Pela própria identidade radical que as une, a perda de (uma parte de) espaço da Igreja Católica para as tantas Neopentecostais (“evangélicas”) não é fruto dos dogmas ou de visões ultrapassadas de mundo e sociedade.
O negócio é mais simples, como destacou o Papa: a Igreja Católica sucumbe porque some, se esconde, não se estende e não se mostra – v. aqui, um exemplo do resultado disso.
E assim ela tenta se manter apenas com o rótulo da experiência histórica, da tradição milenar como se quisesse dizer, na sua grandiloquência: “Venham vocês ao meu reino!”, e fica trancada, acabrunhada entre-muros paroquiais e assoberbada numa onipotência letárgica e falida.
E ela tenta se contentar para tentar se conter como uma luz maior, e por isso como ente que não quer sujar as mãos e ir às ruas mexer nas feridas.
O problema é que esta luz já não brilha com o vigor que brilhava, inclusive por ter outras com brilhos mais agudos e diferentes que acabam chamando mais a atenção.
Como se não quisesse enfrentar a sociedade – inclusive para evitar discutir as razões dos fatos e acontecimentos passados, que, acredito, podem muito bem ser explicados à luz da história –, prefere recolher-se e evitar a luz do sol.
E o Papa vem sublinhar isso, inclusive no discurso dado aos bispos na Conferência Episcopal Latino-Americana: “Vocês estão errados!”, disse o pontífice, para advertir que é inconcebível que os sacerdotes continuem a trabalhar com “complexo de príncipes”, imersos em luxos descabidos e numa luxúria abjeta.
E mais: lembra que é preciso ir às ruas, que é preciso dar a cara, dar os ouvidos e dar as mãos a toda a gente de quem a Igreja se distanciou.
Sim, porque quem se distanciou foi a Igreja, e não os seus fieis, que de outros modos continuam a crer na Palavra e nos evangelhos.