Qual a credibilidade destes bandidos que tanto roubaram do Estado (v. aqui)?
De que valem as suas tais delações, se ao cabo são nuas em provas — e, por si, nem provas são?
Dar-lhes sérios ouvidos tem o mesmo sentido que ouvir o que dizem estas casas de massagem chamadas "agências de riscos", entidades que vivem de especular e ajudar a quebrar países e cidadãos (v. aqui).
Ora, esta tal de "delação premiada" — hoje o grande triunfo de juízes, promotores e delegados, como aqui, no caso do grande empreiteiro picareta (cuidado com o pleonasmo) dono da UTC e aqui, trazendo as últimas do tal Baiano — constitui uma esquizofrenia do direito processual penal, pois permite dar seriedade e notoriedade a um bando de crápulas cujas palavras não valem nada.
Pior ainda, este instituto fomenta um tiroteio sem sentido entre tantos acusados, deveras prejudicial às investigações, na medida em que enubla e distorce os caminhos naturais perseguidos pelas autoridades públicas, ludibriando e levando a erro juízes, promotores e policiais — se, claro e ao cabo, não parte desses próprios agentes públicos a ideia, mediante a tortura psicológica da prisão preventiva infinita ou a barganha midiático-financeira.
Ainda, este negócio todo afronta à própria sociedade, pois permite que estes biltres acusem terceiros por reles questões de ódio ou má-fé, prejudicando inocentes, e contem histórias da carochinha com finais furta-cor a fim de ganhar "prêmio" pela funesta "colaboração".
Estes dias, para tornar tudo ainda mais jocoso e bem ilustrar o cenário, um dos picaretas vai a juízo, desdiz a delação anterior e oferece uma nova — pasmem, é a delação da desdelação (v. aqui).
No seu início, há um ano, confessei acreditar no que poderia se tornar a Lava-Jato (v. aqui) — mas, ao que tudo indica, fui ingênuo.
Ora, esta turma toda presa — canalhas históricos de empreiteiras e do "mercado", se juntando a canalhas da política tão clássicos como os personagens de Sucupira — e este bando da Lava-Jato está se lixando para a verdade, para as provas, para o esclarecimento dos crimes e para o fio condutor do grande drama nacional.
Quer, sim, que tudo vire uma grande zona; quer melar o jogo das instituições e das regras; quer o caos — e, fundamentalmente, o umbigo e as suas bandeiras sãos e salvos.
Quer jogar tudo numa só pocilga, para que tudo pinte como sujo, como feio, como malvado — para, enfim, que "tudo" seja meio inexplicável e, num lusco-fusco infinito, acabe-se com a política.
E assim o bando seguirá tranquilo, pois parece que nada lhe custará ficar sabe-se lá quantos poucos anos preso para depois voltar às suas vidas, com todo o poder que as mentiras delatadas lhes confiaram e toda a grana escondida que guardaram a sete chaves em colchões ou em outros paraísos de sonos tranquilos.
E assim também seguirão tranquilos os interessados no modus operandi dos piás de prédio da Lava-Jato, logrando êxito na destruição de qualquer coisa que se pareça com a esquerda, a qual seguirá selada, registrada e carimbada como o grande mal do universo brasileiro.
Ora, anunciada por todos os cantos midiáticos como uma espécie de cruzada anticorrupção em prol das "pessoas de bem", a cada dia, a cada desvario e a cada ilegalidade a tal operação dá pistas do objeto da sua caçada.
Ora, desviando dos seus fins — ou, por medidas oblíquas, verdadeiramente os alcançando —, na vitrine desta operação diuturnamente exaltada pelos holofotes platinados na mídia há um juiz justiceiro, ao pior estilo dos gibis, preso a sabe-se lá quais interesses (geo)políticos, de mãos dadas e rabo preso a um bando de concurseiros do MP e da polícia que imaginam o direito como uma mistura de almanaque de escoteiro-mirim com guia bíblico.
E nesta toada, leves, ricas e soltas as mais importantes articulações de todo o mecanismo que sequestra o país — e com ações cada vez mais centradas na destruição não apenas de um grupo político, mas da política e dos grandes negócios público-privados que desenvolvem o Brasil —, esta Lava-Jato tem tudo para se consolidar como uma das maiores patifarias da história do Brasil, feita de falastrões para norte-americano ver.
E seus "heróis", que vestem a toga da magistratura ou se comportam como intocáveis tupiniquins promotores do bem, desmoronarão e serão largados na lata do lixo da história, mal cabendo em rodapés como pilantras de uma época bizarra.
Enfim, um grande circo, meu caro e respeitável público.
Mas que na verdade indicará, ao final, ter sido um espetáculo de horror.
E uma tragédia para o Brasil.