Aos arredores, já alertava para a principal arma grega: a filosofia de seu jogo.
Nada mais poderia surpreender a equipa lusíada senão a inteligência mitológica dos atletas rivais.
Não, mas isso não fora demonstrado.
Por outro lado, lá do banco exalava uma sapiência quase invulgar, não assente na criatividade, mas na racionalidade do selecionador inimigo, formado sob os princípios da escola futebolista mais pragmática do mundo, que é vencedora sem jamais encantar, que é perdedora sem jamais decepcionar, que é chata de se ver, de se enfrentar e, possivelmente, de se jogar.
Em suma, é sem sal, sem açúcar, sem amargura, sem azedume: sem sabor.
Por maior que seja a incredulidade, o onze alvi-celeste não se revestia de armaduras celestiais, asinhas nos pés e não dispunha nas costas nomes como Apolo, Poseidon, Baco ou Dionísio; muito menos, não demonstrava na relva raciocínios dignos de Sócrates, Platão, Tales ou Heródoto.
Na verdade, em campo, representavam apenas peças (im)pensantes de um bom estratagema orwelliano montado pelo pouco discreto selecionador, o qual dispunha, além dos seus ensinamentos, pensamentos, teorias e táticas aristotélicas, um outro referencial: a sua personalidade que, até então permanecia oculta, hoje já se conseguiu identificar, à medida que leu-se, por debaixo do seu agasalho, nas costas da sua camiseta, a inscrição: "Zeus".
Afinal, vamos, venhamos e convenhamos, se o Sr. Scolari é rei, o Sr. Otto é, agora, o deus – ou, por mais que o futebol não seja mais uma caixinha de surpresas, face ao intenso nivelamento (por baixo??) de equipes, como explicar a vitória grega face à tamanha disparidade técnica-individual havida em campo?
Porém, é pouco provável que esta hipótese sustente-se.
Assim, se tal justificativa não progredir, proponho e despejo a explicação nas inscrições estelares.
Sim, os astros a prever uma tragédia grega, em plena luz de um próprio estádio chamado “da Luz”, como resposta ao atrevido rompante de júbilo que mudara o comportamento do povo lusíada nas últimas semanas, como uma lição à petulância do povo d’além mar em querer viver com felicidade.
Que audácia!
Onde já se viu, assim, de repente, quererem ser felizes? Talvez até seja isso... porém, já se sabe que, para a vida grega, nada muda o clima eufórico já embalado pela revisão local dos seus jogos olímpicos e, para a vida lusitana, nada muda o clima eufórico já embalado pela alegria contagiante do fado e do seu povo.
Hoje, Portugal está triste como costuma estar – e a vitória do futebol chuchu não teve nenhuma culpa.
Afinal, vamos, venhamos e convenhamos, se o Sr. Scolari é rei, o Sr. Otto é, agora, o deus – ou, por mais que o futebol não seja mais uma caixinha de surpresas, face ao intenso nivelamento (por baixo??) de equipes, como explicar a vitória grega face à tamanha disparidade técnica-individual havida em campo?
Porém, é pouco provável que esta hipótese sustente-se.
Assim, se tal justificativa não progredir, proponho e despejo a explicação nas inscrições estelares.
Sim, os astros a prever uma tragédia grega, em plena luz de um próprio estádio chamado “da Luz”, como resposta ao atrevido rompante de júbilo que mudara o comportamento do povo lusíada nas últimas semanas, como uma lição à petulância do povo d’além mar em querer viver com felicidade.
Que audácia!
Onde já se viu, assim, de repente, quererem ser felizes? Talvez até seja isso... porém, já se sabe que, para a vida grega, nada muda o clima eufórico já embalado pela revisão local dos seus jogos olímpicos e, para a vida lusitana, nada muda o clima eufórico já embalado pela alegria contagiante do fado e do seu povo.
Hoje, Portugal está triste como costuma estar – e a vitória do futebol chuchu não teve nenhuma culpa.
(publicado no jornal "A Bola" em agosto/2004)