Um segundo filho não muda a vida -- a vida é que muda esse segundo filho.
Mais serenos, mais certos, mais seguros, mais racionais.
Enfim, somos mais pais por conta desta nova vida.
Restamo-nos mais independentes, mais autorais, mais confiantes, mais convictos.
Tudo flui menos laboratorial e tudo acontece com mais naturalidade, inclusive os sobressaltos.
Sem cerimônias e sem firulas, o segundo filho te madura.
E te envelhece.
E isso te muda, para além da aparência com menos cabelos e mais rugas.
E te conforta no aparente alívio do futuro.
Afinal, a pouca lógica da nossa cronologia permite esperar que no nosso adeus o primeiro, até então único, não chorará só.
Ali, naquela hora -- e sempre --, vestido sob o mesmo sangue e a mesma dor, encontrará o ombro e o abraço fraternal para dividir o vazio da perda.
Estranho tudo isso.
Deslumbrados com a vida que nos apresenta, já pensamos no porvir.
Extasiados com o nascimento que nos chega, já ousamos imaginar o nosso fim.
É o ciclo da nossa breve existência.