sábado, 11 de junho de 2016

# atleticanas (II)



Acostumado ao clima da sua terra, o Atlético alcançou neste noite uma das mais improváveis vitórias da temporada.

E, atenção, não bastasse o que se via naquele primeiro tempo tétrico contra o São Paulo – no qual perder por um gol foi lucro –, tinha no lombo um amargo tabu: há 33 anos não vencia naquela casa adversária.

A última vez?

No histórico Brasileirão de 83, vitória simples, gol de Assis – ele, ao lado do seu inseparável Washington, os meus primeiros ídolos rubro-negros (v. aqui).

Mas a neblina que baixava, o minuano que soprava e as estalactites que brotavam naquele pálido gramado do Morumbi pareciam anunciar o fim da longeva sina.

Inspirado nos cantos embotados de cimento e lágrima que recheia a selva de pedra são-paulina, a baliza atleticana era um concreto armado intransponível, parecia um corpo fechado como se preparado não no cruzamento da Ipiranga com a Av. São João, mas numa encruzilhada remota do bairro do Umbará.

Faltava, apenas, cutucar a onça tricolor, indo para o jogo, aceitando a bola e desrespeitando a lógica futebolística que ali insistia ser posta em cheque.

E aí veio a intervenção de vestiário de Paulo Autuori, que corrigiu os (seus) erros e trocou os zeros escalados de início – rodízio sem elenco é certeza de vexame, ora pois – por algo que pareceu duas dúzias: Walter e Nikão, titulares poupados que mudaram o jogo.

Com eles, e mais o fôlego etíope de Deivid e o pulmão biônico de Otávio, o Atlético passou a ser frio e calculista, virando o placar.

Uma vitória inesperada, de um time que ainda espera se encontrar.

Uma vitória, enfim, de quem conhece como ninguém o futebol on the rocks.