Mané Garrincha, o segundo maior jogador da história do futebol brasileiro, chavama todos os seus adversários e marcadores de "João", e o seu plural virou sinônimo de jogador qualquer.
E assim, na noite de quarta-feira, em pleno Rio de Janeiro, fez-se o conto.
Era uma vez onze gajos que, caídos de pára-quedas na maior arena do mundo, despertaram para um novo mundo. Sim, um novo mundo que, à primeira vista, poderia fazer lembrar e remeter-lhes de volta para o passado. Dantes, há algumas décadas, poder-lhes-ia parecer uma simples tarefa, imiscuída na arte barroca do ludopédio que afamava a sua insígnia e a sua instituição. Agora não mais.
Assim, quando aterrisaram e preparavam-se para o embate, já sentiam (mesmo que a grosso ou oblíquo modo) que o público assistente via tudo estranho, enxergando-os irreconhecíveis, afinal, este grupo não parecia traduzir outra coisa senão uma desavergonhada mentira que apenas mascarara a recente glorinha regional, mero sanduíche com pouca realidade.
Em alguns instantes, este grupo, com ares de parlapatice e ciceronado por uma ou outra peças um pouco mais vistosa, admitia, teoricamente, que ainda fazia parte do cenário de outrora, com pompas e luzes, e que a santa batalha (sim, pois o grupo entendia que era tão santo quanto o inimigo) sucumbiria à sua performance, esta sim vista por ele como obra divina.
Porém ("ah porém", cantaria o sambista Paulinho da Viola...), a seqüência da tragédia revelou-se imaculada deste antigo destino, opressor dos visitantes e daqueles que pisavam em seu solo gramíneo. Hoje, e já há alguns anos (coisas do século passado diriam os mais extasiados), este cenário descolore-se, pintando-se de múltiplas cores, dependendo do matiz da farda inimiga.
Enfim, no resultado deste combate (que vai além de uma simples batalha, pois o que se perdeu foi a guerra), o povo relambuza os olhos para querer acreditar, tristes por saber que assim caminha a nova humanidade do sinistro esporte bretão, lamentosos por cientificar que silvas, reginaldos, róbsons, jônatas, ibsons, rogers e jeans traduzem-se em nomes simples demais para um ente que, aos poucos, com continuidade e sem organização, foi desintegrando-se, desmanchando-se... Antes, ainda sobravam os pés-de-galo da instituição.
Hoje, nem eles.
Afinal, eram onze joões de vermelho-e-preto.
(publicado em 26/06/04)