O Brasil, com dinheiro e sem inspiração, está a praticar um futebol que pode ser considerado um dos mais feios e vazios do planeta – não disse pior, disse "feio" e "vazio".
E não falo apenas em comparação ao desbunde daquele praticado no Velho Mundo, com a reunião de astros e esquemas de máxima grandeza.
Comparo-o ao que tenho vista em nuestra América – Argentina, Colômbia, Chile e Uruguai têm suas seleções jogado mais do que nós –, e nestes jogos do maior campeonato da Terra (v. aqui), cujos clubes hermanos mostram um futebol – em suas partes tática, técnica, física e mental – superior ao nosso.
Ontem, por acaso, foi apenas mais uma prova, como também já tinha sido na terça-feira e em toda a competição latino-americana.
Com jogadores caros e de nível barato, Atlético, Flamengo e Botafogo, por exemplo, levaram um banho.
Argentinos, mexicanos e até bolivianos mostram-se muito melhor preparados, com um padrão e sistema de jogo absolutamente superiores e, até, muito mais técnica.
O condicionamento físico de Flamengo e Botafogo deu pena. Antes mesmo da metade do segundo tempo, a grande maioria sofria para caminhar, olhando a banda de mexicanos e argentinos passar.
Culpa, claro, de um futebol brasileiro que ainda se importa com os torneios estaduais, os quais impedem uma pré-temporada e uma preparação adequada – imagine que, já no começo de um moribundo janeiro, os grandes clubes obrigam seus atletas a estarem competindo, vagando pelos campos de pelada interior adentro. Ademais, tal qual aqueles nossos criativos japoneses, lembremo-nos que, historicamente, os nossos jogadores são menos atletas do que os jogadores dos outros,
Em termos táticos, os brasileiros são medíocres e andam sofríveis. Não há nada, nada pensado, treinado, armado, engenhado. Nenhuma alteração, nenhuma variação e nenhum ensaio. É o trivial, o básico e o bumba-meu-boi, resgatando o futebol europeu de priscas eras, baseado no chuveirinho e na correira desenfreada.
Culpa, claro, da má preparação dos nossos profissionais, do descaso com o estudo e a estratégia do jogo e das atitudes de quem ali à beira do campo pensa saber tudo – e por isso ignora o óbvio ululante – ou sabe que não pensa em nada – e por isso insiste só nas obviedades.
E, tecnicamente, o jogador brasileiro tem a cada ano piorado. Os três times eliminados desta Libertadores são apenas o corolário desta fase horrorosa dos nossos jogadores, que não conseguem trocar três ou quatro passes, que vivem de chutões e de bolas paradas e que desconhecem qualquer sentido de organização e coletividade.
Culpa, claro, da má formação técnica, da falta de preparo nas categorias de base, da insistência em confundir "habilidade" com "técnica" e do desprezo com que sempre encaram qualquer conformação plural, ainda a pensar que resolvem tudo a hora que bem queiram e, ignorando o football association, não admitindo a nossa flagrante escassez de didis, niltons, gersons, rivelinos e zicos.
Não, o futebol brasileiro há tempos já não tem esta moral e esta profusão de individualidades geniais.
A eliminação precoce de metade dos times brasileiros no torneio, marcada por um atropelamento físico, tático e técnico dos adversários, é apenas mais uma prova disso.
Talvez esta Copa do Mundo poderá nos fazer enxergar isso em definitivo.
E do pior jeito possível.
E do pior jeito possível.