Voltar-se para o interior e para o campo não significa retrocesso.
Tão-pouco desvio esquizofrênico do ideário capitalista.
É, pois, uma literal saída pra Brasil desafogar as megalópoles, desacumular as grandes regiões metropolitanas e reorientar o caminho da massa pobre e desatinada do nosso interior.
Acontece que, embora como nunca antes feito – aqui o Plano Safra 2014/2015 e aqui um plano geral do negócio todo –, o Brasil parece insistir que a solução está no agribusiness e que a "industrialização" do campo é a variável para se obter o melhor produto da equação.
Não, mil vezes não.
É claro que não se é contra a tecnologia, contra a eficiência e contra a produtividade do campo, em tantas áreas nas quais somos modelo mundo afora, sempre sob as rédeas da EMBRAPA, uma empresa pública referência mundial que pensa, fomenta e investe no desenvolvimento agropecuário nacional.
Entretanto, o "agronegócio" não é a melhor alternativa para se ajustar as crises de trabalho, de emprego e de renda mundo afora (e em nosso país), as quais provocam mazelas estruturais calcadas em especial na desigualdade e na violência, tão-pouco para se enfrentar as crises no âmbito alimentar e ambiental que mancham o globo.
E, atente-se, nem se está a falar da crescente praga dos clássicos latifúndios (v. aqui), cuja existência aos borbotões no nosso país é "é inaceitável eticamente aos olhos dos valores e doutrinas que pregamos", pois "nenhuma família pode estar sem casa, sem moradia digna" e "nenhum sem terra pode estar sem terra", afinal, "o latifúndio ser distribuído é uma posição ética”, resumiu assim o gigante Papa Francisco nos recentes encontros com os grandes líderes dos movimentos sociais mundo afora (v. aqui e aqui).
O negócio, pois, é entender que até este tradicional latifúndio está a mudar de cara, e hoje o diabo envolve as empresas transnacionais que atuam no "negócio", de modo a controlar o comércio e a produção agrícola-pecuária por meio de oligopólios financiados por bancos privados ou públicos que anulam a competição e a tradicional veia cooperativista deste meio, esfacelando toda uma rede rural -- este, pois, é modelo industrial que se chama "agronegócio".
Assim, a proposta deve ser concentrar todos os esforços e investir muito na agricultura familiar e na pequena e média propriedades rurais -- onde atuam 75% dos trabalhadores rurais e saem 35% do nosso consumo --, intensificando-se a mais plural e efetiva reforma agrária -- a nossa outra "revolução" (v. aqui, a outra) -- e elevando-se à altas potências planos, programas e projetos financeiros (PRONAF, crédito fundiário...) e não-financeiros (escolas agrícolas, agroecologia, cooperativismo...) que transformem a nossa realidade e o nosso futuro, com justiça social e sustentabilidade.
Afinal, é ali que se emprega e onde está a imensa parte da família rural brasileira.
É ali que se muda a perspectiva pobre e cinza de uma grande massa peregrina.
É ali que se criam oportunidades e se desalgemam das amarras do destino milhões de brasileiro com muita energia.
Com muita energia mas ainda sem luz.
E com a godiva Katia Abreu por perto.
"Food, Inc.", documentário que revela o tal do agribusiness e os latifúndios 2.0