quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

# e assim caminha a humanidade (xvi)


fdsfdEnquanto isso, numa sessão de fisioterapia, aproxima-se um senhor com o já de longe percebido sotaque lusitano.
fdsfdSenta-se num dos aparelhos ao meu lado e, a se mostrar simpático, indaga-me sobre a minha cirurgia.
fdsfdTem a resposta e o meu comentário sobre a minha passagem por Coimbra etc.
fdsfdE então já vejo o seu semblante mudar. Acho estranho, mas mesmo assim vou em frente e pergunto:
fdsfd- De qual cidade o senhor é?
fdsfd- Oh meu rapaz, sou de uma cidade muito pequenina, muito perto de Lisboa, chamada [já não me recordo]. O senhor não deve conhecê-la não... excepto se, na qualidade de estudante de Coimbra, reconhecê-la numa das tantas músicas de protesto que Coimbra ajudou a fazer na época daquela 'estúpida' e 'indecente' Revolução de 25 de abril... -- e, com cara de nojo, passa a cantar trecho da música que levava o nome da sua cidade natal.
fdsfdSim, meus caros e minhas caras, o septuagenário senhor estava a querer defender os malditos anos do golpe de Antonio Salazar que, de clara inspiração fascista, conduziu Portugal pelas trevas durante quase 40 anos.
fdsfdE eu, na qualidade de ex-estudante de Coimbra, era para ele quase como um inimigo, vez que a Universidade de Coimbra fora, naqueles anos de chumbo de Portugal, o grande suporte intelectual-estudantil dos opositores ao regime e, pois, dos que promoveram a Revolução.
fdsfdSim, ele, na escrota (ou burra) visão de alguém que, direta ou indiretamente, devia se beneficiar daquele governo plutocrata -- sempre em benefício dos grandes monopólios privados nacionais -- e daquela chauvinista, racista, autoritária, reacionária e conservadora direita que controlava tudo e todos, encheu a boca para dizer que a "Revolução dos Cravos" -- que em 25 de abril de 1974 acabou com o putrefeito salazarismo -- foi estúpida e indecente.
fdsfdSim, ele não mais merecia a minha atenção.
fdsfdEle, estúpido e indecente, talvez não fosse merecedor dos cravos nos canos dos fuzis dos revolucionários portugueses.



fds