O destaque do papel dos meios de comunicação não é novidade, claro.
Também, não é novidade o grão-elemento que caracteriza a grande mídia: o caráter de classe da imprensa ditatorial-burguesa.
Como, enfim – e ao contrário do que muitos pensam – não é novidade que se deva promover uma constante ampliação, conquanto vigiada e fiscalizada, da liberdade de expressão (e de imprensa), que vem desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem ("a livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; cada cidadão pode por isso falar, escrever, imprimir livremente").
E é nesse ponto que devemos parar para um rápido mergulho, preliminar e superficial.
Karl Marx, a defender essa liberdade de expressão – já que ele mesmo era vítima do aristocrata governo prussiano da época –, admitia que a imprensa deveria ser uma arma de combate à opressão e à exploração e não um veículo neutro, a lembrar, em seu pequeno livro "A Liberdade de Imprensa", que "[a] função da imprensa é ser o cão-de-guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho onipresente e a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade".
Mas não por isso exterminar-se-ia a "liberdade de imprensa".
O que precisa mudar é a maneira de se enxergar essa tal "liberdade", que começa pela "destruição do jugo do capital", como propalava Lênin, ou seja, destruir o poder do capital sobre a imprensa, na medida em que, na situação vigente, tem-se em nossa sociedade um outro sinônimo para essa liberdade: a liberdade de suborno da imprensa pelos ricos, a liberdade de usar a riqueza para forjar e falsear a chamada opinião pública.
Esse jornal (essa revista, essa emissora de rádio ou tv) passa então a funcionar como uma outra mercadoria qualquer: alface, mesa, cadeira, carro, camisinha, liqüidificador... abarcam-se num mesmo lado da moeda: o lucro.
Assim, o jornal burguês é um instrumento de luta movido por idéias e interesses que estão em contraste com os seus.
Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma idéia: servir aos interesses da classe dominante, da elite burguesa e política que, ato reflexo, monta-se nos seus anunciantes.
Dê-se nome aos bois: Folha de São Paulo, Veja e toda a rede midiática das organizações Globo (TV, jornal, Época e CBN) insistentemente querem (e inventam, e fantasiam, e insistem) mostrar que tudo que foge dessa antiga, conservadora e reacionária ordem nacional (e mundial) não tem razão – e quem e o que se manifesta à esquerda disso é tingido como dinossauro, louco, sonhador ou #&@&#&@.
Hoje, como sempre, a mídia age como um partido político, disse Antonio Gramsci, um dos grandes pensadores do séc. XX, incansavelmente perseguido por Mussolini durante o fascismo italiano, até que, preso – não obstante ostentasse imunidade parlamentar – , conseguiu deixar o seu grande legado: em mais de dez anos de prisão, escreveu volumes e volumes de um trabalho que mereceu ser reunido na célebre colação "Cadernos do Cárcere".
Sob esta forma de "partido", a imprensa cumpre um papel fundamental para dar coesão ao processo de formação da sociedade civil – e criar a sociedade conservadoramente organizada, comandada por bestas abastadas.
Gramsci mostrou também que a imprensa é movida e controlada (e selada, registrada, carimbada) pelo capital privado, mas trata de assuntos públicos; assim, esses assuntos da esfera pública são tratados de uma forma privada quanto ao seu conteúdo, ao seu direcionamento, ou a maneira pela qual eles são analisados.
Logo, com um mero exercício sinológico, denota-se que há uma inversão de papéis: a "imprensa" censura, à medida que controla e define o que é notícia e o que não é notícia, em justa composição com os seus interesses (ideológicos, financeiros etc.) e com os interesses da elite burguesa e política, a funcionar, como cunhou Gramsci, numa espécie de "intelectual orgânico da burguesia", uma vez que, infelizmente, essa mídia é sustentada por jornalistas e profissionais ("intelectuais") competentes que, medusicamente, cedem ao poder (e as delícias) do capital.
Outrossim, causa-nos bastante estranheza a maneira com a qual insistem em confundir "opinião pública" e "opinião publicada" (ou, ainda, "liberdade de imprensa" e "liberdade da imprensa ou do dono da mídia").
Deve-se exterminar essa idéia de que a "opinião pública" seria expressão do pensamento "da maioria", à medida que isso faz apenas justificar (e tornar "legítimo") os atos, as palavras e a posição dos próprios órgãos midiáticos.
O que não se pode esquecer é que essa "opinião pública" não existe até o momento em que é "publicada" – logo, nada mais é senão mera "opinião publicada", que tenta convencer a grande massa (cinzenta ou não) do que lhes interessa e do que lhes é a verdade, uma verdade condicionada aos interesses da elite burguesa e política que, a formar um exército de bestas abastadas, promovem o recrudescimento de um conservadorismo com o único fim de manter os auto-privilégios que fazem deste país, dentre os mais ricos, o mais desigual do planeta.
A solução para tudo isso?
"Boicotem, boicotem, boicotem!", como lá atrás já bradava Gramsci.