Eis que naquele jornal comunista, o "Wall Street Journal", revelou-se o modus vivendi de mais de 40 milhões de estadunidenses: "food stamps", ou "vale-comida" (v. aqui ou como aqui, já em 2009, aviamos).
Outra exemplar lição para aquele sem número de hipócritas (e idiotas) que ainda menosprezam (ou malham, ou não entendem) programas de proteção social como o nosso "Bolsa-Família".
Comportamento típico de quem acha chique tais ações governamentais na Escandinávia, na França, nos EUA... mas tem "hor-ror" àquelas postas em prática nos países latinos-americanos, como o nosso.
Hoje, na Terra do Tio Sam, o Deus-Mercado esfalece-se, para desespero da classe média, mas, principalmente, dos pobres, a ponto de um grande número de domicílios americanos passar a depender da assistência do governo até para comprar comida, no momento em que a recessão continua a castigar milhões de famílias.
O número dos que recebem o cupom de comida ("food stamp") cresceu em agosto, as crianças tiveram acesso a milhões de almoços gratuitos e quase cinco milhões de mães de baixa renda pediram ajuda ao programa de nutrição governamental para mulheres e crianças.
Foram 42.389.619 os americanos que receberam "food stamps" em agosto, um aumento de 17% em relação a um ano atrás, de acordo com o Departamento de Agricultura, que acompanha as estatísticas; o número cresceu 58,5% desde agosto de 2007, antes do início da recessão.
Lá, o benefício nacional médio por pessoa foi de aproximadamente 135 dólares em agosto; por domicílio, foi de quase 290 dólares.
Hábitos terceiro-mundistas já são cotidianos: filas nos supermercados à meia-noite do primeiro dia do mês, a demonstrar que o benefício não está cobrindo a necessidade das famílias; crianças nas férias a retornar às escolas para tirar proveito da merenda, onde ela estava disponível; restaurantes populares e gratuitos etc.
Assim, o "vale-comida" tornou-se um refúgio para os trabalhadores que perderam emprego, particularmente entre os estadunidenses que já exauriram os benefícios do seguro-desemprego.
E, lembremos: no caso nosso, temos um país em desenvolvimento, com um pobre (ou paupérrimo) Norte-Nordeste, e não um país rico (embora desigual) como os EUA.
Portanto, como diria o grande Eça, cá temos mais um caso de "má-fé cínica ou obtusidade córnea" da nossa gente encastelada.