As lágrimas são muito mais que fluidos que brotam de glândulas por meio de canais e canalículos como resposta do sistema límbico.
Chorar é o transpirar da alma, é enxaguar o rosto de sentimentos que nos inundam de amor (ou das tristezas do amor).
Hoje chorei a "despedida", aquele facão que de tempos em tempos decepa as nossas raízes para nos mandar para longe, como se capturados pelas mãos cruéis do destino (v. aqui).
Porém, mais do que o meu pé calejado de espinhos frente às mudanças, chorei o choro dos meus dois pequenos filhos, deixando a casa dos meus pais e o convívio com toda a família por mais de dois meses.
Chorei o choro que eles não choram porque ainda desconhecem a saudade.
Não conseguem medir a pausa daquele dia a dia com o avô, as avós, as tias e as primas.
E como desconhecem o tempo, parecem não sentir a falta do amanhã.
Vivem o hoje, e apenas embaixo do consciente é que devem guardar o cotidiano mágico de todas estas semanas -- e, lá na frente, um dia quem sabe, resgatam-no de uma memória bisbilhotada, numa roda de um churrasco de domingo já sem graça.
Agora, portanto, certamente estão longe de entenderem o que significa uma casa de vó, a farra do furdunço em família e a fortuna da farta felicidade com todos na velha casa, como aqui lembramos.
Contudo, diante destes meses todos uma coisa não tenho dúvida: do jeitinho mais ou menos silencioso deles bem compreenderam o sentido do "amor total".
E por isso as minhas lágrimas, que tanto demoraram pra secar.
Afinal, sei bem a falta que aquela casa fará na vida deles.
E a falta que eles farão a ela.
E a falta que eles farão a ela.