Senti o jogo. Repito, senti o jogo, pois, longe, não pude vê-lo.
Naquele sábado, na capital do vizinho do Sul, passei os 9o minutos imaginando o quê e como tudo lá se passava, como quando criança com meus botões -- e neles, é sabido, o Clube Atlético Paranaense era sempre campeão, como agora está a ser, tamanho é o contra-fascínio que este momento de salvação nos provoca.
Essa louca fuga da segunda maior humilhação de um homem -- depois da traição da mulher amada, a queda para a segunda divisão do time do coração é o nosso mais trágico rebaixamento moral -- está a nos manter num estado tal que só em 1983, 2001 e 2004 gozamos igual.
Mas, nisso tudo, nesta sopa de dúvidas e de fracos sentimentos, o silêncio solitário da incógnita era mitigado pela conexão direta com um homem que me fez nascer e ser rubro-negro da baixada.
Em múltiplos e constantes bilhetes eletrônicos, via telemóvel, ele conseguia me fazer sentir tudo o que acontecia no jogo e ao redor dele.
A comunicação digital não tinha os ares regélidos e mecanizados de sempre, mas era contaminada pelo calor humano que descrevia pontualmente cada lance de perigo, cada gol perdido e cada gol marcado.
As mensagens deixavam de ter objetividade, para serem super-adjetivas; não eram mais tortas abreviações, mas cristalizações de cada homem de vermelho-preto que nos faz, há quatro rodadas, ter mais esperança deste quase-título que em muito breve chegará.
O herói desse meu jogo foi aquele que me fez atento e ciente de tudo o que acontecia naquele espetacular final de tarde em Florianópolis: Odemir, o informante fiel.