fds Enquanto isso, num despretensioso fim de noite, coloca-se à mesa o tema trabalho, em especial três das suas subtemáticas: a sociologia, a economia e o direito do trabalho.
fds Excelente e profunda discussão, até que o colega de gravata amarela, gel gasto e pose, com ares pseudocientíficos – que tentavam camuflar os interesses realmente defendidos – sai do obsequioso silêncio e dispara, crente em estar abafando:
fds - “Hein, mas a iniciativa privada não é que é contra a redução da jornada, mas... veja, tem aí as negociações coletivas, bem capazes de regular isso... o problema é que isso ai aumentar o custo geral do trabalho e dos produtos, vai estancar investimentos e o crescimento e vai diminuir postos de trabalho, pois os empresários irão trocar gente por máquina...”
fds E segue aquela cantilena típica de quem está del otro lado del rio, para então finalizar, com pompa e circunstância:
fds - “Na Europa, berço de tudo isso (sic), mesmo o países que foram para esse caminho tiveram que rever a redução de jornada, pois não deu certo”. E ali, naquele ambiente, só se passa a ouvir o peculiar sibilo de grilos e cigarras, até que o agudo e contínuo som é interrompido por uma nova conversa. Mas agora já sobre a Larissa Riquelme.
fds Ora, ora, não adianta: a grande solução que essa turma tem para os problemas relacionados ao Trabalho sempre se concentram sob a ótica do capital (e da sua acumulação e multiplicação), razão pela qual a ideia de redução da jornada (e de qualquer outra que atenda ao trabalho e ao trabalhador) é vista como uma praga.
fds “Modelos liberais de contratação”, “diminuição de encargos sociais”, “negociações coletivas”, “ultraqualificação”, blá-blá-blá... nada que verdadeiramente esteja no cerne do problema. E, diante das tantas questões que à matéria relacionam-se, voltemos ao tópico em tela, microcondição para a evolução do quadro sócio-laboral.
fds Sabe-se bem que as razões pelas quais há resistência dos empresários em aceitá-la são de dois matizes, econômicos e ideológicos. Não generalizaremos, apenas refletiremos a regra.
fds O capital sempre (e sempre) busca reduzir o custo da força de trabalho ao mínimo, além de manter o controle sobre as condições de oferta, de contratação e de remuneração.
fds Hoje, e sempre (e sempre), quer-se utilizar o trabalhador com o maior tempo e o menor custo possível; assiste-se a um processo de intensificação de plano de metas&objetivos, da exigência por maximização das qualificações profissionais e de pressão e assédio que precariza o trabalho e prejudica, física e moralmente, o trabalho. Logo, só por uma questão de saúde pública, a redução já se mostraria imprescindível.
fds Com a terceira revolução industrial, que aqui tardiamente chegou, as indústrias – como nunca antes na história deste país – obtiveram ganhos de produtividade incríveis, mas que não foram redistribuídos para a sociedade, bem diferente do que ocorreu na Europa – e é aqui que o caro colega tanto se enganou, a merecer o solitário eco das felizes cigarras, pois é menos verdade o que afirmou.
fds No Velho Mundo, as políticas de redução da jornada de trabalho iniciaram-se no final do século XIX – especialmente como consequência do ideário socialista, utópico e científico, e das manifestações populares – e foram até o início dos últimos anos 80, com a chegada do neoliberalismo, cujo modelo foi o paraíso corporativo e o martírio dos trabalhadores.
fds Desde então, apesar da concentrada e ativa ação sindical-operário-popular, setores empresariais aliados com governos de centro-direita têm conseguido sim alterar as leis nacionais e incluir regras que admitam a ampliação da jornada via negociações coletivas – como exaltou o colega porta-voz industrial; porém, o que esquece (ou não sabe), é que esses países europeus que passam a admitir a majoração da jornada, mui diferente daqui, afora já disporem de um welfare state – em crise, mas ainda capaz de (re)distribuir os dividendos sociais –, já conformam uma jornada de trabalho bem inferior, que costuma não passar das 38 horas semanais.
fds Aqui, portanto, já no mesmo ritmo feliz e cantante das cigarras que embalava aquela conversa, uma medida como esta, de reduzir a jornada, apenas visa a contribuir, continuamente, para que todas as formigas também tenham a condição de gozar e cantar a vida, com justo lazer e com certo trabalho.
fds
fds Excelente e profunda discussão, até que o colega de gravata amarela, gel gasto e pose, com ares pseudocientíficos – que tentavam camuflar os interesses realmente defendidos – sai do obsequioso silêncio e dispara, crente em estar abafando:
fds - “Hein, mas a iniciativa privada não é que é contra a redução da jornada, mas... veja, tem aí as negociações coletivas, bem capazes de regular isso... o problema é que isso ai aumentar o custo geral do trabalho e dos produtos, vai estancar investimentos e o crescimento e vai diminuir postos de trabalho, pois os empresários irão trocar gente por máquina...”
fds E segue aquela cantilena típica de quem está del otro lado del rio, para então finalizar, com pompa e circunstância:
fds - “Na Europa, berço de tudo isso (sic), mesmo o países que foram para esse caminho tiveram que rever a redução de jornada, pois não deu certo”. E ali, naquele ambiente, só se passa a ouvir o peculiar sibilo de grilos e cigarras, até que o agudo e contínuo som é interrompido por uma nova conversa. Mas agora já sobre a Larissa Riquelme.
fds Ora, ora, não adianta: a grande solução que essa turma tem para os problemas relacionados ao Trabalho sempre se concentram sob a ótica do capital (e da sua acumulação e multiplicação), razão pela qual a ideia de redução da jornada (e de qualquer outra que atenda ao trabalho e ao trabalhador) é vista como uma praga.
fds “Modelos liberais de contratação”, “diminuição de encargos sociais”, “negociações coletivas”, “ultraqualificação”, blá-blá-blá... nada que verdadeiramente esteja no cerne do problema. E, diante das tantas questões que à matéria relacionam-se, voltemos ao tópico em tela, microcondição para a evolução do quadro sócio-laboral.
fds Sabe-se bem que as razões pelas quais há resistência dos empresários em aceitá-la são de dois matizes, econômicos e ideológicos. Não generalizaremos, apenas refletiremos a regra.
fds O capital sempre (e sempre) busca reduzir o custo da força de trabalho ao mínimo, além de manter o controle sobre as condições de oferta, de contratação e de remuneração.
fds Hoje, e sempre (e sempre), quer-se utilizar o trabalhador com o maior tempo e o menor custo possível; assiste-se a um processo de intensificação de plano de metas&objetivos, da exigência por maximização das qualificações profissionais e de pressão e assédio que precariza o trabalho e prejudica, física e moralmente, o trabalho. Logo, só por uma questão de saúde pública, a redução já se mostraria imprescindível.
fds Com a terceira revolução industrial, que aqui tardiamente chegou, as indústrias – como nunca antes na história deste país – obtiveram ganhos de produtividade incríveis, mas que não foram redistribuídos para a sociedade, bem diferente do que ocorreu na Europa – e é aqui que o caro colega tanto se enganou, a merecer o solitário eco das felizes cigarras, pois é menos verdade o que afirmou.
fds No Velho Mundo, as políticas de redução da jornada de trabalho iniciaram-se no final do século XIX – especialmente como consequência do ideário socialista, utópico e científico, e das manifestações populares – e foram até o início dos últimos anos 80, com a chegada do neoliberalismo, cujo modelo foi o paraíso corporativo e o martírio dos trabalhadores.
fds Desde então, apesar da concentrada e ativa ação sindical-operário-popular, setores empresariais aliados com governos de centro-direita têm conseguido sim alterar as leis nacionais e incluir regras que admitam a ampliação da jornada via negociações coletivas – como exaltou o colega porta-voz industrial; porém, o que esquece (ou não sabe), é que esses países europeus que passam a admitir a majoração da jornada, mui diferente daqui, afora já disporem de um welfare state – em crise, mas ainda capaz de (re)distribuir os dividendos sociais –, já conformam uma jornada de trabalho bem inferior, que costuma não passar das 38 horas semanais.
fds Aqui, portanto, já no mesmo ritmo feliz e cantante das cigarras que embalava aquela conversa, uma medida como esta, de reduzir a jornada, apenas visa a contribuir, continuamente, para que todas as formigas também tenham a condição de gozar e cantar a vida, com justo lazer e com certo trabalho.
fds