A tragédia da morte é sempre trágica porque é uma tragédia.
Cristão talvez fajuto, não consigo imaginar uma morte sequer que não se qualifique como trágica.
Não consigo, pois, deixar de encarar o fato como um ato de foice a ceifar a vida – e nele, neste fatídico fato, foi-se a seiva elaborada da vida.
É lógico que o inesperado, o acaso, o infortúnio, o funesto da morte abrupta espanta e tonteia.
Mas como admitir uma hierarquia entre o desespero do acidente fatal, a angústia da contínua e crescente perda e a extrema dor da última despedida, como assim pungia um de meus maiores amigos cuja querida mãe velava nesta quinta-feira?
Logo, a mim o que enlouquece é a loucura de que aquela pessoa – "de repente, não mais que de repente", poetizaria Vinícius – não estará mais contigo, não estará mais ali, junto, ao lado, ao longe, ao muito longe, enfim, fisicamente presente podendo ser abraçada, tocada, beijada, vista e ouvida a qualquer momento, numa visita ou num telefone qualquer.
Custa-me muito querer entender tudo isso – e olha que não faltam
conversas, reflexões, aulas e exemplos dos mais variados tipos, formas e gostos
acerca desta ideia, como aqui e aqui já tratei.
Já pensei, vejam só, que o ideal seria nascermos com esta certeza: prazo de validade tatuado na bochecha.
E assim, como velas, íamos aos poucos apagando, apagando, apagando... mas logo penso no caos prático disto, afora, claro, toda a filosofia religiosa que se propõe a garantir um sentido disso tudo aqui e que, então, passaria a não ter significado e valor algum.
Portanto confesso ainda não aceitar o fato de ser "a única certeza da vida". Nem a desculpa sobre a tal "ordem natural das coisas" é capaz de sensibilizar-me quando o caso envolve os nossos velhos. Tão-pouco a tese do "destino divino" me conforta para as excepcionais situações.
Insisto, assim, em ser pragmático num assunto que nunca se encaixará no pragmatismo.
É, portanto, um problema de estrutura e método, e ao mesmo tempo de especulação do ser, cuja associação não consigo compreender, tal qual nas cartesianas "meditações metafísicas".
Ou, então, ideia assente nos pontos de vista da "vontade" e da "representação", nos quais Schopenhauer pretendia defender a tese da indestrutibilidade da nossa essência.
Para o filósofo alemão, a preocupação com tão breve espaço de tempo – com este "intermezzo momentâneo", com esta “mediação de um sonho efêmero de vida” – e com este apego à vida é irracional e cega.
Eu, porém, insisto em não admitir porque não me imagino aceitando, como num passe de lógica, nunca mais viver com as pessoas que tanto amamos, as quais, num qualquer segundo seguinte, se vão como um "sopro", diria Oscar.
Calma, lá nos céus da vida eterna haverá o definitivo (re)encontro... não, não, a minha fé, ainda que hesitante, assegura a vida eterna – a Vida –, mas não que vou ter com as pessoas amadas, viventes comigo aqui na efemeridade deste plano.
Até, quem sabe, realmente trate-se de ser mais ou menos espiritualizado, mais ou menos teológico, católico e cristão.
Mas, para além, também se trata de não aguentar não se acabar em prantos para o fato de que todas essas pessoas que tão íntima e intensamente convivemos passarão a não mais existir.
Ora, ora, por que então amamos tanto e tanto estes seres que nasceram e viveram conosco?
É por isso que às vezes gostaria mesmo de ter nascido filho de chocadeira.
Para depois viver no eterno celibato de um monge ermitão.
Sozinho, como uma vela.
Já pensei, vejam só, que o ideal seria nascermos com esta certeza: prazo de validade tatuado na bochecha.
E assim, como velas, íamos aos poucos apagando, apagando, apagando... mas logo penso no caos prático disto, afora, claro, toda a filosofia religiosa que se propõe a garantir um sentido disso tudo aqui e que, então, passaria a não ter significado e valor algum.
Portanto confesso ainda não aceitar o fato de ser "a única certeza da vida". Nem a desculpa sobre a tal "ordem natural das coisas" é capaz de sensibilizar-me quando o caso envolve os nossos velhos. Tão-pouco a tese do "destino divino" me conforta para as excepcionais situações.
Insisto, assim, em ser pragmático num assunto que nunca se encaixará no pragmatismo.
É, portanto, um problema de estrutura e método, e ao mesmo tempo de especulação do ser, cuja associação não consigo compreender, tal qual nas cartesianas "meditações metafísicas".
Ou, então, ideia assente nos pontos de vista da "vontade" e da "representação", nos quais Schopenhauer pretendia defender a tese da indestrutibilidade da nossa essência.
Para o filósofo alemão, a preocupação com tão breve espaço de tempo – com este "intermezzo momentâneo", com esta “mediação de um sonho efêmero de vida” – e com este apego à vida é irracional e cega.
Eu, porém, insisto em não admitir porque não me imagino aceitando, como num passe de lógica, nunca mais viver com as pessoas que tanto amamos, as quais, num qualquer segundo seguinte, se vão como um "sopro", diria Oscar.
Calma, lá nos céus da vida eterna haverá o definitivo (re)encontro... não, não, a minha fé, ainda que hesitante, assegura a vida eterna – a Vida –, mas não que vou ter com as pessoas amadas, viventes comigo aqui na efemeridade deste plano.
Até, quem sabe, realmente trate-se de ser mais ou menos espiritualizado, mais ou menos teológico, católico e cristão.
Mas, para além, também se trata de não aguentar não se acabar em prantos para o fato de que todas essas pessoas que tão íntima e intensamente convivemos passarão a não mais existir.
Ora, ora, por que então amamos tanto e tanto estes seres que nasceram e viveram conosco?
É por isso que às vezes gostaria mesmo de ter nascido filho de chocadeira.
Para depois viver no eterno celibato de um monge ermitão.
Sozinho, como uma vela.