Hoje ainda se fala muito da derrubada das torres gêmeas.
Entretanto, o que talvez mais se deva lamentar é aquele 11 de setembro de 1973,
quando foi derrubada uma outra (e muito maior) "torre".
Nesta data, a direita chilena, em conluio com o Governo
dos EUA e o apoio das ditaduras
sul-americanas, deu o Golpe e acabou com a democracia no Chile.
E esta tropa toda invadiu o Palácio de La Moneda,
assassinou o presidente eleito Salvador Allende e acabou com um dos mais democraticamente revolucionários
mandatos populares já existentes no mundo, no qual se desenvolvia um outro modelo, assente numa imaginação institucional alternativa, com raízes socialistas de Estado e de gestão pública e que repensava, para transformar, as relações de capital e de trabalho.
Em suma, o Chile, pelas mãos de Allende e o imaginário coletivo do povo, edificava um socialismo fundado em paz, democracia, pluralismo e liberdade, como assim descreveu Darcy Ribeiro, em carta publicada após o massacre golpista (v. aqui).
À sombra da mangueira imortal já nos pronunciamos sobre o fato, um dos mais tristes e lastimosos para todos aqueles que creem numa
outra sociedade: justa, livre, igualitária e fraterna (v. aqui e aqui).
Ouçam, aqui, o último e arrepiante pronunciamento de Allende -- percebam a voz, a serena, forte e inabalável voz de um dos maiores líderes latino-americanos --, feito ao vivo à
"Rádio Magallanes" da capital Santiago, concomitante aos bombardeios
e minutos antes da invasão como desfecho do golpe.
É, simplesmente, um dos maiores discursos da História.
A derrubada de uma Torre, tijolo a tijolo num desenho trágico.