Surge à tona a questão dos "trotes", quando a mídia vem mostrar as festas & festividades nas quais os calouros universitários são castigados, humilhados e coisificados, como aqui.
Lembro-me bem do meu tempo universitário, e acho meio óbvia a questão: tanto quanto os "veteranos", os grandes idiotas dos casos são também os próprios calouros.
Afinal, por que ir aos tais eventos de "boas-vindas" promovidos com claros e manifestos propósitos de castigar e humilhar?
E, ainda que de modo mais ou menos masoquista queiram lá ir, por que aceitar, serenos e cordiais, a submissão animal a eles imposta?
Freud explica?
-- x --
É óbvio ululante que, nos primeiros meses de vida universitária, toda reunião extramuros tem por alvo esculhambar com os calouros.
Cocô, lixo, blush, tinta, mijo, raspagens, agressões, lesões, roubos e extorsões, tudo conspira para que os calouros sejam humilhados.
Repergunto: por que ir a estes negócios?
À minha época, quando calouro na UFPR, lembro-me de alguns esfuziantes colegas que tinham a plena (in)consciência do que aconteceria nas tais "recepções" e, mesmo assim, iam para depois curtirem a experiência do que sofreram -- e, às vezes, lamentarem, como se não fossem responsáveis pelo que haviam cativado, quase Pequenos Príncipes às avessas... -- e se creditarem, orgulhosos, para fazer nos calouros do ano seguinte tudo aquilo a que se submeteram.
Dizem que isso tudo faz parte da jovem idade; encaro, porém, como parte da imbecilidade.
Afinal, só otários vão para "eventos" desta natureza, ou enxergam algo de sublime em dar ou receber "trotes" desta natureza diante de uma massa de desconhecidos.
E, se antes das redes sociais essa coisa toda já era ultrabadalada, imaginem agora, tendo à mão um facebook que instantaneamente mostra ao mundo a sua "nova fase", a tua badalada testa pichada de bosta e o teu corpo banhado de ovo bento... não é o máximo isso?
Cocô, lixo, blush, tinta, mijo, raspagens, agressões, lesões, roubos e extorsões, tudo conspira para que os calouros sejam humilhados.
Repergunto: por que ir a estes negócios?
À minha época, quando calouro na UFPR, lembro-me de alguns esfuziantes colegas que tinham a plena (in)consciência do que aconteceria nas tais "recepções" e, mesmo assim, iam para depois curtirem a experiência do que sofreram -- e, às vezes, lamentarem, como se não fossem responsáveis pelo que haviam cativado, quase Pequenos Príncipes às avessas... -- e se creditarem, orgulhosos, para fazer nos calouros do ano seguinte tudo aquilo a que se submeteram.
Dizem que isso tudo faz parte da jovem idade; encaro, porém, como parte da imbecilidade.
Afinal, só otários vão para "eventos" desta natureza, ou enxergam algo de sublime em dar ou receber "trotes" desta natureza diante de uma massa de desconhecidos.
E, se antes das redes sociais essa coisa toda já era ultrabadalada, imaginem agora, tendo à mão um facebook que instantaneamente mostra ao mundo a sua "nova fase", a tua badalada testa pichada de bosta e o teu corpo banhado de ovo bento... não é o máximo isso?
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E, ainda mais estúpido que ir, é aceitar aquilo tudo, submisso.
Será que o calouro rebelde seria submetido a tratamento tão degradante quanto aquele oferecido à coletividade (ou à manada) de calouros?
Certamente não, afinal, poucas humilhações públicas (crimes?) restariam para além daqueles normalmente praticados pelos veteranos nesses tipos de "eventos".
Repergunto: por que não recusar? Por que não se rebelar? Por que não mandar todo mundo tomar no olho do cu?
No meu início de competições desportivas, com 12 ou 13 anos, eram frequentes as viagens com atletas mais velhos -- frequentemente viajava e jogava com atletas dois ou três anos mais velhos, o que praticamente significava a distância entre as eras cenozoica e paleozoica -- e, não raras as vezes, havia o conflito entre "veteranos" e "calouros".
Numa delas, para alguma cidade do interior do Paraná, na noite em que toda a chefia da delegação havia saído para jantar, eu já sabia que coisa boa não viria.
Dito e feito.
Atenienses de um lado -- uns dez -- e nós três calouros do outro.
Os veteranos queriam impor um jogo: "cubol", uma aberração cujo nome mistura a parte interna das nádegas e algo tipo bola.
Ainda mais novo que os outros dois colegas calouros, fui o primeiro a ser apontado como um dos "jogadores".
Insurgi-me: "Não!".
E negava por várias vezes três.
Desaforos, ofensas, pequenos tapas e empurrões, grandes ameaças... e nada me desabalava e nada me faria ir para aquele "jogo".
"Não vou!", insistia em alto e bom som.
Era, ali, um digno espartano.
E não fui e não fiz -- e acho que não me mataram.
Hoje, duas décadas depois, ainda me vem à memória a imagem dos outros dois colegas, mezzo descontraídos, mezzo deslumbrados pelo momento, correndo pelados, de cócoras, de um lado para outro daquela imensa sala, com uma tampa de xampu (ou uma bolinha de ping-pong ou um naco de sabonete, já não lembro) enfiada por entre as nádegas e com o objetivo de empurrar para um tênis como simulacro de "cesta".
À frente, já veterano e líder de time, comprei inúmeras brigas por jamais admitir que tal prática -- e outras deste nível, meras aberrações infanto-juvenis -- fosse feita nas tantas viagens em que estive presente.
Mas, confesso, não faltavam aqueles calouros que lamentavam não ter todo aquele nauseabundo ritual.
Seriam aquelas que faziam porque queriam.
Será que o calouro rebelde seria submetido a tratamento tão degradante quanto aquele oferecido à coletividade (ou à manada) de calouros?
Certamente não, afinal, poucas humilhações públicas (crimes?) restariam para além daqueles normalmente praticados pelos veteranos nesses tipos de "eventos".
Repergunto: por que não recusar? Por que não se rebelar? Por que não mandar todo mundo tomar no olho do cu?
No meu início de competições desportivas, com 12 ou 13 anos, eram frequentes as viagens com atletas mais velhos -- frequentemente viajava e jogava com atletas dois ou três anos mais velhos, o que praticamente significava a distância entre as eras cenozoica e paleozoica -- e, não raras as vezes, havia o conflito entre "veteranos" e "calouros".
Numa delas, para alguma cidade do interior do Paraná, na noite em que toda a chefia da delegação havia saído para jantar, eu já sabia que coisa boa não viria.
Dito e feito.
Atenienses de um lado -- uns dez -- e nós três calouros do outro.
Os veteranos queriam impor um jogo: "cubol", uma aberração cujo nome mistura a parte interna das nádegas e algo tipo bola.
Ainda mais novo que os outros dois colegas calouros, fui o primeiro a ser apontado como um dos "jogadores".
Insurgi-me: "Não!".
E negava por várias vezes três.
Desaforos, ofensas, pequenos tapas e empurrões, grandes ameaças... e nada me desabalava e nada me faria ir para aquele "jogo".
"Não vou!", insistia em alto e bom som.
Era, ali, um digno espartano.
E não fui e não fiz -- e acho que não me mataram.
Hoje, duas décadas depois, ainda me vem à memória a imagem dos outros dois colegas, mezzo descontraídos, mezzo deslumbrados pelo momento, correndo pelados, de cócoras, de um lado para outro daquela imensa sala, com uma tampa de xampu (ou uma bolinha de ping-pong ou um naco de sabonete, já não lembro) enfiada por entre as nádegas e com o objetivo de empurrar para um tênis como simulacro de "cesta".
À frente, já veterano e líder de time, comprei inúmeras brigas por jamais admitir que tal prática -- e outras deste nível, meras aberrações infanto-juvenis -- fosse feita nas tantas viagens em que estive presente.
Mas, confesso, não faltavam aqueles calouros que lamentavam não ter todo aquele nauseabundo ritual.
Seriam aquelas que faziam porque queriam.