Ouso ir na contramão e digo quão bem faz esse clima, esse tempo, esse cinza ameno, nem quente, nem frio, que evita suadeiras, evita o desgosto laboral e afugenta a preguiça, própria do calor infernal (ou do frio polar).
Nestes trópicos, neste sul, o sol parece ser inimigo da produção e da concentração. O sol, amigo da praia, dos chinelos e da bermuda, não combina com o nosso cotidiano e com o espírito da nossa gente, ambos tão distantes do que (bem) existe lá por cima.
O remoto passado de vida européia -- ou, talvez, o passado gaulês de minha outra vida -- faz-me relutar ainda mais em conviver harmoniosamente, nesta fase de trabalhos e estudos ininterruptos, com o arrebatador sol nosso de cada primavera & verão.
Para que o calor, quente, fervoroso e transpirante? Para que o frio, gélido, bruto e mumificante? Por isso que esse atípico clima fora de época regozija-me: somente um cinza-azulado, quase nublado, numa briga entre nuvens e sol que, a dispensar o frio, não permite o mais forte e asfixiante brilho do grande astro, a evitar assim a latente angústia por não viver fora destas quatro linhas.