segunda-feira, 9 de novembro de 2009

# (in)felizzes

fdsRonda por aí uma versão adulta dos personagens dos Teletubbies que, crescida, parece ainda querer aliar o comportamento do pobre povo crente que, medusicamente, se doa a alguma dessas igrejas ultra-neopentecostais.
fdsA vagar por aí com a retórica missão de crescer (!?) e "querer construir" um mundo melhor, este pós-moderno grupo de pessoas autointitula-se "Família Felizz" -- isso mesmo, autografa-se com dois "Zs", talvez para diferenciá-la da imediata confusão popular que a identificaria como um blend da feliz "Família Folha" curitibana com o "McLanche Feliz" global -- e assim busca ser... felizz.
fdsPois bem, até aí nada contra, afinal, parvos ou não, o que sempre importa é a ação e a atitude certa, proativa e em busca do bem comum e de todos, com égalité, fraternité e justa (e séria) liberté, fundamentais para as relações humanas desde pelos menos 1789. Porém, parece que pouco disso está presente nos teletubbies.
fdsEmbora o blá-blá-blá tenha vestes de coletivismo, de cooperação e de comunhão, não precisa múltiplos neurônios para se perceber que, na realidade, nada mais buscam -- inclusive o grão-mestre -- a não ser a maximização do individualismo, do egocentrismo e da performance pessoal, típicas da atual vertente social, típicas de quem quer o melhor do melhor do melhor do mundo.
fdsEm aparente transe, a sua maioria crê que o melhor do mundo está em si e que a conquista do eldorado está na própria realização. Ou melhor, na maneira pela qual se fazem enxergar ou vender -- é, pois, a sede de imagem, a qual para eles é tudo.
fdsE pseudocontaminados -- vez que fora da aldeia (em regra) nada mudam --, em cada gesto e em cada palavra de quase todos os teletubbies você fica com a nítida impressão deles estarem querendo se vender, como um daqueles produtos Amway.
fdsSim, quando você avista um grupo desses vindo em sua direção -- abraçados ou não --, você vê ali aqueles típicos vendedores de um produto pasteurizado, prontos a te convencer que o mundo sem eles -- os próprios "produtos" -- é fadado ao fracasso. Ali, meus irmãos, a cura não está na Bíblia.
fdsNas atitudes deles, ainda, há frequentes mensagens subliminares que buscam louvar o máximo líder, um homem habilidoso que consegue arrebanhar ovelhas cabisbaixas, meio vazias ou com dificuldades pessoais, e delas cobrar uma quantia bastante expressiva -- um fim de semana com o guru não custa menos de mil e tantos reais -- para dizer-lhes as obviedades (e as mentiras) que todas querem ouvir.
fdsÉ "o segredo", best-seller na forma menos evoluída de um profeta high-tech -- Maurino Veiga é, parece, o nome da fera -- que prega o networking para se fazer business entre novos brothers. É quase aquela música do Pagodinho com o Baleeiro.
fdsA turma, que surge de encontros e cursos com o pseudocientífico nome de "Treinamento Evolution", é formada na quase totalidade por pessoas que, com problemas das mais diversas ordens, pagam para ouvir palestras de autoajuda e realizar atividades infanto-juvenis; porém, como pega mal para as pessoas assumirem isso a quem lhes pergunta, diz-se que se faz um curso de "treinamento" ou de treinamento "empresarial", "comportamental", "desenvolvimentista" ou algo do gênero.
fdsE não digo porque "acho" isso, mas porque vejo o comportamento e porque tive o relato de alguns que confessaram do que se trata: um engodo que apenas reúne gente curiosa ou órfã de alto-estima e bom-senso, abusadas pela desequilíbrio pessoal.
fdsOra, os déficits humanos dessas -- e da (quase) totalidade das -- pessoas hão de serem discutidos e resolvidos não por conversas pirotécnicas, promovidas por um especialista em marketing pessoal que faz reunir a baixo-estima de tantos anônimos, mas, sim, por diálagos com familiares e amigos e com verdadeiros profissionais -- aqueles da psicologia, da psicanálise ou da psiquiatria --, os quais tem, respectivamente, o amor e a perícia para tanto. Afinal, são estes que, verdadeiramente, sabem lidar com as suas dores, frustrações, dúvidas, medos, expectativas, vontades e anseios.
fdsDepois, se o objetivo não é a "pessoa", mas os "negócios" dessa pessoa, deve-se parar com essa hipocrisia e dizer, às claras, que o negócio é gerenciamento empresarial e de carreira, e daí o foco (e o discurso) deve ser outro, ainda que com reticências múltiplas. Caso contrário, o embuste permanece, pois faria confundir "desenvolvimento humano" com sucesso pessoal.
fdsE assim, a felizz (?!) história da maior parte desses, repito, teletubbies, com um mendaz discurso do politicamente correto e da vida bela, se parece muito com aquelas histórias já bem comuns patrocinadas pelas nossas elites, que adoram fazer passeatas de branco pedindo pela paz, de preto exigindo menos tributos ou com roupas de grife empunhando cartazes escrito "Basta!".
fdsPorém, para o animador de auditório que abusa da fraqueza dos participantes e que tergiversa a ciência médico-comportamental, pensando que assim cria novos "super-homens" -- que, obviamente, nada tem de nietzchiano --, ser "felizz" não parece ter as mesmas prerrogativas (e as mesmas causas e consequências) que ser... feliz.
fds