Não há dignidade no ato de aceitar o bando que pretende assumir o Brasil.
Todavia, a massa de beócios que mira seus umbigos para enxergar com “naturalidade” que Temer, Cunha e os sem-voto do PSDB vistam a faixa presidencial flerta com a falta de razão, a falta de sanidade e a falta de vergonha na cara, a ultrapassar qualquer prazer de uma mixoscopia sádica.
Não cansamos de repetir: a fonte é um ódio avassalador que tomou conta desta gente (v. aqui) e que dá suporte à maior vigarice da nossa História, como à frente assim se registrará nos livros e nas salas de aula.
Logo, pelos olhos cegos e analfabetos desta turma que tanto me cerca, nada, nada, nada, nada será pior do que manter o “governo-mais-corrupto-da-história” – algo meio slogan, meio jingle, que não sai da cabeça de milhões de brasileiros lobotomizados por uma mídia tradicionalmente nefasta quando em jogo estão os interesses público e popular – no poder.
Uma lástima esse raso e complacente raciocínio, resultante de uma resistente ignorância de quem, definitivamente, não quer se atentar para os fatos e para os tempos verbais em que isso tudo foi construído, e que desemboca em contagiante incivilidade.
Ora, o caos institucional que se provoca no Brasil não pode imaginar resolução por meio de quaisquer medidas ilegítimas, incabíveis numa ordem democrática e impraticáveis numa sociedade séria – o perigo, pois, tem proporções de hecatombe.
Por mais culpa que o governo, o PT e Dilma tenham – e têm, haja vista a péssima composição ministerial e a tímida aplicação das pautas da esquerda (v. aqui e aqui) –, são eles quem devem, inclusive como desafio e compromisso de mandato e eleitoral, procurar os caminhos e oferecer as soluções para isso, com mudanças de pessoas, de planos, de políticas, de princípios programáticos, de projeto etc.
E não outros!
E, especialmente, não esses que são corresponsáveis por este estado caótico, na medida em que traições, revanchismos, vendetas, sabotagens e um explícito boicote institucional – basta verificar o comportamento absolutamente antirrepublicano e antinacional da Câmara de Deputados no exercício da sua função constitucional nos últimos, pelo menos, dois anos – são notórios na paralisação geral.
E por isso a indecência desta situação toda, que permitirá a assunção desta corja ao poder na base do berro, sem base jurídica e à revelia do voto e da soberania popular.
Afinal, querem discutir "política(s)", como se tratasse de um processo eleitoral, e não "crime(s)" – posto que não há! –, como exige um processo de impeachment.
Afinal, querem discutir "política(s)", como se tratasse de um processo eleitoral, e não "crime(s)" – posto que não há! –, como exige um processo de impeachment.
Ademais, não cabe, como se num lamento mendaz, suspirar pelo surgimento de um salvador da pátria capaz de agregar tudo e todos, numa grande "congregação nacional" e blá-blá-blá...
Ora, antes de se vislumbrar qualquer arremedo de verdade nesta tese-vontade, o que deve ficar claro é que há governo eleito e oposição derrotada.
E isso não se pode esquecer e tão-pouco confundir, porque isso é da política, isso é da democracia – e justamente por isso que uma das coisas que se faz no nosso país é, de quatro em quatro anos, ir "votar".
A propósito, note-se bem: a alternância não é propriamente um princípio fundante da democracia, como resultado, inevitável ou não, do funcionamento pleno do "sistema democrático".
Ou seja, a alternância de poder não se reveste como um atributo ou fundamento da democracia, mas, sim, trata-se de consequência quase natural do debate e da participação políticas em uma sociedade aberta.
Assim, no seu limite, consiste (apenas) em um elemento integrante da "oposição" – e para ela vital, não obstante possa haver oposição sem alternância (e sem poder), quando a oposição é fraca ou mesmo quando o povo está satisfeito com a situação, expondo nas urnas a sua vontade cívica.
Nestes termos, portanto, não há que se falar em "impeachment", em "pacto", em "nova eleição" ou outros eufemismos falsamente legitimadores de uma ideia nacional que deixa de cumprir a estrutura edificante (e retórica?) da democracia: governo do povo, para o povo e eleito pelo povo, tudo sob a estrita obediência à ordem constitucional.
Há que se dar nome aos bois: é golpe.
Golpe que ainda resisto e que, acredito, não passará.
Golpe que ainda resisto e que, acredito, não passará.
Se for um copo é um copo / se for um cão é um cão