segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

# super size me


Após quase trinta dias envolto ininterruptamente em pantagruélicos festejos, etílicas comemorações e boêmios encontros, eis que cá estou redondo e mefítico, sinais mais que evidentes do destempero e do tempero agudo e calórico de tantos ingredientes abusados nas festas de final de ano e de férias.

Hoje, finalmente, ao subir na balança, um suspense tipicamente psicótico tomou-me conta ao ver o abrupto salto do ponteiro passar e voltar os três dígitos, por três vezes, até firmar-se muito pouco abaixo do cem.

Sim, doze doses ou dúzias de rãs a mais e então o desastre seria, na forma de praga, bíblico.

A passar por quase toda a fauna comestível, por todas as invencionices gastronômicas, por tudo que é tipo de alimento mais ou menos industrializado e por tudo que fermenta ou se destila a produzir álcool, fui destemido com os olhos, e o corpo foi imperdoável.

Cru, seco, sem gelo, sem sal, salgado, assado, gelado, mélico ou quente: a lógica catástrofe era certa e, não tardia, chegou.

Menos mal se fosse apenas por fora, percebo que por dentro a coisa parece ainda mais trágica: náuseas, tonturas, amnésias, brotoejas, lapsos respiratórios, chiliques estomacais e greves intestinais, tudo parece mostrar que a feia viola por fora bem se coaduna com o pão bolorento de dentro.

Nunca antes na minha história uma segunda-feira de início de ano mostrou-se tão feia e pesada.

E eis que agora, como se camelo, quero autopactuar que só ingerirei algo em dez dias.

Antes disso, nada.

E como sem o sol para a plena fotossíntese, viverei só de vento.

E sob muita chuva para, inerte, me fazer rolar por aí.

Curitiba será o meu molhado Saara; e eu, não me iludo, um fajuto camelus bactrianus.