Num de seus aforismos, Franz
Kafka escreveu: "A partir de um certo ponto não há mais retorno – e
esse é o ponto a ser alcançado".
E diante das últimas palavras e ações
do novo Papa, não nos iludamos, o ponto do qual não se admitirá retrocesso
é a tentativa definitiva de retornar às remotas origens cristãs da Igreja Católica, assente numa presença
social e comunitária, numa atuação franciscana e numa opção preferencial pelos pobres e marginalizados,
visando à reumanização da vida humana com o fim da miséria famélica, da morte
antecipada e da luxúria ludibriante do dinheiro.
Portanto, uma coisa é querermos e acreditarmos que este é
o ponto a ser (re)alcançado pela Igreja, após tantas décadas (ou séculos?) partidarizada e
ensimesmada, e do qual se quer e espera distância.
Outra, todavia, é imaginar que
a teologia moral da Igreja será mitigada, tergiversada ou flexibilizada num afã de ganhar insensatos adeptos ou se "modernizar". Afinal, ela existe para indicar um caminho, não para ganhar concurso de popularidade em redes
sociais.
A
Igreja não fará campanhas pró-camisinha, não admitirá o aborto, não
apoiará o casamento gay, não admitirá eutanásia e pena de morte... ao
contrário, ela continuará a entender que sexo é amor, que o
matrimônio é entre homem e mulher, que a concepção é vida e que o seu fim não é decisão humana.
Mas
isso não impede de que, cristãos ou não, religiosos ou não, discutamos
estes assuntos à luz dos fatos e da realidade contemporânea, temperando
as conversas com fé e ciências, sem preconceitos e com respeito -- e para as quais se exige novas ações do Estado, atualizando o ordenamento e consolidando políticas públicas afirmativas.
De
minha parte, convicções dogmáticas jamais se sustentam em casos de
flagrantes absurdos, como são os casos da gravidez por estupro e da demonização de homossexuais.
E estes, por exemplo, são alguns dos pontos a serem alcançados, que distam léguas das trevas da Idade Média.