ouvido amiúde idéias orientadas à fidelização do feijão-preto, de modo único e exclusivo, à feijoada; afora ela, em nada mais ele será permitido. Desconfio, já cabisbaixo, que essa verdade agasalha-se de uma realidade fática, pois noto que a massa não percebe essa alteração. Logo, dentre tantos outros episódios, irrefreáveis, que nos assolam e nos maculam, salta aos olhos o descaso com o nosso escurinho.
A mundialização da vida e da economia abriu espaço para tudo e para todos, permite o consumo das mais exóticas e inúteis coisas, colabora com a progressiva pesquisa cientifica na descoberta dos mais variados cruzamentos genéticos, mas, jamais, poderia permitir ou impassibilizar-se diante do triunfar de carioquinhas, fradinhos, rosinhas, manteigas, jalos, rajadinhos e roxinhos em detrimento do nosso feijão-preto. Ainda mais quando trocado por um branco! E mais: nem mesmo o indeciso feijão-mulatinho pode invocar, ainda que via o malfadado sistema de quotas, seu ingresso, seja alternativo ou substitutivo!
Por um lado, é passivo de entendimento que a comodista e egoísta elite -- que pensa ser aristocrática -- pretenda trocar estas e outras coisas quilombeiras, que nos remetem às raízes, por algo mais europeu, mais branco, mais azul; mas, esquecemo-la: o burguês de feijão-preto é algo tão incompatível como a madame de samba.
Assim, resignado, acredito numa épica busca pelo regresso do pretinho à classe média. E mais, em defesa da não-desfiguração do prato nacional, proclamo, urgente: "proletários de todo o Brasil, uni-vos!".