Boaventura de Souza Santos -- cientista social de escol, professor catedrático da Universidade de Coimbra e coordenador do "Projeto Alice" (v. aqui) --, a respeito da candidatura da Gandhi de saias, a nossa Madre Marina da Amazônia (v. aqui):
Marina Silva é um 'instrumento' da direita brasileira, que entendeu ser
muito difícil voltar ao poder diretamente por meio de uma disputa ideológica
entre Dilma Rousseff e Aécio Neves.
A direita descobriu, muito rapidamente, que Aécio Neves não é de forma nenhuma
uma alternativa, porque faria uma disputa ideológica entre esquerda e direita.
As forças que sempre governaram o Brasil viram que era mais fácil chegar
ao poder sem fazer essa disputa ideológica, utilizando uma terceira pessoa, que
combina em sua ambiguidade alguns elementos de esquerda, não pelo que diz hoje,
mas pelo que foi.
Tem que usar um desvio e o desvio necessário é
buscar alguém que tem um perfil de esquerda para depois instrumentalizá-la.
Marina Silva é, neste momento, esse instrumento. É, portanto, um desvio a que a
direita é forçada para conquistar o poder.
Para nós, que viemos da Europa, basta quando vem aquela frase mágica da
independência do Banco Central... É a grande marca do modelo neoliberal.
Tive o cuidado de ver o programa da Marina Silva
e, obviamente, uma das coisas que diz o programa de política externa é, no
fundo, voltar ao tradicional alinhamento do Brasil com os Estados Unidos.
É só saber ler seu programa. As
perspectivas são as políticas neoliberais.
Penso que essa fulguração de Marina atingiu seu
máximo. As pessoas começam a ver os riscos por trás de uma política nova que,
afinal, é bastante velha; a ver a fragilidade da Marina com as oscilações
perante aqueles que controlam sua campanha e que lhe dão apoio.
Continua a haver uma esperança de que, no
segundo mandato, a presidente Dilma vá fazer o que se espera de um governo do
PT.
Ao passo que da Marina Silva, francamente, não
há nada a esperar.