sexta-feira, 10 de abril de 2015

# coisas di vomitar


Eis que se nota a chegada deste negócio horrendo chamado "Comida di Buteco" (v. aqui, nos mínimos detalhes).

No império do consumo, é angustiante ver o quanto o sistema se reinventa para criar o "nada", a provocar um consumo vazio em que muito se vende e muito se lucra à custa da idiotização de tudo e de todos, descaracterizando-se lugares e tradições e travestindo tudo no tom pastel da pasteurização geral.
E nela, uma arrogância que por tantos cantos do cotidiano provoca-nos as mais coceguentas urticárias.
E, atenção, não me refiro a um ou outro caso em que seria até natural encontrar vestígios e raspas de soberba comportamental, como na Academia e nas Artes, onde, afinal, erudição e eructação costumam não se confundir.

Falemos, pois, do ambiente, do dia a dia, do jeito da massa bem-cheirosa -- cujos atributos em regra encolhem-se no menor bolso graxo da roupa de grife -- se comportar.

Daquelas situações em que o arrogante é um alienado, um débil social, um daqueles que acha feio o que não é espelho ou que acha insustentável a presença do ser que não seja um ser dos seus.

Outrora já lembramos do que acontece na relação dessas pessoas com vinhos e cervejas (v. aqui), com seus hálitos e hábitos (v. aqui) e com os tratamentos que se dão (v. aqui).

Agora tratemos deste mesmo público, que roda pelas mais infaustas rodas, e a sua relação com a comida.

Sim, se não bastasse a pantafaçuda sopa de espumas, torres, gotas, granulados, desenhos e combinações minúsculas de troços mais ou menos óbvios que ostentam em pratos fotogênicos para a compartilhada fotogenia da rede...

E se não bastasse o inclassificável tripúdio sobre a gourmetização e a glamourização do mundo animal, vegetal, líquido, gasoso e mineral, a etiquetar tudo que se ingere com purpurinas e lantejoulas que muito bem euforizavam os índios nos escambos com os nossos descobridores...

E, ainda, se não bastasse as fortunas depositadas nos caixas de refeitórios doze estrelas, a fim de justificar a gulosa luxúria como uma legítima ação da ordem agostiniana do livre arbítrio...

Eis que os últimos arrotos, imberbes num misto de petulância com sabujice de dar dó, estão no sopro de "reinventar" os tira-gostos de bar, na forma deste concurso encampado pela vênus platinada, e, também, a velha comida de rua, que doravante chamam -- percebam o ar descolado -- "food truck".

Impávidos e colossos, empinam os narizes imperiais para comentar, pelas colunas de jornais ou por seus espaços nas redes sociais, que a onda agora é valorizar esta tal "gastronomia".

Modernos, chiques e na última moda, socorrem-se à avalanche de falsas autoridades que surgem para firmar e ratificar a boa-venturança desta cozinha e desta atitude, só digna dos bons trópicos.

Arrogam-se, agora, como bandeirantes dos bares e das ruas.

Melhor que ficassem em seus clubes privés ou com seus restaurantes estrelados.

Afinal, eles se merecem.