Eis, hoje, outro claro sinal de que estamos mesmo num fim de feira.
Não, não... Não sejamos cruéis com os feirantes.
E tampouco com os palhaços, os porcos e as putas – por isso, também não tratemos de circo, lama ou zonas.
E tratemos de dar o certo nome aos bois: que diabo é isso de, depois de tudo, ainda se dar o mínimo crédito aos tais "operadores do mercado", comumente exemplares no papel de Caronte, e às tais "agências de risco", típicas sucursais do inferno?
Ora, esta malta toda, por trás das suas "agências", a toda hora vem ao mercado (?) para dizer que está tudo ruim, que o cenário é péssimo, que o futuro é de trevas e que irá reduzir a qualificação técnica (o chamado "grau de investimento") do nosso país, afinal, "há piora sistemática dos indicadores de política fiscal", professam.
Sim, são falsos portadores que, de vozes celestiais e ao som de harpas (mas, verdadeiramente, das profundezas do Malebolge, sob o toque do tridente ao chão), sentenciam: "abaixamos o grau de investimento deste país".
Este bando discursa com seus ares sérios, doutorais e proféticos, como se o oráculo do terceiro milênio – e, por óbvias razões político-eleitorais e recônditos desejos financeiros, se dá valor a isso, a esse engodo.
Nesta roda-viva perversa, o vadio capital financeiro divulga as suas teses como verdade, as suas práticas como boas e as suas vontades como técnicas – veja aqui, a propósito, no que se transforma todo este tecnicismo.
Ao cabo, a grande mídia propaga estes ensinamentos com sinal divino e a caravana passa.
A tchurma, claro, prostra-se diante das sábias ideias noticiadas, ouvidas como um mantra e provocadoras dos mais plurais orgasmos.
Senhores, meus caros senhores, estas agências e estes bancos, com seus técnicos de araque (e de mercado), não têm nenhuma credibilidade, não têm qualquer reputação e nem qualquer esteio e envergadura morais para nada, em especial depois da crise de 2008.
Entes privados que, só servindo a interesses privados, falando e fazendo apenas o que convém a si e aos seus privados clientes, foram co-responsáveis pelo colapso econômico global que quebrou pessoas e países – "Inside Job", documentário premiadíssimo, revela e explica tudo (v. aqui).
Ora, são elas – e as suas cabeças – que deveriam ser cortadas e fulminadas.
São elas que deveriam ser extintas, condenadas à injeção letal pelas tantas mortes causadas mundo afora – ou, como as bruxas de outrora, queimadas em praça pública.
Como é que se pode acreditar e se dar o mínimo valor a este pessoal que, anos e anos a fio, bancou com notas máximas (e fantasiosas) tantas entidades públicas e privadas que construíram pacotes de vento (créditos subprime) para vender no mercado na forma de "derivativos", um dos mais obscuros objetos do mundo, provocando o (desejado) caos?
Lembremos: em agosto de 2008, pouco antes do caos, estas mesmas agências e bancos de agora – a Standart & Poors (S&P), a Moddy´s e o Goldman Sachs – atribuíram ao Banco Lehman Brothers – sim, ele mesmo, que seis meses depois celebrou a maior falência da história dos bancos, levando meio mundo consigo, como um tsunami – um "triplo A" (AAA), a nota máxima de credibilidade.
E, agora (e sempre), elas ressurgem para sorrateiramente especular e dizer – com qual credibilidade? – que aumentou o endividamento da economia, que alteraram os paradigmas contábil-financeiros brasileiros, que mudou o nosso status de player internacional e que pioraram os tais "indicadores"... e, mais, ousam propor para o comando da Petrobras um dos seus pares e um virtual rebaixamento da economia brasileira.
Ora, em que diferem os canalhas que ocupavam as diretorias da maior empresa brasileira dos lobos bandidos que regem a roleta do mercado financeiro e participam de megaestelionatos coletivos (v. aqui)?
Nada, meus amigos, nada.
Afinal, acreditem: esta gente, que arrebenta o mundo por meio de uma arquitetura financeira diabólica, exala enxofre.
Sexo, mentiras e videotape
(publicado originalmente em maio de 2014)