sábado, 25 de janeiro de 2014

# pilantropia


Já tratamos aqui, ainda que sob ótica paralela, do faz-de-conta que existe em torno de parte da benevolência e das fundações patrocinadas por grandes ricos, por grandes empresas ou por grandes grupos econômicos.

Dão numa mão, sempre oferecendo largos sorrisos para a grande mídia ou posando como bonecos de cera para as colunas sociais – nos poucos lugares do planeta que isso ainda existe... –, acompanhadas ora de menininhos negros, ora de cheques-gigantes, ora de tesouras-em-ato-de-cortar-fita-pra-inaugurar-um-negócio-qualquer.

E, claro, tiram na outra, via compensação fiscal (v. aqui).

Tributos?

Ora, julgando-se melhores e mais importantes que o Estado e se ocupando desse, a tchurma entende-se mais apta e mais capaz – ah, a lenda da tal ultraeficiência privada... – para decidir "o que", "como", "quando" e "onde" fazer.

E, com base na lei, se outorga de um direito que não é dela, mas do Estado.

Admite, pois, que a sua política é a mais justa, a mais popular, a mais cívica, a mais democrática. Confia-se na melhor síndica das coisas e das políticas públicas. Sente-se a última bolacha do pacote republicano.

E une o "útil", pois substitui o seu dever fundamental de pagar impostos por repasses filantropomaníacos, ao "agradável", e tudo soa como politicamente correto, como socialmente funcional e como pomposas expressões de egalité et fraternité.

Vamos além.

A entrouxar bilhões para depois remeter aos paraísos fiscais, esta turma é a grande responsável pelo avassalador crescimento da desigualdade social em vários dos países ricos (v. aqui).

Esta mesma turma que se desbunda nos banquetes do bem e nas ações midiáticas de filantropomania – sempre assessoradas pela mídia corporativa, que oferece um portentoso espaço para isso... –, comete crimes aos borbotões, a roubar milhões do Estado, sempre com ares de "planejamento tributário", tal qual se ensina em qualquer cursinho mequetrefe de Direito mundo afora.

Mas isso não é mostrado – ora, bem se sabe que não são estas as Caras mais agradáveis de serem expostas ao distinto público. 

Enfim, o que é válido, devido e justo em um cenário de filantropia, é o ato de cortar na pele, o ato da divisão, o ato da partilha, o ato de deixar de ter.

Não a hipócrita e conveniente fantasia desta (ir)responsabilidade social, rasgada pelo exponencial desajuste do sistema que abissalmente separa os dois lados destas caridosas festas com muito brilho e pouca luz.

O contagiante sorriso de outro milionário filantropo