Não sendo de plástico, não sendo produtos pasteurizados da moda medonha que avassala, não sendo entregues fracionados para um meio que à la carte consome, somos resultados de um empilhamento de acontecimentos que nos formam.
Neste presente, neste processo contínuo que carrega do passado medos, memórias, manchas, marcas, maravilhas e cicatrizes.
E neste futuro, em que seremos o que viemos sendo, e o que vimos, e o que vivemos, pois ninguém seria do jeito que é se não passasse pelas mesmas experiências que passou.
E o que passou nos formou, numa metamorfose constante.
E o que nos formou é o que conquistou, e quem conquistou jamais seria este que nunca foi.
E com este lúcido amor, e desta maneira lúdica, e deste lindo e luminado jeito que o resto da vida inteira assim nos fez.
E fora todo o resto de percalços, sobressaltos, saltos vagos e vagas lembranças de algo que não se deu.
Porque não somos criaturas criadas em laboratórios da tv, e porque não somos etiquetados com algum emblema de vaca holandesa premier, e porque não somos vazios como tudo o que se vê alienar-se e preencher-se por aí.
E porque esquecemos que o que aquece não é o frio da perfeição da retidão padrão.
Porque esquecemos que uma alça não calça a importância de se ter um grande amor pra viver.
E porque não tem horário, e não tem a hora, e não tem ponteiros, e nem tem um cuco pra nos fazer nos ver.
E porque amamos sabendo como, e quando, e a partir de onde.
Neste mar de saudades que me ilhava, desconfio que Neruda quase errou.