quarta-feira, 31 de julho de 2013

# ver e reparar


Na epígrafe de "Ensaio sobre a cegueira", José Saramago traz: "Se podes olhar, vê; se podes ver, repara".
 
Bem, como já dissemos aqui, o Brasil progride e se constrói no caminho do desenvolvimento.

E a divulgação dos dados sociais e econômicos mais recentes – o famoso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos Municípios – mostra que em vinte anos isto se deu de forma notável (v. aqui).

De Itamar/FHC a Lula, o país mudou e melhorou como nunca.

E por isso que aquelas malfadadas e genéricas manifestações, apartidárias e acéfalas, contra tudo e contra todos, mostram-se cada vez mais nonsense e perigosas – como alertou o Papa Francisco, ao lembrar que a juventude não pode ser “manipulada” (v. aqui) –, num processo contrário e confuso cuja origem e consistência aguardam explicações, mas que já consegue apontar razoáveis vestígios de segundas intenções.

Se descuidados ou alienados, a análise do que se via nas ruas era de um país apocalíptico
como se fôssemos uma Islândia tropical ou uma Grécia quinhentistacuja monstrenga mobilização era apenas um claro movimento contra um lugar aos frangalhos, em atraso insuportável, num momento histórico de tragédia e a sucumbir no leito de morte. Amém.

E eis que os dados – os números! – sociais e econômicos mais recentes mostram que nestes vinte anos o Brasil avançou de modo notável.

O primeiro fato: o IDH avançou quase 50% e saiu do patamar “muito baixo” para um nível “alto”.

Outros fatos: a desigualdade caiu e a expectativa de vida aumentou.

E o maior fato: a qualidade de vida tinha nível “muito baixo” em 85% das cidades e hoje essa classificação envolve apenas 0,6% dos nossos municípios.

Sim, é um negócio muito sério. Hoje, de cada 200 municípios brasileiros, apenas 1 (um) tem um nível de desenvolvimento muito baixo.

Infelizmente, ainda temos grandes distorções geográficas de (i)mobilização social, pois se percebe a discrepância entre Norte e Sul, mas não se pode querer admitir que não houve progresso e que a coisa não se ajeita.

E aqui não partidarizamos a discussão e não fatiamos os dados, afinal, um fato justificante é de clareza solar: o progresso ocorreu na esteira de 25 anos de regime democrático, o maior da nossa história.

Outra razão: a Constituição de 1988, que trouxe inúmeros direitos sociais e que consagrou como objetivos fundamentais da República a construção de uma sociedade justa e solidária, a garantia do desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos (art. 3o).


E,  piano, piano, tais fins o nosso Estado vai buscando e tirando-os do papel.

Porém, isso não se constrói com o Estado mínimo e terceirizado, com o mercado onisciente, com as sete maravilhas da iniciativa privada, com métodos empresariais de gerir a coisa pública, com a turma do impostômetro e do establishment, com ortodoxia econômica e com a maximização do “laissez faire”.

E, obviamente, também não se forma um grande Estado com oligarquias políticas coronelescas, com instituições frágeis e agrupelhadas, com servidores públicos incompetentes e velhacos, com alianças espúrias e políticas públicas conservadoras, com crimes contra a Administração Pública e com a desídia confortável do “laissez passer”.

E é aí que está o problema.


Afinal, nas ruas e na grande mídia o que se vê é toda uma gente querendo abrir bem os olhos para estas últimas, e apenas as pernas para aquelas primeiras.

Pois ficamos com Goethe, ao gritar no seu leito de morte: "Licht, licht, mehr licht!".