Enquanto isso, numa tarde ensolarada da última sexta-feira, uma senhora, com trajes e jeitos peruísticos -- que, sabe-se lá a razão, insistia em puxar-me o saco --, totalmente sem noção e gabando-se por ser a parente dos anfitriões, solta essa, bem no meio de uma gente tão modesta, talvez por pensar que eu fosse um sulista ariano descendente da aristocracia escravocrata:
- ... porque, sei lá, sabe... eu não gosto de gente escura... não sei... não consigo gostar de preto.
- Ahn?!?! -- disparo eu, atônito.
- Ah, sei lá, não gosto viu, não adianta. Ui... -- grunhe aquela coisa com forma humana, a olhar para uma meiga e simpaticíssima mulher negra, que trabalhava naquela casa.
Na resposta, penso na minha esposa, na minha família, nos futuros anos de prisão... e, friamente, resolvo não esquartejá-la e trucidá-la. Apenas respondo:
- Como é que pode alguém, nos dias de hoje -- embora já nos dias de sempre -- pensar assim. Isso é inadmissível e criminoso! Não acha?!?
A mulher me olha, range os dentes, coça um dos chifres e sai, com o nariz empinado e o rabo a balançar.