quinta-feira, 30 de junho de 2005

# a esperança venceu o medo (ou, a realidade supera a ilusão)


Estádio Jalisco, Guadalajara, México.

Difícil no mundo das Américas lembrar um cenário mais propício - talvez, apenas, o Maracanã, no Rio, e o Monumental de Nuñes, naquela cidade.

E foi lá, terreno eterno da nossa Copa de 70, que Antonio Lopes superou Zagallo, que Diego sobrepujou Félix, que Jancarlos igualou-se a Carlos Alberto, que Danilo e Durval fizeram muito mais que Brito e Piazza, que Marcão foi muito melhor que Everaldo, que Cocito foi Gérson, que Alan Bahia jogou mais que Clodoaldo, que Fabrício lembrou Rivelino, que Fernandinho recordou Jairzinho, que Aloísio chegou a ser Tostão, e que ele, Lima, chegou perto d’Ele.

Agora, já no início desta madrugada, deu na “Highlights” da ESPN, no “Repórter Cbn” da CBN, na FOX, na CNN e em todas as mídias de todos os lugares de todos os cantos da América: o Atlético ‘El’ Parananese, o Furacão, The Hurricane, El Huracán está na final da Taça Libertadores da América, o segundo maior campeonato de clubes de todo o mundo. Com um desempenho similar (ou melhor) ao exigido por uma Copa América, o Atlético demonstra raça, força, garra, vontade, vigor, pancada, contra-ataques, sobriedade, cabeçadas, carrinhos, cotoveladas, inteligência, motivação e, principalmente, uma superação psicológica e física sem igual no mundo do futebol nos últimos anos.
 
Hoje, o Atlético desperta idolatria e ódio. Hoje, o Atlético é um é um dos dois melhores clubes dos três continentes americanos.
 
Hoje, o Clube Atlético Paranaense é exemplo para todos que um dia quiserem também se planejar, se desenvolver e crescer para firmar-se como um dos grandes clubes do Brasil e, agora, das Américas.

 

quinta-feira, 16 de junho de 2005

# a saga de ouragan I - uma incrédula joaninha

Era uma vez.... A princípio, éramos cinco. Apreensivos e desconfortáveis, visto sermos estranhos àquele ninho, chegávamos àquele distante castelo para acompanhar algo mais do que um simples jogo de gamão, de sorte e de contas, embora a conta de sorte de Carlton, um sempre otimista, apostasse em um solitário empate que garantiria a classificação do fidalgo atleta-gladiador do nosso feudo, o feudo de Ouragan.
A postos e ainda a lamuriarmos a presença em solo adversário (que nos colocava à léguas do feudo doméstico), a ausência de um competente competidor (que nos colocaria em uma situação mais confortável, otimista e à altura das nossas tradições) e a desfaçatez e o menoscabo com que todo o grande Reino tratava-nos (que nos colocava palmos abaixo da mediocridade), tínhamos apenas o consolo de Mars Field, um nobre mais experiente nestes tipos de batalha e que fazia questão de nos estimular e oferecer um auto-exemplo de antigas glórias nos jogos daquele campeonato (dois títulos), a ratificar que a postura e o ímpeto impostos por Ouragan à partida seriam preponderantes e definiriam um salutar resultado final.
Antes do início, um lapso de alienação fez-me perceber algo estranho na mesa central da batalha. Como a miopia não me permitia conceituar aquilo, achei por bem ignorá-lo, embora meus bons ouvidos houvessem percebido certos sons parecidos com gargalhadas e risos fáceis advindos dele.
A desconfiança era grande. Em mais de quinhentos anos, era a primeira vez que um feudo longe do quadrilátero central desportivo do Reino Brasilis chegava as meias-finais de uma competição de tamanho porte, a envolver os melhores feudos dos maiores reinos do continente.
Já de início, a sopa de emoções, com sabores e ingredientes típicos de um imponente momento, contagiou a todos. MacJeff, a demonstrar uma angústia só, não sabia ainda que a noite seria longa, embora já visse com bons olhos azuis uma postura valente de seu gladiador, talvez um bom presságio, talvez uma falsa impressão – dúvida que logo no início se desfez com uma primeira vitória, ainda que comemorada timidamente.
Aos poucos, se tornava incômoda a presença daquela coisa por debaixo da grande mesa, tamanha era a sua debatidura. Deixei pra lá, e, mais ainda, ignoro-a quase por completo para saltar na segunda vitória do nosso gladiador, logo nos primeiros minutos depois do intervalo. Neste instante, Feat Black, um antigo quase-rival que naturalizou-se ouragane, também acredita que tudo está diferente, ainda que não saiba e não entenda direito como funciona tudo o que vê.
Passada a pausa regulamentar, a postura de ambos os gladiadores permanecia igual, o que se traduzia em uma clara supremacia da nossa parte. Volto a incomodar-me com aquela coisa agitada, penso até em chutá-la dali, mas sou refreado por Gran Fesse que, ademais, era o mais contido nas comemorações que já começávamos a iniciar, inclusive ao lembrar de fatos trágicos ocorridos no final do ano passado.
Durante parte do terceiro quarto da batalha, um sepulcral silêncio acomete a todos do castelo. De nossa parte, era a incerteza de saber se já tínhamos argumentos suficientes para brindarmos a glória.
O tempo passa, o tempo continua lentamente a passar, o tempo parece parar, o tempo pára. Ao faltar cinco minutos, entendemos as favas contadas, momento no qual eu, Carlton, Mars Field, Feat Black, MacJeff e Gran Fesse tiramos as nossas máscaras de apreensão e, finalmente, assumimos a magnífica vitória, a qual ao final realmente veio, sem maiores novidades - não obstante o momento em si já fosse obviamente marcado pelo ineditismo.
Extasiado, não resisto e, coxo, manco até a mesa de centro para saber o que era aquilo que tanto se debatia, que tanto tremia e que tanto se afligia no decorrer da batalha, que estava sempre procurando se esconder. Deduzo ser um agourento amuleto do adversário derrotado.
Eis que, ao aproximar-me, tête-à-tête, percebo não se tratar de algo parte da batalha. Na verdade, era uma figura terceira, era um ser que não fazia parte daquele momento e que não pertencia a nenhum daqueles dois feudos em combate.
Era uma joaninha. Uma desolada, triste, frágil, atônita e raivosa joaninha, de cores alvi-verdejantes, mascote-símbolo de uma tribo inimiga do nosso feudo (a tribo Kutoperêra) que, estupefata e muito deprimida, parecia não compreender o sucesso e a glória alcançada por Ouragan.
Hoje, Ouragan é um dos dois atuais símbolos do Reino Brasilis no mundo do gamão, o que nos permite sonhar com um passo ainda maior para, então, vivermos felizes para sempre.

quarta-feira, 15 de junho de 2005

# um fato sucumbe mil argumentos (ou, a vingança é um prato que se come frio)


Nada mais melindroso que um embate com cartas quase marcadas. Era a imprensa – marrom, branca, cor-de-rosa, regional, nacional, enfim, de todos os matizes e centros – a blasfemar e a desdenhar; era o clube praieiro a menosprezar; era, por fim, a própria massa rubro-negra a não acreditar no grande rubro-negro.

Um magnifíco jogo, marcado pela raça, pelo empenho, pela dedicação e pelo caráter dos atletas, transformou todas estas teorizações e prospecções dos últimos dias em pó. Uma tamanha superioridade do clube paranaense que fez encolher o aclamado melhor time do Brasil. Um resultado final que, antes inusitado, adquiriu um contorno normal, comum, esperado e obrigatório. Uma classificação às semifinais digna, valente e épica, que tira das manchetes o tufão Bob Jeff e coloca no lugar o furacão Atlético Paranaense.
 
Hoje, finalmente a comunidade americana reconhece – pois conhecer já conhecia, de outros carnavais... – esta mais nova obra da natureza, que com seu ímpeto de extrema veemência está a destruir o que passa e deixa, marcante, um importante rastro no cenário futebolístico americano.

Já se sabe que, desta noite de quarta-feira em diante, o Clube Atlético Paranaense fez incluir o estado do Paraná e a cidade de Curitiba no mundo da Conmebol, passando a constar no seleto rol dos mais importantes clubes da América de 2005, pois está, ao lado de river plate, são paulo e chivas, entre as quatro melhores equipes do mais grandioso torneio da América Latina - fato que sem dúvida ficará registrado na já consagrada história deste segundo maior campeonato de clubes do mundo.

Vida brava e longa ao mais novo furacão das américas, que, para surpresa de mexicanos e demais latinos, agora vem do Sul e não mais das costas do Atlântico Norte.

sexta-feira, 3 de junho de 2005

# a buzina

Os ensinamentos cristãos são de incomensurável valia, indubitavelmente.
Hoje, porém, é freqüente encontrarmos as pessoas a reclamar, a chorar, a protestar, sempre a dizer que nada está bom, que tudo vai mal, que isso, porque aquilo... sem parar para pensar que existe muita gente, uma contingente enorme que está em situação muito pior, aquém mesmo do mínimo vital necessário. O Brasil é um caso crasso disso, chegando à incrível proporção de 1 para 100 na situação extrema. Sabemos que não se faz certo, portanto, reclamar do que temos e não olhar ao redor, pois, se bem atentarmos à realidade, queixamo-nos à toa, sem direito, sem razão. Uma situação triste, provocada pela inescrupulosidade, pela incapacidade gerencial e pelo descomprometimento moral e social dos governantes e avalisado pelo sistema do capital - mas esta parte será discutida em um outro momento.
Eis que, ao final da tarde deste sábado, mas precisamente às dezoito horas, estava eu nas cercanias do estádio couto pereira, quando percebo que as coisas da vida e do homem podem ter uma solução. Sim, foi comovente.
Era uma tarde linda de sol, com calor e vento – um dia agradabilíssimo e ideal para ir à praia, aos parques ou mesmo para um churrasco com drinques até à amdrugada; era a décima rodada do campeonato brasileiro – ou seja, existiam ainda noventa e seis pontos em disputa; era um jogo contra uma equipe de Belém do Pará, o Paysandu – absolutamente nada contra, mas, convenhamos, sem passado e sem presente no mundo da bola.
Todavia, nada disso impediu que trinta mil pessoas la comparecessem, trocassem o ingresso por uma lata de nescau, acompanhassem ao (triste) jogo e na saída, depois da difícil vitória, fizessem uma festa, uma quase arruaça pelas cercanias, com as pessoas a gritar, a sacudir as suas camisolas verde-e-branca e a promover um imenso buzinaço nas principais ruas da capital. Em suma, um comportamento típico de classificação à semifinal de copa do mundo.
Penso estar sonhando, em delírios. Não queria acreditar naquilo. Páro o carro. Encosto-o. Vejo e ouço tudo aquilo. Sinto um enorme constrangimento. Embasbaco-me. Não quero achar estranho, mas não consigo conter-me e, finalmente, defino como lamentável. Um quadro comiserador no qual custo a acreditar.
Até que, quase recomposto, vem uma luz divina, a luz cristã vem repreender-me, a dar-me um basta naqueles meus pensamentos e me fazer enxergar todo o contexto no qual insere-se a presente situação. Faz-me ver os dois cenários mundanais distintos a nos separar. Arrependo-me. Quase choro. Admito o erro, a fraqueza pessoal, a falta de espírito de minha parte. Solidarizo-me.
E até um buzinadinha eu também dou.