Enquanto isso, num festivo e agradável churrasco, o anfitrião inoportunamente fuça num dos gadgets à mão e saca a piada que virtualmente recebe:
- "Se não passar no ENEM, faz um neném que Bolsa Família você tem...".
Alguns poucos deram uma risada meio amarela, outros não ouviram, e ele insistia em repetir o dichote.
E insiste de novo.
E, pela quarta e última vez, insiste.
Não percebe, portanto, que o chiste, além de sem-vergonha, padece de absoluto preconceito, ignorância e, claro, ódio.
"Sem-vergonha" porque monta rima pobre de marré, marré, marré, inapta para qualquer ambiente com cidadãos absolutamente capazes e com trinta e dois dentes.
"Preconceito" que advém da "ignorância" sobre a existência, as razões, o funcionamento, os condicionantes e os reflexos da brava ação (ENEM) e do excelente programa (Bolsa Família) do Governo Federal, ambos já discutidos aqui e aqui.
E "ódio" porque este sentimento, afinal, costuma escorrer no canto da verborragia da elite nativa, como típico instinto da luta de castas -- v. aqui.
Mas tudo isso, claro, pode ser encarado como exagero ou falta de esportividade de minha parte ao não entender ou desgostar do gracejo social.
Sim, aquelas convenientes reticências ou a útil conotação que residualmente os piadistas se socorrem são capazes de fingir levar o caso na mera, doce e cândida brincadeira.
Para ao cabo inverter o lado criticável e sem graça da mesa.