domingo, 3 de outubro de 2010

# com que roupa?


fds Do total, 27% dos eleitores abstiveram-se, anularam ou alvejaram os seus votos. É, pois, um número bastante considerável.
fds Do que restou, nunca antes na história deste país a coligação centro-esquerda tão bem elegeu tanta gente, e nunca a bancada centro-direita viu-se em tão maus lençóis, a perder em redutos dantes intocáveis, em especial nas regiões mais pobres do país, outrora um paraíso dos coronéis burgueses, dos latifundiários escravocratas e das aristocráticas famílias.
fds No âmbito estadual, salvo a eleição de Alckmin para o Governo e de Aloysio Nunes para o Senado paulistas e num ou noutro caso Norte-Nordeste afora, a tropa de elite (branca) demo-tucana não pode comemorar, pois, dos outros grandes agentes estaduais, Aécio (e o seu governador) em Minas e Beto no Paraná ainda não podem ser considerados pertencentes ao lado sujo da força oposicionista nacional, vez que (ainda) não cooptados pela direita reacionária (e antidemocrática), como assim foi José Serra, um dos últimos destes moicanos.
fds Portanto, e ainda que só por isso, Lula e o seu governo foi um bem-vindo fenômeno para a república brasileira, vencendo na maior parte dos Estados e já com maioria no Senado Federal e na Câmara de Deputados. E por que isso ocorreu? Ora, porque o Brasil mudou, melhorou, tornou-se menos injusto, menos desigual e menos ordinário.
fds Além do expressivo número de ausentes, brancos e nulos – que poderá sim ter influência no pleito –, foi, claro, o “epifenômeno” Marina (v. aqui) – que será tão duradouro quanto o cometa Halley – que decisivamente influenciou no resultado de não-vitória de Dilma no 1º turno. Mas, sublinhe-se, não por ela, mas pelo coisificado espectro que se criou em torno dela.
fds Para onde vão e o que quiseram os milhões que nela votaram, porém, não se sabe, pois desse bolo vê-se um emaranhado complexo de tendências, gostos e desgostos: verdejantes, evangélicos, centro-esquerdistas light, antipetistas, anti-serristas, tucanos frustrados, demos quase convertidos, artistas, anárquicos alienados... uma sopa indigesta que representa tudo (e todos), menos, por favor, uma “onda ecológica”, o “futuro” ou coisas do gênero – prove-se, também, com a inexpressiva votação do PV país afora.
fds Marina Silva, a candidata global da inflamada direita-evangélica-eco-capitalista – como bem definiu Plínio de Arruda Sampaio –, fez dos seus votos um esdrúxulo e insosso patê conservador, a arrebanhar um contingente cuja maior parte gaba-se de ser considerada neoconservadora, ou, como queiram (e gostam), “neo-alguma coisa”. Sim, está na moda, é chique, é descolado ser “neo”, seja lá o que lhe complemente. Ser “neo”, creem, é avant-garde.
fds Como não se trata, portanto, de voto ideológico-partidário – muito pelo contrário, posto que muito mais relacionado à costumeira alienação ou acomodação, convenientes ou não, da classe média-alta brasileira, a qual não se importará com o que Marina decidir –, resta difícil saber para onde migrará este eleitorado, decisivo para o futuro do país.
fds Porém, no que tange à “líder” do movimento – não obstante se duvide do quão importante será a sua escolha perante seus eleitores –, pelo seu recentíssimo passado de simbólica bandeira petista e integrante do Governo, muito mais lógico (e honesto) seria Marina migrar para a esquerda e apoiar o projeto do PT, com Dilma Roussef, ao invés de ficar na tosca sombra da “abstenção” ou, muito pior, debandar para o lado negro da força e se juntar àquelas coisas do ultrapassado ardil demo-tucano.
fds Todavia, a verdade é que quaisquer trinta moedas no bolso ou meros quinze minutos à luz são capazes de fazer muitas (e muitas, e muitas) cabeças – então voltadas para o bem e para o interesse público – se reprogramarem, se readequarem e mudarem de time, não importando o que se faz e o que se fez, nem para quem e nem para quê. Tudo, doravante, num medúsico e doce balanço a caminho do mal.
fds A eleição neste 2º turno, meus amigos, poderá ser a (pen)última tão ideologicamente dividida entre dois projetos, entre dois programas, entre dois caminhos.
fds E, portanto, o contínuo progresso ou o amargo retrocesso do Brasil está nas mãos de, pelo menos, 20 milhões de indecisas pessoas.
fds