“Nós estamos no início da luta. Ela será longa e demorada (...) É uma luta de todos os brasileiro, uma luta pela democracia".
Assim Dilma Rousseff se pronunciou, muito claramente, na entrevista coletiva desta segunda-feira, com a dignidade da resistência (v. aqui).
E por isso o desespero reinante da chusma que, primeiro, pensava que a votação de domingo seria definitiva e significaria o último dia do mandato da Presidente – ah, essa ignorância... –, depois, porque tinha uma “certeza absoluta” de que ela tinha que renunciar – ah, essa lógica...
Não para minha surpresa, ao meu redor a malta desde cedo vociferava, com invejável autoconfiança no que exclamava: “Ela tinha que renunciar... mas é muito orgulhosa e por isso não vai!”.
Sim, eis a convicção bem-cheirosa para explicar o fato de que a Presidente vai enfrentar os golpistas e não irá fugir: ela é "orgulhosa".
Confundem, talvez por serem conceitos bem distintos aos que praticam, coragem com orgulho, confundem a busca por justiça com a covardia já cômoda de se submeter aos ditames de uma matilha coordenada por Eduardo Cunha.
Ora, neste contexto, o ato da não-renúncia é heroico porque, simplesmente, se distancia do ambiente da porta dos fundos.
Nos anos 70, num mesmo quadro de fatos, Salvador Allende, resistindo ao golpe no Chile, de dentro do “Palacio de la Moneda” já alvo de bombardeio pelos militares, pronunciou um dos mais célebres discursos da História, por meio de uma rádio comunitária, a Radio Magallanes (v. aqui).
O centro do seu discurso, que impactou o sonho socialista de milhões de latino-americanos?
O ato de não renunciar, em nome do povo chileno que democraticamente o elegeu.
Eis o início da sua fala, e percebam o tom sereno, forte e incrivelmente inabalável das palavras deste gigante líder latino-americano, concomitantemente aos aviões que já sobrevoavam e minutos antes da invasão ao palácio e da sua morte como desfecho do golpe:
“Seguramente ésta es la última oportunidad en que me pueda dirigir a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de radio Portales y radio Corporación. Mis palabras no tienen amargura, sino decepción, y serán ellas el castigo moral para los que han traicionado el juramento que hicieron... Ante estos hechos, sólo me cabe decirle a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar!
Já agora, neste dia seguinte à "derrota" na Câmara, Dilma nos deu o ânimo e mais uma vez o exemplo de coragem necessários e suficientes, os quais servirão como munição para, no dia a dia deste infausto processo de impeachment, enfrentarmos os batalhões e os seus canhões.
E não, não fugiremos não deste chamado da História.
"(...) víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas, esperando con mano ajena
reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios".