Enquanto isso, à hora do almoço, na regozijante companhia de um velho e querido amigo, eis que na saída ele se depara com um conhecido de longa jornada -- cujo filho inclusive comigo estudou --, o qual pertence a uma rica família e à velha classe dos adêvogados.
Conversa vai-e-vem, breve e tranquila, sobre a vida familiar e profissional de cada um, até que o dito cujo olha para nós e dispara, com cara de raiva:
- "... enfim, se esses governo (sic) aí não atrapalharem, o Brasil segue em frente..."
O meu grande amigo, de pronto, como se quisesse confortar o ar de revolta do seu colega, rebate:
- "Pois veja bem, não sou da área e não pertenço à classe ou viés político algum, mas, diariamente, pelas estradas e aeroportos da vida e pelo roteiro CWB-CGH-FLP que quase semanalmente faço, vejo tráfego, negócios, comércio, gente e trabalho a pulsar... e então me pergunto o que há que tanto tantos reclamam da economia do Brasil..."
O sujeito, então, não deixa por menos, e começa com aquela cantilena típica da classe média-alta brasileira, ultraconservadora e pouco inteligente:
- "Ah, mas tudo isso 'tá assim graças ao Plano Real... os resultados de hoje ocorrem por causa daquela época... e hoje 'tá essa pouca vergonha... agora tem que parar de gastar dinheiro nisso aí (?), em corrupção (?) ... e tem que dar pra iniciativa privada tocar o país, pois já que não tem condições, já que não tem capacidade... ah, se esquece completamente da infra-estrutura... fui agora para Maringá, e a estrada está um lixo, e paguei uma fortuna de pedágio... ".
Imediatamente, cessa o papo entre eles, eu não me digno a nada comentar, há os recíprocos cumprimentos e, arrivederci.
Bem, não se pode deixar de apreciar a estabilidade financeiro-monetária alcançada com as políticas do Plano Real -- criadas, lembre-se, à época de Itamar Franco; porém, acreditar que a reviravolta do Brasil, o seu crescimento, o seu desenvolvimento e as políticas de inclusão econômica, social e humana promovidas não têm os seus únicos e exclusivos méritos neste atual Governo Federal, muito à parte do que Dom FH II fez (e desfez, com a pirataria das privatizações), é ingenuidade, obtusidade córnea ou má fé cínica, como diria Eça.
Ora, é óbvio que o sujeito é mais um daqueles que assina Veja, não perde o Jornal Nacional, fascina-se com as manchetes dos jornalões e ama o vale-tudo do mercado que afundou a Europa e estremeceu os EUA, locais esses onde o Estado foi o grande salvador das respectivas pátrias.
É mais um daqueles que partidariamente -- sem o saber que assim age... -- e sem qualquer noção republicana, acredita que o mundo é o seu castelinho onde pobre e periferia são coisas que existem por culpa do Estado e onde só um governo conservador, de direita, demo-tucano, salvará.
É mais um daqueles que entendem os projetos de redistribuição de renda, de garantia de uma renda mínima, de política externa, de agricultura familair, contra a desnutrição e mortalidade infantil, contra o analfabetismo, para emprego, salário mínimo e crescimento do PIB, do PAC, do PNH, do PDE, do Mais Saúde, da Petrobrás etc. É, pois, mais um que não enxerga o novo retrato sócio-econômico -- embora ainda em construção -- do novo Brasil.
É mais um que crê em 500 anos de probidade e que corrupção, prevaricação, escatofagia e sacanagem com dinheiro público são fenômenos deste atual governo federal. Não enxerga, pois, que há apenas a explosão de parte das coisas nebulsoas, ocultas e transparentes -- as quais sempre caracterizaram o nosso país --, tornando-as, pois, visíveis à mídia e à população, para que cobremos resultados e expurguemos os picaretas do cenário político.
É mais um que não gosta (?) do "jeito" bronco de Requião, nem do "jeito" tosco de Lula, e assim prefere as polidas e poliglotas ratazanas de outrora, que esquecem do povo e do erário, exortam o modelo neoliberal e endeusam o rei-mercado.
É mais um daqueles que acredita ser sempre (e tudo) culpa do Estado, mesmo num caso, por exemplo, por ele mesmo citado, das rodovias do interior do Paraná, as quais são privatizadas, pedagiadas e péssimas. Para ele, portanto, não cabe o argumento da privataria privatista. Crê que a iniciativa privada é inimputável.
Enfim, culpá-lo e condená-lo? A princípio sim, claro. Mas, como um bom cristão, poderia ficar com Lucas (23:34): "Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem".
E muito menos o que dizem.