terça-feira, 5 de agosto de 2014

# toga & beluga


O estranho caso do juiz de direito que expressou em recente decisão a pífia verve ideológica que o sustenta (v. aqui e aqui) parece ser apenas mais uma prova a corroborar a tese de que o Poder Judiciário é o mais crítico e sórdido dos poderes da República.
 
Formado por uma casta que, de quando em vez, aceita um ou outro alienígena como membro, o Judiciário alcatifa-se sob os mais convenientes mantos para driblar a justiça.
 
Para soar seus atos como imparciais, aplica a letra fria da lei, sob uma exegese pobre e baldia, aplicada aos borbotões nos casos que envolvem a massa, aqui sempre num ritmo de produção em série e pouca séria.
 
Entretanto, para atender aos interesses das figuras secularmente reinantes nestes tristes trópicos, costuma tergiversar, inventar e carcomer o espírito da lei, fatiando-a e servindo à la carte, com esteio em tudo que é doutrina, jurisprudência ou mandinga disponível. 

São merecidos, claro, parênteses para sublinhar as admiráveis exceções, pois se conhece Brasil adentro vários magistrados que não apenas legitimam o cargo público, como também honram a nossa gente e a nossa nação, orgulhando-nos pela independência, competência e excelência.
 
Mas eis que na tal decisão judicial em comento, o juiz, de modo bastante tosco, parece gostar do maniqueísta discurso que reduz as pessoas de esquerda – sim, isso existe, para desespero dos apóstolos do fim da história e dos crentes da geleia geral – de modo a catalogá-las no reino da "hipocrisia", no caso de não serem pobres, ou da "inveja", nos fartos casos em que são (v. aqui breve digressão sobre essa lógica infame).
 
Não fosse pela raciocínio débil e infantil em si – o que porém não deve ser proibido, pois se trata do pleno gozo da "liberdade de expressão" e de "manifestação de pensamento" constitucionalmente previstas , o divino magistrado ultrapassa qualquer limite do legal e do razoável ao expressar a sua volúpia patrulheira em uma peça judicial que, técnica por excelência, jamais poderia admitir elucubrações de cunho tão pernóstico e burlesco.
 
Se há ou não razões para se sustentar a prisão dos jovens, que se debruce sobre o contexto fático-probatório e, com base na lei, se decida, independentemente dos holofotes e dos infaustos interesses em jogo, porquanto respeitantes do ordenamento nacional – a propósito, v. aqui e aqui aquela mui afamada peripécia magistrática.

E já igualmente gize-se: não há qualquer mínima chance de se apoiar manifestações vazias e bandidas – sejam de esquerda, de direita, de cima, de fora, do meio, meigas, doces, roxas, rosas, acres, ocres ou de que lado, tipo ou gosto forem – cujos fins exijam meios inconciliáveis com um Estado Republicano, Democrático e de Direito, como inclusive aquiaquiaqui colocamos.  
 
Porém, é inconcebível tratar a matéria com tamanha jocosidade e pequenez, com se fosse o magistrado partícipe de alguma rixa juvenil, em ambiente colegial, tudo sob os apupos das histéricas meninas em suas marias-chiquinhas.
 
Ou de sermão paterno, típico dos velhacos de outrora ou dos reaças de hoje, leitores contumazes da velha mídia e de seus "especialistas" – por sinal, um desses "especialistas", dono da versão brasileira da frase usada pelo juiz na sentença ("esquerda caviar"), recentemente tomou aqui uma sonora tosquiadela em rede nacional.
 
Ou, quem sabe ainda, de enfadonha ladainha eclesiástica que inundava os templos pré-Francisco, defensora dos fortes e opressores e promotora do status quo.
 
Este juiz, sob o cadafalso do Estado, pensa que a toga outorga-lhe o direito de não fazer e de não pensar o Direito.

Razão pela qual julga suficiente derramar sobre o papel timbrado do Judiciário todo o seu fanatismo, apunhando uma pena amotinada, amulética e amolecada.

E jurando tudo ser apolítico.