fdsfds Do periódico virtual "Carta Maior" (v.
aqui), trazemos um texto de Leonardo Boff que, embora numa já conhecida temática -- acerca do mais verdadeiro papel a ser desempenhado pela nossa Igreja Católica, assente nos propósitos e na
raison d'être do nosso cristianismo humano, real e libertário --, muito vem a calhar para a nossa reflexão neste período quaresmal.
fdsfds "Desde seu início, ao final dos anos 60, a Teologia da Libertação adotou uma perspectiva global, focada na condição dos pobres e oprimidos no mundo inteiro, vítimas de um sistema que vive da exploração do trabalho e da depredação da natureza. Esse sistema explora as classes trabalhadoras e as nações mais fracas. Além disso, reprime aqueles que oprimem e, portanto, contrariam seus próprios sentimentos humanitários. Em uma palavra, todos devem ser libertados de um sistema que perdura há pelo menos três séculos e foi imposto a todo o planeta.
fdsfds A Teologia da Libertação é a primeira teologia moderna que assumiu este objetivo global: pensar o destino da humanidade desde a condição das vítimas. Em consequência, sua primeira opção é comprometer-se com os pobres, a vida e a liberdade para todos. Surgiu na periferia das Igrejas centrais, não nos centros metropolitanos do pensamento consagrado. Por essa origem, sempre foi considera como suspeita pelos teólogos acadêmicos e principalmente pelas burocracias eclesiásticas e especialmente pela da Igreja mais importante, a católica-romana.
fdsfds A questão teológica de base que até agora não terminamos de responder é: como anunciar um Deus que é um pai bondoso em um mundo repleto de miseráveis? Só tem sentido se implica a transformação deste mundo, de maneira que os miseráveis deixem de gritar. Para que uma mudança semelhante tenha lugar eles próprios têm que tomar consciência, organizar-se e começar uma prática política de transformação e libertação social. Como a grande maioria dos pobres em nossos países era formada por cristãos, tratava-se de fazer da fé um fator de libertação. As igrejas que sentem herdeiras de Jesus, que foi um pobre e que não morreu de velho, mas sim na cruz como consequência de seu compromisso com Deus e com sua justiça, seriam as aliadas naturais deste movimento de cristãos pobres.
fdsfds Em razão de sua causa universal, já no início dos anos 70 a Teologia da Libertação era um movimento internacional e convocava verdadeiros fóruns teológicos mundiais. Estabeleceu-se um conselho editorial integrado por mais de cem teólogos latinoamericanos para compilar uma sistematização teológica em 53 volumes, desde a perspectiva da libertação. Já tinham sido publicados 13 volumes quando o Vaticano interveio para abortar o projeto. O então cardeal Joseph Ratzinger foi rigoroso. Cortou pela raiz um trabalho promissor e benéfico para todas as igrejas periféricas e especialmente para os pobres. Passará à história como o cardeal – e depois Papa – inimigo da inteligência dos pobres.
fdsfds A Teologia da Libertação criou uma cultura política, Ajudou a formar organizações sociais como o Movimento dos Sem Terra, a Pastoral Indígena, o Movimento Negro e foi fundamental na criação do Partido dos Trabalhadores no Brasil, cujo líder, o presidente Lula, sempre se reconheceu na Teologia da Libertação.
fdsfds Hoje em dia, essa teologia transcendeu os limites confessionais das Igrejas e se converteu em uma força político-social. Além de Lula, identificam-se publicamente com a Teologia da Libertação o presidente Rafael Correa, do Equador, o presidente (e ex-bispo) Fernando Lugo, do Paraguai, o presidente Daniel Ortega, da Nicarágua, o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e o atual presidente da Assembléia das Nações Unidas, o sacerdote nicaragüense Miguel de Escoto. Sua força maior não reside na cátedra dos teólogos, mas sim nas inumeráveis comunidades eclesiais de base (só no Brasil existem cerca de cem mil), nos milhares e milhares de círculos nos quais se lê a Bíblia no contexto da opressão social e nas chamadas pastorais sociais.
fdsfds Roma incorre na profunda ilusão de acreditar que com seus documentos doutrinários emitidos por burocracias frias e distantes da vida concreta dos fiéis conseguirá frear a Teologia da Libertação. Ela nasceu ouvindo o grito dos pobres e hoje a comove o grito da Terra. Enquanto os pobres continuarem lamentando-se e a Terra gemendo sob a virulência produtivista e consumista, haverá mil razões para sentir o chamado de uma interpretação libertária e revolucionária dos evangelhos.
fdsfds A Teologia da Libertação é a resposta a uma realidade injusta e salva a Igreja central de sua alienação e de um certo cinismo."