O Rio é uma ilha cercada de botequins por todos os lados.
Sujos, limpos, clássicos, desbeiçados, rebeldes, frescos, com purpurina e lantejoula, com aura olímpica, com histórias medievais, com mensagens subliminares, com fedor grã-fino, da moda, démodé, de cerveja, de conhaque, de cachaças, de acepipes, de porções, de pratos feitos, de pratos fartos, de pratos babacas, no estilo clássico, carioca, caído, carnavalizado, art déco, art nouveau, habitados por artesãos de cais do porto, boêmios, bêbados, boçais, bossas-novas, biltres, burgueses, mendigos, bichas, damas, putas, piás, pivetes, velhos, velhacos, e a preços de banana, módicos, honestos, ultrajantes, sem-vergonha, salafrários, de todo o salário.
Enfim...
Sábado, na companhia de uma cáfila de bons amigos, com Edu Goldenberg no timão, estive, depois de um longo jejum -- é a distância geográfica que tanto nos separa -- num dos melhores bares do Rio de Janeiro.
Ele, o "Cachambeer", no (outrora bucólico) bairro do Cachambi, nas cercanias de Del Castilho.
Não bastasse ter uma das maiores e suculentas carnes de gente grande destes trópicos, e o chopp insistente e minuciosamente tirado do traseiro das focas que se espraiam pelos balcões, o dono, Marcelo, é uma das figuras ímpares desta cidade.
Um lord de botequim, autêntico, num atendimento que te faz pensar estar na churrasqueira do lar ou no sítio do avô.
Na casa, nada falta, tudo farta e, mesmo que digam que a mistura toda enfarta, a travessia por línguas, porcos, cabritos, moelas, linguiças e bois no bafo é daquelas que poderiam durar vários transatlânticos.
Seu tipo, pasmem, acabou por convencer palacianos e jornalões que por lá costumam dar as caras, com fotos, encomendas, prêmios e matérias -- contudo, a genuinidade do lugar não cedeu um só centímetro, um só grama de autenticidade se perdeu na já famosa "birosca".
É daqueles lugares para se passar uma vida a beber e comer -- ou melhor, mesmo depois dela, nele continuar.
"Aqui, jaz um portentoso cliente", se escreveria num epitáfio, à porta do lugar, com as cinzas misturadas ao resto de guimbas, espumas e ossos de costelas que a cada fim de noite decoram a alma do butiquim.
Sim, ali é quase um pórtico que te conduz para um outro espaço, como uma fenda a te propor uma dimensão diversa daquilo que se perpetua pelas zonas suis do dia a dia.
Afinal, enche-nos de esperança ver que ali não se cederá à babaquização geral de bares que remete às coisas do tipo gourmet, no afã de "dialogarem" com pratos e cardápios e "harmonizarem" com cervejas (!?), num festival di etiquetas, hábitos, poses e preços que causam náuseas.
Nestes tempos em que tudo se força para ser único e todos se maquiam para serem diferentes, mas que toda ação, ao cabo, se reduz ao um próprio fim de pasteurização e mimetização geral, comove estar num lugar desses, que navega como se único, como se dos últimos.
O Cachambeer, meus caros, é uma espécie de Arca de Noé.
Enfim...
Sábado, na companhia de uma cáfila de bons amigos, com Edu Goldenberg no timão, estive, depois de um longo jejum -- é a distância geográfica que tanto nos separa -- num dos melhores bares do Rio de Janeiro.
Ele, o "Cachambeer", no (outrora bucólico) bairro do Cachambi, nas cercanias de Del Castilho.
Não bastasse ter uma das maiores e suculentas carnes de gente grande destes trópicos, e o chopp insistente e minuciosamente tirado do traseiro das focas que se espraiam pelos balcões, o dono, Marcelo, é uma das figuras ímpares desta cidade.
Um lord de botequim, autêntico, num atendimento que te faz pensar estar na churrasqueira do lar ou no sítio do avô.
Na casa, nada falta, tudo farta e, mesmo que digam que a mistura toda enfarta, a travessia por línguas, porcos, cabritos, moelas, linguiças e bois no bafo é daquelas que poderiam durar vários transatlânticos.
Seu tipo, pasmem, acabou por convencer palacianos e jornalões que por lá costumam dar as caras, com fotos, encomendas, prêmios e matérias -- contudo, a genuinidade do lugar não cedeu um só centímetro, um só grama de autenticidade se perdeu na já famosa "birosca".
É daqueles lugares para se passar uma vida a beber e comer -- ou melhor, mesmo depois dela, nele continuar.
"Aqui, jaz um portentoso cliente", se escreveria num epitáfio, à porta do lugar, com as cinzas misturadas ao resto de guimbas, espumas e ossos de costelas que a cada fim de noite decoram a alma do butiquim.
Sim, ali é quase um pórtico que te conduz para um outro espaço, como uma fenda a te propor uma dimensão diversa daquilo que se perpetua pelas zonas suis do dia a dia.
Afinal, enche-nos de esperança ver que ali não se cederá à babaquização geral de bares que remete às coisas do tipo gourmet, no afã de "dialogarem" com pratos e cardápios e "harmonizarem" com cervejas (!?), num festival di etiquetas, hábitos, poses e preços que causam náuseas.
Nestes tempos em que tudo se força para ser único e todos se maquiam para serem diferentes, mas que toda ação, ao cabo, se reduz ao um próprio fim de pasteurização e mimetização geral, comove estar num lugar desses, que navega como se único, como se dos últimos.
O Cachambeer, meus caros, é uma espécie de Arca de Noé.