terça-feira, 13 de outubro de 2015

# verdade inconveniente



Recente estudo indica o quanto se sonega de tributos no país (v. aqui).

No ano-base de 2013, a estimativa foi de meio trilhão de reais -- sim, R$ 500 bilhões.

E o grosso, o que pesa mesmo deste crime, não advém de camelôs, de microempresários ou de coisas caricaturais do gênero.

Mas vem da turma limpinha e bem-cheirosa que circula pelas "classes As" do nosso Brasil-sil-sil.

Esta quantia reflete bem que o combate à corrupção, embora deveras importante, revela-se quase um "fetiche", afinal, estima-se que com esse crime o Estado perca aproximadamente 100 bilhões de reais (v. aqui), ou seja, apenas 20% do que se perde com a sonegação.

Isso sem falar de outro grande problema nacional, muito à frente da corrupção, que são as dívidas empurradas com a barriga pelos devedores da Receita, em cobranças fiscais que parecem morrer no infinito (ou no Judiciário) e que perfazem quase 1 trilhão de reais (v. aqui).
 
Logo, não obstante a soma resulte num "coquetel explosivo" para a República, comparando ambos os crimes o que mais esfola os cofres públicos não é a "corrupção" -- que envolve o público e o privado --, mas, cinco vezes mais, a "sonegação fiscal", promovida exclusivamente pelos entes privados que usam e abusam de paraísos, elisões e dissimulações fiscais.

E por que a grande mídia não noticia isso, pelo contrário, exalta painéis mambembes do tipo "Impostômetro" e vive a alardear o quanto a nossa coitada gente -- que gente, cara-pálida? -- sofre pagando tributos?

Lembram, por exemplo, da CPMF, o mais eficaz tributo já criado, mas que foi varrido por um Congresso ajoelhado diante de grandes interesses privados (v. aqui e aqui)?

Ora, escondem esta inconveniente verdade da sonegação porque não interessa à desgraçada elite (v. aqui) revelar como funciona este "capitalismo" deles, arredio à competição -- a tendência do capital é o monopólio, bem disse Marx -- e ao trabalho -- como bem se vê por aí, a tendência do capital é o rentismo.

E como não interessa a verdade, insistem em tingir (e fingir) o universo privado -- do mercado! -- com as cores do mundo celestial de fadas, como se tratasse de hagiologia, de um protótipo da imaculada excelência, de um reino incompatível com males do tipo "Estado" e "sonegação fiscal".

Por outro lado, como a corrupção tem dedos no Estado e na política... voilà, eis o porque de tamanho ódio e tamanha obsessão.

Quer-se insistir com a falsa ideia de que o governo é vicioso o mercado o virtuoso.

Quer-se a ladainha de que o público é ontologicamente ineficiente e corrupto, e o privado eficaz e imaculado. 

Lá nada presta, aqui tudo se soluciona.

E, com esta "lógica", concretizar o desejo de se mercantilizar tudo, em prol do capital (a classe endinheirada) -- "xô, Estado!", brada-se.

Afinal, quer-se matar as ideias de Estado e de política e tudo o que neles estão envolvidos, para assim restar um estado mínimo e uma política miniaturizada.

Pois os nossos endinheirados sabem muito bem que um Estado e uma política de verdade jamais lhes trará tantas rendas.