É tempo de caminhar.
Caminhar em silêncios, em jejuns, em reflexões.
Promover a privação, a abstinência, a reclusão, a oração, os sacrifícios e a caridade.
Caminhar em silêncios, em jejuns, em reflexões.
Promover a privação, a abstinência, a reclusão, a oração, os sacrifícios e a caridade.
É o período de quaresma, no qual, simbolizado na abdicação e privação de miúdas coisas e pequenos hábitos, procuramos ser mais humano e viver mais como cristão.
É tempo de peregrinar do homem velho para o homem novo, de sair do cômodo espaço neutro, de reafirmar com os nossos atos as promessas diuturnamente feitas.
É tempo de atitudes.
E ano a ano o momento quaresmal chega para que acreditemos nesta mudança, nesta renovação e no poder máximo de renascimento.
É a nossa via sacra, cujo sentido de dor, de sofrimento e de penitência bate em nossos olhos, ou em nosso interior, a toda hora em que se escancara a injustiça e o desespero alheios.
Mas não nos apeguemos ao mero sentido disso – e passemos a agir, tomando as nossas cruzes para, à luz da fé e resistindo ao desespero e às tentações, aprender a ser como Ele é.
Sim, não é fácil enfrentar um tempo cujo templo é marcado pelo mercado, por propostas estimulantes de ebrioso consumo com requintes de crueldade e esbanjamento nas quais, exclusivamente, se acredita ser.
Há uma insaciável febre do inferno em fel de ter, como alter ego da autoafirmação ("espelho, espelho meu") e da vitrine social (o "meu" espelho), induzida pela força pertinaz da mídia e a sua doutrina onisciente do certo e do errado, que elitiza os comportamentos, enrijece a sociedade e exulta o individualismo.
Um apego exagerado que faz enxergar o vazio da vida, criando um fosso entre espécies de seres humanos, num abismo sem fronteiras e em nosso quintal (v. aqui).
Dividir, repartir, partilhar, comungar.
Deixemos de nos refugiar em desculpas, e na desculpabilização do conforto, que convenientemente nos alienam em redomas intocáveis e acortinadas para, então, ver sobrar paz, saúde e felicidade.
E alcancemos este sonho de mundo: uma imensa mesa, em torno da qual todos se sentarão, numa mesma altura, num mesmo propósito – e, nas palavras de Paulo, "a esperança não decepciona" (Rm 5,5), deve dar sabor para a vida, coragem para a luta e determinação para vencer.
Afinal, por que será que nos custa tanto aceitar o Evangelho e entrar nesse Reino?