Dizem que se morre de saudades.
No meu caso, acho que prefiro morrer a sentir saudade.
Provavelmente alguém já disse isso, se não disse, é porque nunca a sentiu.
Sentir a saudade dói porque não cura nem com a sua ausência: não existe "não-saudade" como medida terapêutica.
Isso porque nunca não se tem saudade, não importa o tempo em que se fique junto.
E não se enganem: a convivência é cruel porque ilude, porque fantasia uma eternidade que não dura senão aqueles momentos, sempre breves, sempre intensos.
E quando menos se espera, há a separação, há a distância, e tudo volta à normalidade de alguém sempre rebenqueado das saudades.
Saudades, pois, que não podem ser medidas, nem repostas.
Para o que só há respostas na arte dos finitos reencontros – e, por isso, a saudade pode sim ser tocada, afinal, a cada momento antes das partidas pegamos, abraçamos, beijamos e tateamos quem vai nos deixar.
Até que para ela voltamos, e dela somos inescapáveis.
É esta a dimensão absurda da saudade.
Que açoita, açoita, açoita, açoita.
E nunca para.