Há muito tempo estou para escrever sobre eles.
Talvez desde quando virei a casaca, nos idos de 2002/2003.
Acompanhando religiosamente o meu Atlético na Baixada, vez por outra usava um boné preto do meu time de basquete, o Boston Celtics, que desde a adolescência acompanhava e torcia, ainda fruto do que o espetacular branquelo Larry Bird fazia pelas quadras nos anos 80 e eu, iniciante, tentava imitar.
Entretanto, certa feita, estava no estádio com um primo que, lá pelas tantas me lança: “Pô, está ridículo você com este boné deste time verde... não dá pra usar... isso lembra muito os Ervilhas...”.
Na hora não dei importância.
Mas, chegando em casa, ao abrir a minha gaveta para guardar o boné que usara, eis que lá vi, com outros olhos, um mar de outros tantos, em cores verde, verde-e-branco, preto-e-verde...
Enfim, era mesmo muito verde para alguém com o sangue rubro-negro se permitir usar.
E pensei: isto não está legal.
E como nem o próprio Bird já não era Boston – afinal, senão quando jogador, ele sempre foi Indiana, e de Indiana --, vi que deveria mudar.
Foi quando me apresentaram Gregg Popovich, Tim Duncan, Manu Ginobili, Tony Parker e o jogo do San Antonio Spurs.
E desde então mudei-me para as cores preto-e-cinza do time texano.
E desde então o que tenho visto é um deslumbramento para quem gosta e entende o basquetebol.
E hoje posso afirmar, sem mais dúvidas, que o San Antonio daquele técnico (Pop) e daquele que constitui o trio mais vencedor da história da NBA (Tim, Manu e Tony) é – ou foi – o maior time de basquete de todos os tempos.
Com uma média de 36 anos e na fase final das suas carreiras, o trio – hoje junto do ótimo Kawhy Leonard, no alto dos seus 23 anos…, e de Green, Diaw, Mills, Splitter e Belinelli – continua a jogar um basquete de encher os olhos, de por vezes comover os mais atentos e de mostrar que a maioria dos adversários não passa de um bando que enterra.
Ora, nesta onda toda de triunfos midiáticos, individualismos exibicionistas e vale-tudo mercantil, também na NBA temos muito clara a divisão de mundos.
De um lado a turma do playstation, do shopping center, do sea world, dos jogadores-margarina, tudo meio de plástico como se fabricado em alguma clínica estética de Coral Gables.
Do outro, espécies de boinas verdes, de legionários, que jogam basquete, que jogam e pensam, que abusam da estratégia, da técnica e da tática, sem piromania, sem pirotecnia e sem onda, quase soviético mas globalmente made in USA, comme il faut.
Sem firulas, sem flashs, sem fan zones, eles afundam os modos dos garotos de circo vendidos pela mídia como frutos da tese única do jogo e do comportamento -- sim, porque o jeito e a forma do San Antonio não é vendável, pois secos de apelos e lantejoulas tão queridos pelo showbusiness da sociedade de consumo.
Sem firulas, sem flashs, sem fan zones, eles afundam os modos dos garotos de circo vendidos pela mídia como frutos da tese única do jogo e do comportamento -- sim, porque o jeito e a forma do San Antonio não é vendável, pois secos de apelos e lantejoulas tão queridos pelo showbusiness da sociedade de consumo.
Ora, nos dias de hoje, o que os Spurs insistem em fazer, em todos os seus fundamentos, regras e lógicas, é “basquetebol”, o resto é streetball.
Os Spurs jogam o jogo socializante, pensado, treinado e estratégico – e não um repetitivo, forçado, afortunado e individualizado mano-a-mano de méritos questionáveis.
Os Spurs jogam o jogo socializante, pensado, treinado e estratégico – e não um repetitivo, forçado, afortunado e individualizado mano-a-mano de méritos questionáveis.
Os Spurs põem em prática o melhor da globalização, que é reunir grandes valores mundo afora obedecendo-se às suas origens. E por isso nele se vê estadunidenses, franceses, argentino, brasileiro, australiano, neozelandês e italiano oferecendo o melhor do que dispõem, sem desprezar as suas idiossincrasias nativas, mas também sem permitir rebeldias gratuitas contra o sistema de jogo desenvolvido pelo timoneiro Popovich.
Os Spurs resgatam o espírito do bola ao cesto: o coletivismo belo e coreográfico, desenhado como pinturas renascentistas, modelado em movimentos clássicos de um nove milímetros magistral e talhado à mão.
E reproduzem ao máximo a velha escola do legítimo basquetebol.
O jogo que acaba de terminar, o quinto dos playoffs contra o bom lado B de Los Angeles, foi apenas mais uma prova disso tudo.
E uma das últimas provas, afinal, muito provavelmente estes estejam sendo os últimos jogos desta turma, o trio se desmanchando e o fim de uma era.
O jogo que acaba de terminar, o quinto dos playoffs contra o bom lado B de Los Angeles, foi apenas mais uma prova disso tudo.
E uma das últimas provas, afinal, muito provavelmente estes estejam sendo os últimos jogos desta turma, o trio se desmanchando e o fim de uma era.
Agora, enfim, o Boston que me perdoe, mas aquele verde de outrora hoje amadureceu e está bem melhor.
E já me sinto San Antonio Spurs desde criancinha.
Só acho, claro, que ainda lhe falta um certo vermelho…
Só acho, claro, que ainda lhe falta um certo vermelho…