quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

# sociedade e fraternidade



Melhor do que o título -- cujo termo empregado ("Fraternidade: Igreja e Sociedade"), para não ferir ou magoar todos os interesses dos conservadores e da própria Igreja Católica, foi por demais subliminar ou metalinguístico --, o mote de discussão da campanha da fraternidade é deveras apropriado: "Eu vim para servir" (Mc 10,45).
 
Capitalismo, neoliberalismo, privatizações, sociedade de consumo, desigualdade e socialismo, economia solidária, Estado, sociedade de caridade, igualdade, tudo reflete -- e tudo merece reflexão -- no pensamento e nas atitudes que se esperam de nós cristãos.

No texto-base da campanha, lê-se uma Igreja a serviço da sociedade e uma Igreja fundada à luz da doutrina social, para um debate de a partir do diálogo e da cooperação entre Igreja e sociedade que reflita sobre a dignidade humana, o bem comum e a justiça social. E como nas raízes do ideário cristão, uma Igreja que venha par servir.

Assim, retoma-se um tema -- e uma missão -- fundamental para a Igreja: o seu irrestrito engajamento político e social, com alicerce no amor, na fraternidade, na liberdade e na igualdade em nossa sociedade.

Simples assim? Não.

Embora sem ainda fazer a devida mea culpa pelo combate e boicote históricos à alternativa para o grande sistema econômico-social vigente e aos seus representantes -- como, no caso, todos aqueles que lideraram e consolidaram a "teologia da libertação" --, a Igreja Católica ajuda (e se ajuda) a reconhecer a nossa omissão diante das injustiças que causam exclusão social , fome, morte e miséria, de forma a tornar vital a relação que combina desenvolvimento, eficiência econômica, direitos fundamentais, justiça social e prudência ecológica.

Mais, busca repercutir os interesses neste universo do espetáculo, do consumo e do individualismo, que privilegia o ter e releva o ser.
 
Hoje, finalmente, temos uma campanha da fraternidade que atinge o âmago do grande problema e que nos convida a lutar para que as agruras provocadas pela economia capitalista possam, ao menos, serem minimizadas, mediante a concretização do mínimo necessário para a subsistência de cada ser humano.

A ideia, inclusive, corrobora outro lema da Campanha de uns anos atrás -- "Economia e Vida" (v. aqui) --, na qual se registrara a afirmação de Jesus: "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro" (Mt 6,24), fazendo-nos propor uma escolha entre os valores cristãos e sociais -- da nossa sociedade e coletividade -- e os "valores" do capital, visto como entidade absoluta a dirigir a vida privada, egoísta e solitária.

Na história humana, marcada por ambições, explorações, injustiças e ganância, a Bíblia se volta decididamente para a defesa dos pobres. No âmbito social, a Bíblia nos mostra profetas acusando reis e gente poderosa que enriquece à custa do povo e não cuida bem daqueles a quem deveriam servir -- eis, aqui, uma incontestável relação com a atual realidade dos grandes capitalistas e de inúmeros governantes.

No âmbito comunitário e pessoal, a Bíblia fala sobre os direitos do trabalhador, ao socorro que devemos prestar aos pobres e aos dever de evitarmos a corrupção e a desonestidade e de viver a partilha no amor fraterno. Eis as palavras de João no Evangelho de Lucas (Lc 3, 11): "Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo".
 
Portanto, que Deus nos ajude a seguir perenemente este ensinamento e trilhar o mais justo caminho em busca da fraternidade, da igualdade e da verdadeira liberdade, fazendo-nos sempre lembrar que a vida, como ela é, não se concentra nos nossos castelos.