O PT, ao menos nos últimos quatro anos, tem errado muito.
Erra e errou tanto que, não fosse este sopro de vida dado pela oposição – tiro pela culatra de um esquema oposicionista montado por bancadas conservadoras, grande mídia e Lava-Jato que a todo custo e aos atropelos ético-jurídicos obstinou-se pela “destruição vermelha” –, provavelmente estaria sem perspectivas para um hipotético 2018.
E só não estará por que Luiz Inácio sairá candidato – desibernando de uma aposentadoria tranquila e pesqueira, viajando o mundo sob o registro histórico de ter deixado a presidência com um índice de aprovação (ótimo/bom) de quase 85% – e com ele a devoção quase messiânica que arrasta uma multidão eterna e justificadamente grata.
Afinal, nunca antes nesse país os pobres fizeram tão parte do orçamento público, nunca antes alguém resolveu encarar tão a sério a miséria, a fome e a seca que marcavam a ferro a “vida” de milhões de brasileiros.
Entretanto, não deveria precisar do socorro dele.
Bastaria, naquele auge, ter começado a pavimentar outro caminho, radical na democracia e na busca por uma sociedade mais igualitária.
Embora tenha sido essencial para, lá atrás, ter ganho a eleição e a governabilidade, já era tempo do PT ter repensado a estratégia e, aos poucos, ir desprezando o tradicional jogo político de coligações inchadas e coalizões vazias, de barganhas pantanosas e conchavos chatos, jogo por todos jogado mundo afora, numa comodidade diabólica que afoga fingindo afagar.
E assim se (re)aproximar, como tatuagem, das suas bases sociais, populares e ideológicas, única solução sadia e robusta para se governar com autonomia, altivez e segurança.
Bastaria, naquele auge, ter começado a pavimentar outro caminho, radical na democracia e na busca por uma sociedade mais igualitária.
Embora tenha sido essencial para, lá atrás, ter ganho a eleição e a governabilidade, já era tempo do PT ter repensado a estratégia e, aos poucos, ir desprezando o tradicional jogo político de coligações inchadas e coalizões vazias, de barganhas pantanosas e conchavos chatos, jogo por todos jogado mundo afora, numa comodidade diabólica que afoga fingindo afagar.
E assim se (re)aproximar, como tatuagem, das suas bases sociais, populares e ideológicas, única solução sadia e robusta para se governar com autonomia, altivez e segurança.
Tratou-se, portanto, de uma questão de escolha.
E pelas veredas escolhidas, ainda que em parte resultado da traição e da perversão de muitos e não obstante os tantos programas que assistem a tanta gente, os frutos que antes eram colhidos em abundância agora parecem se liquidificar, evaporar, findar.
Uma liquidificação consequência da miopia político-institucional inapta para entender as reformas necessárias para a transformação nacional.
E não me refiro às "reformas" boicotadas por um Congresso Nacional desqualificado, mas àquelas que o Governo jamais apresentou e que obviamente se justificam pela comunhão de interesses a que se subjugava – e que, mesmo depois de 2006, jamais se preocupou em descontruir.
Uma evaporação motivada pela acomodação de ideias e de pessoas, imaginando que as políticas públicas e os programas de governo implementados com o grande êxito da primeira década bastariam por si, infinitamente, estagnando o progresso de pautas tão caras à esquerda.
E não me refiro às "pautas-bomba" promovidas por este Congresso Nacional descompromissado com o país, mas àquelas fundamentais para desacorrentar a massa pobre, precarizada e periférica do círculo vicioso que bens materiais e diplomas sem lastro são incapazes de suplantar.
Um fim do modelo de desenvolvimento e de Estado crente em tortas avaliações de interesses: os pequenos e médio negócios reféns dos desejos do grande capital e do rentismo, a produção do campo de cócoras diante da superprodução do agronegócio, a indústria nacional à mercê do fetiche das commodities e da globalização e a realidade dos fatos e do interesse públicos escondida numa mídia privada e pirata.
E não me refiro, assim, a um modelo de paz-e-amor, necessariamente republicano e democrático, até meio frouxo perante alguns interesses
e meio vacilante em firmar certas posições, mas às ideias centrais de uma esquerda cujo vermelho tanto tem desbotado e se apequenado que aquela onda popular responsável pela vitória nas eleições já nem mais consegue enxergá-lo.
Não se enfrenta o capital vadio – bancos, especuladores e monopólios – sem ações e políticas construtivistas que desafiem destinos e libertem os brasileiros do jugo conservador arquitetado pelo pensamento refratário às mudanças estruturais.
O erro, contudo, foi não querer enxergar esse escorrer da ampulheta.
Inclusive porque, se mudanças estruturais e conceituais dependem de crises para serem implementadas, a "crise" estava aí, dentro, pulsante.
Ora, arrocho não é política de ajuste econômico; descuidar da indústria nacional, das relações de trabalho e da gestão das empresas públicas não são políticas de desenvolvimento; não tributar e não controlar o grande capital não é política fiscal; não promover reforma agrária, reforma urbana, reforma habitacional e reforma tributária não são políticas sociais; manter-se refém de grupos midiáticos e cristalizar os latifúndios da comunicação não são políticas que fomentam a democracia e a liberdade de expressão.
Não se enfrenta o capital vadio – bancos, especuladores e monopólios – sem ações e políticas construtivistas que desafiem destinos e libertem os brasileiros do jugo conservador arquitetado pelo pensamento refratário às mudanças estruturais.
Não se enfrenta a sanha mercantil dos cartéis e dos grandes grupos econômicos sem um Estado forte e com serviços públicos de qualidade, que sirvam de real alternativa (ou solução) aos caros e péssimos serviços privados e privatizados – bem distantes, pois, desta pútrida lógica de "agências reguladoras" em um pseudo-Estado que nada regula – e como chave para reorganizar um novo ciclo de desenvolvimento.
Não se enfrenta um ranço feudal, patriarcal e conservador sem alternativas, sem experimentalismo, sem imaginação e sem transformação institucional, capazes de empoderar técnica e politicamente a massa e de redesenhar as relações público-privadas.
Não se enfrentam quinhentos anos de periferia, de plutocracia e de preconceitos sem um firme projeto nacional que abrace o passado, dê asas para o presente e concretize um novo futuro para a nossa gente.
Portanto, esse elenco de graves falhas e omissões do PT durante os últimos anos não pode mais ser tolerado.
O que não significa, contudo, o seu réquiem.
O que não significa, contudo, o seu réquiem.
Afinal, esse projeto e essas ideias para o país jamais caberão no ideário da direita, dos conservadores e da turma que, por exemplo, hoje faz a "revolução moral" no Brasil.
Eles pulsam, sim, nas veias de partidos e programas progressistas, de uma esquerda comprometida, desacomodada e não festiva.
E é aí que o PT – e toda a linha de centro-esquerda brasileira – precisa voltar a se encaixar.
Por isso, o que acabou é este "modelo" – outrora exitoso –, com base em commodities e consumo, em planos sôfregos para o chão e cômodos para o teto.
Eles pulsam, sim, nas veias de partidos e programas progressistas, de uma esquerda comprometida, desacomodada e não festiva.
E é aí que o PT – e toda a linha de centro-esquerda brasileira – precisa voltar a se encaixar.
Por isso, o que acabou é este "modelo" – outrora exitoso –, com base em commodities e consumo, em planos sôfregos para o chão e cômodos para o teto.
O que acabou é o tempo de se cozinhar em banho-maria toda a vitalidade brasileira que agora exige chama e pressa.
O erro, contudo, foi não querer enxergar esse escorrer da ampulheta.
E restava-lhe trabalhar no caos, diante do qual pouco poderia ser feito.
Porém, caberia ao Governo fazer deste pouco, muito.
Tratava-se, portanto, de dimensão e perspectiva.
Tratava-se, portanto, de dimensão e perspectiva.
E de uma corajosa vontade.