E para aqueles que ainda confiam e ainda acham o máximo essas mais bizarras formas de comunicação e de relacionamento pós-moderna -- v. aqui o que já publicamos, p. ex., sobre a "vitrine humana" do tal orkut --, cuja (mórbida) formosura creem não dever ser excluída do universo de nossas crianças e adolescentes, eis o relato, enviado por um grande amigo, que mostra a estupidez desta vida explícita e do espetáculo do ser fluorescente, que quer aparecer e ser visto:
"Após deixar seus livros no sofá ela decidiu comer um lanche e entrar online. Conectou-se com o seu nome na tela: "Docinho".
Revisou sua lista de amigos e viu que '"Meteoro" estava conectado.
Ela enviou uma mensagem instantânea:
Revisou sua lista de amigos e viu que '"Meteoro" estava conectado.
Ela enviou uma mensagem instantânea:
fds> Docinho: Oi. Que sorte que vc está aí! Pensei que alguém me seguia na rua hoje. Foi esquisito mesmo!
fds> Meteoro: Vc assiste muita TV. Por que alguém te seguiria?
fds> Docinho: Pois é. Acho que imaginei isso porque não vi ninguém quando virei.
fds> Meteoro: A menos que vc tenha dado seu nome online. Vc não fez isso, né?
fds> Docinho: Claro que não. Não sou idiota, vc já sabe.
fds> Meteoro: Você jogou vôlei depois do colégio hoje?
fds> Docinho: Sim e ganhamos!
fds> Meteoro: Ótimo! Contra quem? fds
fds> Docinho: Contra as Vespas do Colégio Sagrada Família. Seus uniformes são um nojo! Pareciam abelhas..
fds> Meteoro: Como se chama seu time?
fds> Docinho: Somos os Gatos de Botas. Temos garras de tigre nos uniformes.. São muito legais. Mas tenho que sair. Tenho que fazer minha tarefa antes que cheguem meus pais. Não quero que fiquem bravos. Tchau!
fds> Meteoro: Falamos mais tarde. Tchau.
Entretanto, Meteoro foi ao menu de membros e começou a buscar sobre o perfil dela. Quando apareceu, copiou e imprimiu. Pegou uma caneta e anotou o que sabia de Docinho até agora: Seu nome: Tatiane. Aniversário: Janeiro 3, 1993. Idade: 13. Cidade onde vive: Santo Antônio da Platina, Paraná. Passatempos: vôlei, inglês, natação e passear nas lojas.
Além desta informação sabia que vivia em Santo Antônio da Platina porque ela lhe tinha contado recentemente. Sabia que estava sozinha até as 6.30 todas as tardes até que os pais voltavam do trabalho. Sabia que jogava vôlei nas quintas-feiras de tarde com o time do colégio, os Gatos de Botas. Seu numero favorito, o 4, estava na sua jaqueta. Sabia que estava na 8a. série no colégio Sebastião. Ela tinha contado tudo em conversas online.
Agora tinha suficiente informação para como encontrá-la. Tatiane não contou a seus pais sobre o incidente ao voltar do parque. Não queria que brigassem com ela e que lhe impedissem de voltar caminhando dos jogos de vôlei. Os pais sempre exageram e os seus eram os piores. Ela teria gostado não ser filha única. Talvez se tivesse irmãos seus pais não tivessem sido tão superprotetores.
Na quinta-feira, Tatiane já tinha esquecido que alguém a seguia. Seu jogo estava em plena ação quando de repente sentiu que alguém a observava. Então lembrou. Olhou desde sua posição para ver um homem observando-a de perto. Estava inclinado contra a cerca na arquibancada e sorriu quando a viu. Não parecia alguém de quem temer e rapidamente fugiu o medo que sentiu. Depois do jogo, ele sentou-se num dos bancos enquanto ela falava com o treinador. Ela percebeu seu sorriso mais uma vez quando passou do lado. Ele acenou com a cabeça e ela devolveu o sorriso. Ele percebeu seu nome nas costas da camiseta. Sabia que a tinha achado.Silenciosamente caminhou numa distância certa atrás dela. Eram só umas quadras até a casa de Tatiane. Quando viu onde morava voltou logo ao parque para procurar seu carro. Agora tinha que esperar.Decidiu comer algo até que chegou a hora de ir à casa de Tatiane. Foi a uma lanchonete e sentou até a hora de começar seu objetivo. Tatiane estava no seu quarto, mais tarde essa noite, quando ouviu vozes na sala. 'Tati, vem!', chamou seu pai. Parecia perturbado e ela não imaginava o porquê.Entrou na sala e viu o homem do parque no sofá. 'Senta aí', começou seu pai, 'este senhor nos acaba de contar uma história muito interessante sobre você'.
Tatiane sentou-se. Como poderia ele contar-lhes qualquer coisa? Nunca o tinha visto antes de hoje! 'Você sabe quem sou eu?' perguntou o homem. 'Não', respondeu Tatiane. 'Sou policial e seu amigo do chat, Meteoro'. Tatiane ficou pasmada. 'É impossível! Meteoro é um menino de minha idade! Tem 14, e mora em Minas Gerais !'
O homem sorriu. 'Sei que eu disse tudo isso, mas não era verdade. Veja, Tatiane, tem gente na internet que se faz passar por garotos; eu era um deles. Mas enquanto alguns o fazem para machucar crianças e jovens e fazer dano, eu sou de um grupo de pais que o faz para proteger as crianças dos malfeitores. Vim encontrá-la para lhe ensinar que é muito perigoso falar online.Você me contou o suficiente sobre você para eu achá-la facilmente. Você me deu o nome da sua escola, do seu time e em que posição você joga. O numero e o seu nome na jaqueta fizeram que eu a encontrasse rapidinho. Tatiane gelou. 'Você quer dizer que não mora em Minas Gerais ?'
Ele riu. 'Não, moro em Santo Antonio da Platina. Você se sentiu segura achando que morava longe, né?' Eu tinha um amigo cuja filha era como você. Só que ela não teve tanta sorte. O cara a encontrou e a assassinou enquanto estava sozinha em sua casa.Ensina-se as crianças e jovens a não dizer pra ninguém quando que eles estão sozinhos, porém contam isso o tempo todo pela internet. As pessoas maldosas a enganam para tirar informação de aqui e de lá online. Antes de que você saiba você já lhes contou o suficiente para ele achá-la sem você perceber. Espero que você tenha aprendido uma lição disto e que não o faça de novo. Conte a outros sobre isto para que também estejam seguros".